(Public em DIABO nº 2346 de 17-12-2021, pág 16, por António João Soares)
O neurocientista Michel
Desmurget publicou em França em Agosto de 2019 um livro que, desde Outubro, se
encontra em Portugal lançado pela Contraponto com o título «A Fábrica dos
Cretinos Digitais». O autor deu uma entrevista a Marta F. Reis no jornal i em 03-12-2021,
com o total de 5.628 palavras e que merece atenta leitura. Logo que se
referiu à televisão e outros órgãos de comunicação social que se preocupam
apenas com ninharias, despertou a minha concordância, que há mais de 20 anos
não me deixa perder tempo com tais programas e tenho saudades de quando tinha
programas esclarecedores e instrutivos sobre muitos aspectos com interesse para
os cidadãos, como os programas sobre agricultura, segurança rodoviária,
cultura, literatura, história, etc, etc.
E ele não está só, pois
vi há pouco a notícia de que «O Japão formaliza o Novo Sistema Educacional»
enquanto a China já tem a funcionar um que vai preparar o futuro de pessoas
muito válidas para uma potência que todo o globo admirará.
O entrevistado teve o
cuidado de estudar bem a vida em Portugal e faz citações da superficialidade da
preparação dos nossos jovens que, segundo o conceito dele, contraria a sua
determinação de «combater o “mito” de que a tecnologia está a tornar os
“nativos digitais” mais espertos, acredita que não há nada a reescrever
e que olhar para o digital como progresso pedagógico é uma “treta”». Essa treta «aproveita “fraquezas”
do cérebro para atrair e prender o mais tempo possível os utilizadores». Devido
ao esquema em curso, o que as crianças fazem com o digital não interessa
realmente para a sua formação nem para a preparação do futuro da sociedade
nacional. Na realidade usam os ecrãs para entretenimento, muitas vezes com
prejuízo de uma melhor ocupação do tempo de forma útil para cada um e para o
ambiente em que se vive. A contenção consequente da pandemia, com a retenção em
casa contemplando o ecrã e a prática do ensino à distância, prestam-se à
depreciação de uma educação eficiente e com bons resultados.
O actual uso excessivo
dos telemóveis tem um efeito que pode comparar-se às drogas em termos de
«adição ou alienação». É frequente verem-se famílias e grupos que, em vez
de estarem em convívio e diálogo, muitos estão ausentes e alienados fixos aos
seus ecrãs, sem o mínimo aspecto de motivo que possa interessar aos parceiros
do grupo. Mesmo que se trate de «adição patológica» e que se considere que
afecta apenas 1 ou 3% das crianças, isso já representa milhões de crianças em
todo o mundo o que já é preocupante e essa percentagem sobe com o tempo e a
idade.
Manter o cérebro activo
constitui o principal meio de adiar o envelhecimento, bem como as boas relações
familiares e de amizade, e ter uma actividade com interesse para a sociedade,
com respeito a regras de ética, de moral e de transparência, bem como o
exercício físico que acciona músculos que, tal como o cérebro, precisam de
funcionar senão estiolam e deixam de cumprir as suas funções. Ora, o mau uso
continuado do «ecrã» produz esse efeito no cérebro, tal como as drogas em
termos de adição e alienação, podendo chegar a aspectos patológicos de difícil
recuperação.
As televisões e as redes
sociais, para ocuparem o tempo com o máximo de clientes abusam de programas
atractivos muitas vezes contrários aos desejáveis efeitos da melhor formação ética
e social e tornando-os chamariz de crianças que acabam por lhes dedicar mais
tempo do que aquele que aplicam nos temas e trabalhos escolares. Assim aparecem
os cretinos digitais, para quem o emprego ideal é aquele em que tudo se resolve
com um toque no botão.
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