(Public em DIABO nº 2296 de 31-12-2020 pág 16. Por António João Soares)
No dia 16, “o Papa Francisco
desejou que as restrições e dificuldades decorrentes da pandemia possam servir
para descobrir um Natal mais autêntico e menos consumista”. Pretende com este
conselho levar as pessoas a deixar de exagerar na comemoração de datas em que
dão largas aos apetites animalescos, por vezes em prejuízo da própria saúde e,
pelo contrário, a concentrar-se nas lições que devem ser extraídas da história
que justifica a celebração de tal dia.
No caso da natividade de Jesus
Cristo, convém reflectir nos conselhos que hoje podemos recordar com a leitura
da Bíblia, dos quais merecem destaque os que se referem à justiça social, ao
amor aos outros que devem ser tratados como irmãos, sem ódios nem invejas, sem
vaidades nem prepotências, sem violências nem ambições, etc.
A única vaidade, sem ser
propagandeada, deve ser a proveniente do dever cumprido, da competência na
execução das funções que lhe competem, dos bons resultados conseguidos com
trabalho sério e honesto. Mas esse prazer deve ser puramente pessoal e não
servir de propaganda para se sobrepor aos outros, mas antes de lhes servir de
exemplo para melhorarem o seu comportamento. Dessa forma, a Humanidade
melhoraria em todos aspectos, com mais paz, harmonia e progresso.
A tendência para festejar as
datas com despesas desnecessárias e exageradas é um vício em que as pessoas
entram em parte compelidas pelas empresas que, com isso, procuram realizar a
sua ambição de lucros, riqueza e maior domínio sobre a sociedade em que vivem.
E assim se formaram as fortunas dos milionários mais perigosos para a
humanidade, abusando dela como coisas e não tendo respeito pelas pessoas. Neste
aspecto, há que fazer referência a algumas excepções que, com o seu poder económico,
contribuíram para melhorar a qualidade de vida de cidadãos. É, por exemplo, o
caso de António de Sommer Champalimaud (1918-2004), que criou uma fundação
destinada a inovação científica e tecnológica com a generosa finalidade de
“levar os benefícios da ciência biomédica a quem mais precisa”.
A instituição hospitalar que
criou é uma marca indelével em Portugal e no Mundo que se caracteriza pelo
desenvolvimento de programas avançados de investigação biomédica e pela
prestação de cuidados clínicos, numa perspectiva internacional. Ao contrário de
políticos actuais que procuram criar nome com palavras balofas sem deixar
resultados positivos, Champalimaud foi um Homem que culminou a sua vida na
concretização de uma determinação ímpar que o acompanhou sempre e tornará o seu
nome imortal pois irá perpetuar no tempo o seu espírito independente, criativo
e inovador. A Fundação, através da actuação do Centro Champalimaud, pretende
ser líder mundial na inovação científica e tecnológica com o objectivo último
de prevenir, diagnosticar e tratar a doença, orientada por uma postura de
desafio constante e contribuindo para uma sociedade mais desperta para os
problemas de saúde que atingem a humanidade.
Daqui se retira a conclusão do
alerta do Papa. A propósito da celebração do Natal, devemos sair do consumismo
e dar mais importância à humildade, à simplicidade em que o menino Jesus nasceu
e cresceu e aos conselhos que transmitiu aos humanos. A vida tem significado em
cada minuto, em cada gesto ou passo que se dá, e devemos ter o cuidado de ser
leais aos nossos sentimentos e afectos e procurarmos ser sempre coerentes com
os nossos propósitos humanitários, amando os outros como a nós próprios. O
exemplo deste cidadão português vem a propósito do conselho do Papa Francisco.
Quer o que nos ensinou Jesus, quer o exemplo que nos deu este cidadão devem ser
temas de meditação que nos afastem de perder tempo com ninharias e politiquices
e nos aproximem da virtude, procurando reduzir e eliminar o mal do Mundo para
melhorar a vida da humanidade, começando pela sociedade em que vivemos, com os
meios possíveis ao nosso alcance ou com contactos pessoais. Nós somos o Mundo e
não podemos deixar de torná-lo melhor. ■
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