domingo, 17 de janeiro de 2021

NATAL SEM EXTRAVAGÂNCIAS

 (Public em DIABO nº 2296 de 31-12-2020 pág 16. Por António João Soares)

No dia 16, “o Papa Francisco desejou que as restrições e dificuldades decorrentes da pandemia possam servir para descobrir um Natal mais autêntico e menos consumista”. Pretende com este conselho levar as pessoas a deixar de exagerar na comemoração de datas em que dão largas aos apetites animalescos, por vezes em prejuízo da própria saúde e, pelo contrário, a concentrar-se nas lições que devem ser extraídas da história que justifica a celebração de tal dia.

No caso da natividade de Jesus Cristo, convém reflectir nos conselhos que hoje podemos recordar com a leitura da Bíblia, dos quais merecem destaque os que se referem à justiça social, ao amor aos outros que devem ser tratados como irmãos, sem ódios nem invejas, sem vaidades nem prepotências, sem violências nem ambições, etc.

A única vaidade, sem ser propagandeada, deve ser a proveniente do dever cumprido, da competência na execução das funções que lhe competem, dos bons resultados conseguidos com trabalho sério e honesto. Mas esse prazer deve ser puramente pessoal e não servir de propaganda para se sobrepor aos outros, mas antes de lhes servir de exemplo para melhorarem o seu comportamento. Dessa forma, a Humanidade melhoraria em todos aspectos, com mais paz, harmonia e progresso.

A tendência para festejar as datas com despesas desnecessárias e exageradas é um vício em que as pessoas entram em parte compelidas pelas empresas que, com isso, procuram realizar a sua ambição de lucros, riqueza e maior domínio sobre a sociedade em que vivem. E assim se formaram as fortunas dos milionários mais perigosos para a humanidade, abusando dela como coisas e não tendo respeito pelas pessoas. Neste aspecto, há que fazer referência a algumas excepções que, com o seu poder económico, contribuíram para melhorar a qualidade de vida de cidadãos. É, por exemplo, o caso de António de Sommer Champalimaud (1918-2004), que criou uma fundação destinada a inovação científica e tecnológica com a generosa finalidade de “levar os benefícios da ciência biomédica a quem mais precisa”.

A instituição hospitalar que criou é uma marca indelével em Portugal e no Mundo que se caracteriza pelo desenvolvimento de programas avançados de investigação biomédica e pela prestação de cuidados clínicos, numa perspectiva internacional. Ao contrário de políticos actuais que procuram criar nome com palavras balofas sem deixar resultados positivos, Champalimaud foi um Homem que culminou a sua vida na concretização de uma determinação ímpar que o acompanhou sempre e tornará o seu nome imortal pois irá perpetuar no tempo o seu espírito independente, criativo e inovador. A Fundação, através da actuação do Centro Champalimaud, pretende ser líder mundial na inovação científica e tecnológica com o objectivo último de prevenir, diagnosticar e tratar a doença, orientada por uma postura de desafio constante e contribuindo para uma sociedade mais desperta para os problemas de saúde que atingem a humanidade.

Daqui se retira a conclusão do alerta do Papa. A propósito da celebração do Natal, devemos sair do consumismo e dar mais importância à humildade, à simplicidade em que o menino Jesus nasceu e cresceu e aos conselhos que transmitiu aos humanos. A vida tem significado em cada minuto, em cada gesto ou passo que se dá, e devemos ter o cuidado de ser leais aos nossos sentimentos e afectos e procurarmos ser sempre coerentes com os nossos propósitos humanitários, amando os outros como a nós próprios. O exemplo deste cidadão português vem a propósito do conselho do Papa Francisco. Quer o que nos ensinou Jesus, quer o exemplo que nos deu este cidadão devem ser temas de meditação que nos afastem de perder tempo com ninharias e politiquices e nos aproximem da virtude, procurando reduzir e eliminar o mal do Mundo para melhorar a vida da humanidade, começando pela sociedade em que vivemos, com os meios possíveis ao nosso alcance ou com contactos pessoais. Nós somos o Mundo e não podemos deixar de torná-lo melhor. ■


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