domingo, 30 de dezembro de 2012

SNS em dificuldades ou medicina preventiva ?

Francisco Moita Flores correu em defesa do secretário de Estado da Saúde que foi alvo de críticas à sua insensibilidade em relação aos portugueses com problemas de saúde, quando disse que «por mais impostos que possamos cobrar aos cidadãos, o SNS, mais tarde ou mais cedo, será insustentável. Não basta só cobrar impostos. É preciso que as pessoas façam alguma coisa para que recorram menos aos serviços». Tais críticas surgiram através da Comunicação Social e da Interner, em que se inclui o post anterior.

Transcreve-se o artigo de Moita Flores seguindo de NOTA:

Patetices
Correio da Manhã 29-12-2012. 1h00. Por: Francisco Moita Flores, Professor Universitário

Um ano que se arrastou com tantos disparates a colorir os dias cinzentos que vivemos não poderia terminar sem mais patetices para alegrar a quadra. E sendo um episódio pateta é bem revelador da crispação e do estado de espírito a que se chegou onde se inventam motivos para estar em desacordo.

A crise tornou-nos especialistas na discórdia. Nem que seja por embirração ou amuo. Desta vez, ouvi o homem falar. Foi o Secretário de Estado da Saúde. A propósito do Serviço Nacional de Saúde, alertou para o facto de termos de contribuir para a redução dos custos assumindo comportamentos de menor risco. E recordou: gastam-se 500 milhões de euros por causa das doenças associadas ao tabaco, 200 milhões pelas que resultam do excesso de álcool e só em medicamentos para diabéticos a coisa chega aos 100 milhões. Percebi que estaria a falar de medidas preventivas, sugerindo que se reduzisse o consumo de cigarros, álcool e doces. Ouvi o Professor Fernando Pádua nos seus programas sobre o coração dizer isto milhares de vezes.

Em Portugal a maior causa de morte são as doenças cardiovasculares, coisa que leva especialistas a alertarem para o excesso de consumo destes bens. Achei o discurso sensato e repetitivo. Esqueceu-se do excesso de consumo de gorduras, mas dei de barato o lapso. Qual não é o espanto quando, na hora a seguir, a TSF retransmite as mesmas palavras e a resposta de alguém de uma Associação de Utentes dos Hospitais Públicos em que denunciava a conversa como típica da política de direita. Nem mais. Daí ao habitual burburinho político com as declarações do homem foi um instantinho e choveram os mais desencontrados discursos.

A tempestadezita no copo de água que tanto prezamos e que é o sinal da desorientação geral no que respeita a saber aquilo que se discute. Pouco importa. Importante é inventar um arraial sobre tudo e nada. Neste caso descobrindo que o País fecha 2012 com uma verdade tonta: uma boa política de esquerda apoia mais cigarros, álcool e doces. E sabendo-se que também não é assim, ficamos à espera que 2013 traga um pouco mais de sensatez e menos quezília a um país que tanto precisa de inteligência e já produziu em excesso todas as patetices.


NOTA: Compreende-se que Moita Flores está politicamente correcto ao procurar agradar aos sociais-democratas para conseguir a vitória nas autárquicas de Oeiras. Mas o SE da Saúde, como se vê da frase transcrita, não referiu claramente o conselho aos cidadãos para usarem prioritariamente a medicina preventiva, para benefício da sua própria saúde. Pelo contrário, o que pode ter sido uma explicação infeliz por parte do SES, e que chocou foi a argumentação com base nas despesas e a referência aos nossos impostos. Isso é que pode ser considerado «patetice», uma obsessão neurótica pelo dinheiro que, para o cidadão comum, pode ser traduzido: Evite ir ao SNS, aguente o seu incómodo e deixe para o SNS a passagem da certidão de óbito.

A criticada falta de compreensão e de sensibilidade para os portugueses com problemas de saúde não constitui um aspecto de luta inter-partidária mas de um apelo a que os governantes não se esqueçam do juramento feito na tomada de posse de lealdade aos cidadãos e às suas funções de defender, com permanência e perseverança, os interesses nacionais, dos cidadãos, contribuindo para o seu bem-estar e segurança. Sendo o Estado constituído por três pilares – população, território e organização política – não se deve esquecer que o factor principal é o primeiro, as pessoas, e estas não devem ser lembradas apenas durante as campanhas eleitorais.

