sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

VIVER É MEXER

 (Public em DIABO nº 2304 de 26-02-2021. pág 16. Por António João Soares)

 Quando alguém tem um desmaio, as pessoas que tentam a reanimação ficam felizes quando a vêem fazer qualquer movimento. Por isso tem soado mal quando se ouve dizer que Portugal deve ser governado na continuidade. Mas quando se encontra a sofrer de inacção, hesitação, estagnação, etc. não está vivo e há que fazê-lo mexer, para viver.

A vida exige acção e esta deve ser racional, inteligente, sensata, principalmente quando se tem responsabilidade perante outros. E a vida não pode significar promessas, mesmo que bem intencionadas. Precisa de acção com resultados positivos, o que nem sempre acontece. Mas, por vezes, vemos empresários que fazem perfeito uso deste conceito.

Li há pouco que a empresa Trim NW dispõe de linhas de produção de têxteis  destinados à indústria automóvel e que, com o enfraquecimento do negócio devido à pandemia, decidiu dedicar algumas das suas linhas de fabrico à produção de “não-tecido” de batas hospitalares, dada a grande procura destes produtos no socorro aos muitos infectados com o Covid-19 que têm acorrido a hospitais e outros postos de socorro.

Em poucos meses, teve resultados muito animadores, ao ponto de ter chamado pessoal que tinha suspendido por falta de trabalho e de ter aumentado as vendas, quer no País quer em exportação. A empresa adaptou-se às necessidades de prevenção da pandemia, por forma a não ter que parar a produção habitual. As condições de trabalho foram muito condicionadas, apenas se mantendo na oficina o pessoal indispensável; aquele que se dedica a trabalho burocrático actua em teletrabalho, em condições protegidas de eventual contágio. Os lucros são compensadores, apesar do curto período de tempo a funcionar.

Esta posição de gestor deve ser seguida por todo o responsável por empresa ou instituição. Deve ser permanente a observação do desenvolvimento do negócio, ajustar o funcionamento aos factores internos e externos por forma a não deixar enfraquecer os resultados. E tomar as melhores decisões, incluindo a alteração das prioridades e a adopção de aproveitamento de novas oportunidades que surjam.

Neste caso, tinha havido dispensa de pessoal, mas ao surgir a possibilidade de o fabrico de “não-tecido” poder continuar a funcionar e com mais actividade perante a necessidade surgida na actividade da saúde pública, houve a decisão inteligente de chamar o pessoal dispensado e de estruturar o trabalho de forma segura quanto a contactos perigosos e de atender os clientes nacionais e estrangeiros. E com estas alterações, em pouco tempo, os resultados financeiros foram animadores.

Não conheço a empresa nem os seus proprietários, mas, ao saber do caso, pensei neste bom exemplo a seguir pelos governantes neste período de crise pandémica e no imperioso esforço de recuperação para a época seguinte. Quem tem responsabilidade de governar, deve ter saber e também sabedoria, que são coisas diferentes. O saber é constituído pela ciência aprendida na escola e nos livros e traduzida num diploma que nem sempre é algo de confirmado na prática, até porque a sua aquisição pode ter sido enganosa ou pouco apoiada por boa reflexão e realismo. A sabedoria é um dom que nos permite olhar para a realidade de forma prática e ajuda a discernir qual a melhor atitude a seguir e adoptar nos diferentes contextos da vida. Quando assente em bom saber e em observação dos bons exemplos das realidades práticas, constitui uma garantia de eficiência prática inquestionável.

Por isso, considero que os bons factos como o atrás referido devem ser do conhecimento de todos os verdadeiros detentores da sabedoria ou a isso candidatos.

Com pessoas dotadas de sabedoria, ou a humildade de quererem adquiri-la, esta pandemia podia não ter chegado ao estado a que chegou nem haver tantos confinamentos, nem aldrabices nas vacinas, nem tantos estados de emergência, nem tanto prejuízo na economia, nem tanta mentira e promessas falsas. ■


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