quinta-feira, 25 de julho de 2013

POESIA DE ZÉLIA CHAMUSCA

Transcrição do blog Narciso dos Bosques seguida de NOTA:

Coragem? Ou cobardia?

Um outro dia
ouvi chamar coragem
à cobardia.
Que ironia…

A vil cobardia
é medo,
é fraqueza,
pois, apenas, atinge
os que não têm defesa,
a quem o sofrimento inflige!

É cobarde, é traidor
o que atinge o desprotegido,
a quem causa tanta dor,
fazendo deste
o alvo preferido.

O rico está isento
do tormento…
Na guerra, o rico foge;
Fica o pobre,
e, só este sofre…
É o pobre que de escudo serve
para proteger o rico a quem serve…

E, até nas intempéries,
Deus meu,
nas catástrofes naturais
são os pobres que sofrem mais…

É tal a injustiça
que até brada aos céus,
causando tantos escarcéus,
que por vezes chego a crer
que estou a enlouquecer…

Quando ouço chamar
coragem à cobardia
é tanta a ousadia
que já nem sei
se louca serei,
perante tanta cobardia
que só por ironia
será coragem
algum dia!...
«»

Zélia Chamusca


NOTA: Felicito a Amiga Zélia por nos trazer tópicos de meditação que desejo sejam bem aproveitados pelos leitores.
Não tenho a coragem de ousar comentar o valor da poesia, mas esboço uma ligeira consideração acerca do tema, aqui tratado com a liberdade poética, com base em observações ocorridas durante a vida. Nesta nem tudo acontece a preto e branco, havendo nuances, ao ponto de, muitas vezes, não se distinguir a diferença entre uma coisa e outra.
As palavras nem sempre traduzem as realidades e há actos de coragem que são loucura e insensatez e outros considerados cobardia que são reflexo de sensatez, serenidade, maturidade. Numa e noutra atitude, o essencial é agir com consciência, após uma, mesmo que curta, reflexão sobre a melhor solução e os possíveis efeitos da forma como decidirmos actuar.
O jovem rei D. Fernando era «corajoso» a tal ponto que o cardeal que lhe servia de mestre lhe chamava a atenção para a conveniência de ser mais contido nas suas acções demasiado exuberantes. O rei perguntou Mas o que é o medo, de que cor é? Ao que o mestre respondeu o medo é da cor da prudência.
Muita gente corre atrás de «ídolos passageiros» para alimentar a exibição a vaidade, a ostentação, multiplica as aparições em público e as palavras abundantes e sem conteúdo, numa aparente coragem falaciosa, mas que mais parece uma cobardia que procura ficar oculta pela poeira levantada pela exteriorização «publicitária».
Não se deve saltar de uma janela para a rua, mesmo em caso de incêndio, com o estilo com que se salta da prancha para a piscina.
Peço desculpa à grande poetiza, por este abuso de lhe ocupar espaço. Mas como comecei por dizer, temas como este merecem meditação e seria bom que surgissem muitos comentadores a aprofundar o assunto. Ler mais...

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