Imagem de arquivo

4 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

É tudo muito bonito, a ideia de evitar, mas o engraçado é que nem o secretário de Estado nem o Moita Flores evitaram a queda de cabelo, a alopecia é uma doença registada.

Venho fazer os meus votos para que se esquive aos assaltantes fiscais e já agora também ao napalm.

Desejo um FELIZ ANO NOVO

A. João Soares disse...

Caro Taxi Pluvioso,

Não será tão difícil evitar o napalm e a arma nuclear ou os drones, como o é esquivar dos assaltantes fiscais que estão a criar meios muito complexos de controlar cada passo cada despesa do pobre cidadão. Precisam de muito dinheiro para suportar a pesada máquina burocrática, a numerosa fauna dos gabinetes ministeriais e os tentáculos do polvo nas fundações, nas PPPs, nos observatórios , nas denominadas empresas públicas , nas instituições criadas para dar abrigo a amigalhaços do regime, etc.

Para ter uma noção do controlo que o Estado nos está a preparar recorde esta frase da Wikipédia, sobre o livro «1984» de ficção da década de 1930. O "Grande Irmão", "Big Brother" no original, é um personagem fictício no romance 1984 de George Orwell.
Na sociedade descrita por Orwell, todas as pessoas estão sob constante vigilância das autoridades, principalmente por teletelas (telescreen), sendo constantemente lembrados pela frase propaganda do Estado: "o Grande Irmão zela por ti" ou "o Grande Irmão está-te observando" (do original "Big Brother is watching you"). A descrição física do "Grande Irmão" assemelha-se a Josef Stalin ou Horatio Herbert Kitchener[carece de fontes].


Agora a «autoridade» pode saber onde estamos e por onde andamos atrav+es do telemóvel que dá , a curtos espaços, indicação das coordenadas da nossa posição, os vídeos das portagens, das ruas, das lojas, bancos, e estabelecimentos públicos, do Multibanco etc. Agora as Finanças passam a controlar onde e quando gastamos o nosso dinheiro, através das facturas electrónicas de transmissão imediata.
Nada passa neste crivo. Estamos mais amarrados do que no livro de ficção de George Orwell.

Caro Amigo, temos de procurar viver o melhor possível dentro desta clausura, até termos raiva suficiente para destruir as grilhetas, como fez Espártaco, o escravo romano que se revoltou à frente de muitos outros escravos.

Abraço e Bom Ano
João

Táxi Pluvioso disse...

Eu estou convencido que a treta das faturas no IRS (para deduções, dizem) é para abrir caminho a uma obrigatoriedade, futura, de que o contribuinte explique cêntimo por cêntimo onde gastou o seu rendimento mensal. E já agora também deveria ser obrigatória todos terem webcam para que possam ser seguidos em casa. Lembro-me, aqui há uns anos, no calor do terrorismo, a polícia alemã fazia isso para espiar os radicais islâmicos, um tribunal negou provas assim obtidas, mas o trabalho policial não é primordialmente recolher provas, mas sim recolher informação (depois trabalhada para poder ser usada em tribunal).

A. João Soares disse...

Caro Taxi Pluvioso,

Nisto há interesses não confessados além da vontade de sacar o máximo ao bolso dos contribuintes. Só tem desconto no IRS quem fizer despesas não essenciais em valor que só está ao alcance dos tubarões.

A obrigatoriedade das facturas, com identificação do cliente, permite ao poder e às autoridades policiais e judiciais, o controlo de cada passo dos cidadãos e dos residentes, além de detectar a fuga aos impostos daqueles que fazem biscates e têm actividade da economia paralela. As finanças irão chamar contribuintes: diga lá como é que, tendo um rendimento de 100, fez despesas de 160. Terá de pagar imposto peço total do rendimento que vamos calcular por estimativa, mais a multa por não ter declarado. Se não pagar dentro de 30 dias vamos processar pelo crime de fuga ao fisco.

Abraço
João