Dada a «podridão dos hábitos políticos» referida há poucos meses por Rui Machete, o pouco que devemos acreditar das palavras de políticos são as que insultam os adversários, porque eles conhecem-se. E são frequentes, porque em vez de se concentrarem nas funções de gestão dos assuntos nacionais para benefício das classes mais desfavorecidas a fim de melhorar as suas precárias condições de vida, preferem entreter-se com jogos de coscuvilhices à maneira tradicional de peixeiras. Em vez de cada partido apresentar soluções alternativas melhores do que as dos seus rivais e assim se valorizarem aos olhos dos cidadãos mais atentos, limitam-se a demolir o outro pelo mínimo pretexto. E, desta forma, nós portugueses continuamos a avançar para a ruína total, total porque mesmo os muito rico s não sobrevivem quando deixar de haver trabalhadores que lhes mantenham as comodidades.
Estas palavras são uma ligeira reflexão acerca da notícia que se transcreve:
PS e PSD acusam-se mutuamente de “burla política”
Público. 25/10/2013 - 13:22. MARIA LOPES
Deputados Pedro Silva Pereira (PS), Duarte Pacheco e Luís Montenegro (PSD) trocam acusações durante debate do Orçamento rectificativo.
A discussão do Orçamento rectificativo em plenário ficou esta sexta-feira marcada pela dura troca de acusações entre as bancadas do PS e do PSD, protagonizada pelos deputados Pedro Silva Pereira, Duarte Pacheco e Luís Montenegro.
O socialista fez trocadilhos com o facto de o Parlamento estar a debater a terceira versão – “rectificação do rectificativo, que rectificou…” – do Orçamento para este ano e o sexto Orçamento em apenas dois anos. Mas depois Silva Pereira teve que ouvir Duarte Pacheco enumerar algumas das expressões usadas no tempo dos governos socialistas para as rectificações orçamentais: “Orçamento redistributivo, alteração orçamental, Orçamento suplementar”. Este Governo “está a falar a verdade aos portugueses”, apontou Duarte Pacheco, acusando o deputado socialista de, nesta matéria, “não ter currículo”, mas antes ter “cadastro”.
Pedro Silva Pereira afirmou que o Orçamento rectificativo “traz três verdades inconvenientes: falhanço da meta do défice, falhanço da recuperação da economia e do emprego, e falhanço do tão falado novo ciclo de investimento”.
“A tragédia que o país está a viver é o preço da burla política” da responsabilidade do PSD, apontou o deputado socialista. “Nós não precisávamos de ter tido esta ajuda externa. Os senhores quiseram-na, pois façam bom proveito dessa vossa escolha, que é filha da irresponsabilidade!”, exclamou Pedro Silva Pereira três vezes, elevando a voz acima dos protestos das bancadas da direita.
O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, pediu para fazer a defesa da honra da bancada e foi buscar argumentos a números dos governos de José Sócrates para atirar para os socialistas a acusação de burla política. Lembrou o OE que previa um défice de 2% num ano que acabou nos 10%; o aumento de salários da função pública e a baixa de impostos em 2009, ano de eleições, para depois reverter decisões em 2010. “Burla política é transferir para as gerações seguintes os encargos das PPP – parcerias público-privadas. Se houve burla política, o país paga hoje a factura”, afirmou Montenegro, justificando que a maioria está a “recuperar a credibilidade e a pagar a factura da irresponsabilidade do PS”.
“Contamos com o PS para poder recuperar o país. Mas não conte com o PSD para branquear os erros da governação do seu chefe, que, nos últimos dias, tem tentado branquear aquilo que é a sua responsabilidade com o presente e o futuro do país”, rematou Luís Montenegro.
As críticas de toda a oposição basearam-se sobretudo no “falhanço do Governo”, sustentado no argumento de que a austeridade imposta aos portugueses durante este ano – justificada com a necessidade de baixar o défice – afinal não serviu para nada: 2013 acabará com o mesmo défice registado no ano passado.
“O Governo estabeleceu a meta de 4,5%, mas nem a de 5,5% conseguiu cumprir. Depois de um brutal aumento de impostos, o que o Governo tem para mostrar é um défice igual ao do ano passado”, apontou o deputado comunista Paulo Sá.
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