(Public em DIABO nº 2338 de 22-10-2021, pág 16. Por António João Soares)
Os animais dão boas lições aos humanos. Costumo referir-me a eles como «ditos irracionais», porque os seres humanos de há muitos séculos, pelo facto de não saberem comunicar com eles, consideraram-se a si próprios racionais e a eles irracionais. Porém, sob muitos aspectos, eles dão-nos lições de muita racionalidade na sua forma de viver e no seu relacionamento familiar e social.
Vi há pouco uma frase de Winston Churchill que me veio confirmar isto. Diz que: «A diferença entre os humanos e os animais é que os últimos nunca permitem que um estúpido lidere a manada».
Realmente todos vídeos que tenho visto de deslocações no terreno, entre regiões distantes durante migrações, para a água ou para procura de pastagem, seguem sempre de forma disciplinada e numa espécie de formatura militar. Nas suas relações familiares e de amizade, tratam-se como se fossem da mesma espécie e da mesma família, no carinho com as crias menos independentes e no socorro a feridos e deficientes, mostram respeito e ternura.
Entre os humanos, o relacionamento entre os elementos de um grupo, clube desportivo ou partido político, constatamos que o egoísmo e a ambição são quase sempre a primeira prioridade, colocada acima do interesse colectivo. E a colaboração nem sempre prima pela verdade, a franqueza e a total abertura que facilite a convergência necessária para a total harmonia de acções orientadas para um objectivo colectivo. Temos muito que aprender com os animais.
Encontrei há poucas horas uma notícia que referia que o líder de um partido estava inteiramente às escuras acerca dos equívocos entre o PR e o Governo sobre a substituição do CEMA, enquanto o seu porta-voz para a Defesa estava dentro dos pormenores e que tinha articulado informação com o próprio ministro socialista, mas nunca tinha transmitido qualquer informação ao chefe de quem, teoricamente, é porta-voz.
Dessa falha de leal colaboração com verdade, lealdade e espírito de convergência, resultou que o porta-voz prestou declarações públicas e comentou o caso na televisão (TVI) em moldes contraditórios com o que o representante do grupo parlamentar do seu partido defendeu noutra estação de televisão (SIC) precisamente sobre o mesmo assunto. Enfim, um grupo em que não há transparência e partilha de informação, muito longe do espírito que Winston Churchill atribui a uma «manada». Como pode um partido ter esperança de vir a governar o País se entre os seus elementos com mais responsabilidade não existe abertura total acerca do que sabem sobre um assunto que se transformou numa crise nacional muito falada? É claro e lógico que o líder do partido, quando teve conhecimento da realidade, entrou em rota de colisão com o seu porta-voz para a Defesa por este nunca o ter informado sobre o assunto com o qual estava a par do que vinha a passar-se. Um membro de uma equipa não deve ter uma agenda paralela ao Chefe, mantendo este na ignorância das realidades de que deve estar informado.
Segundo Winston Churchill, O Chefe deve ser dotado de boa inteligência e isto aplica-se aos chefes das pirâmides subordinadas da estrutura do grupo que ao serem escolhidos pelo chefe da «manada» devem ser bem seleccionados segundo as suas capacidades para que haja segura garantia de que merecem ser empossados.
Em conclusão, devemos evitar a prepotência de menosprezar os animais ditos irracionais e observar bem as suas virtudes de ética social e extrair delas ensinamentos que, bem aplicados às nossas realidades, nos podem ser muito úteis. Mas quando chegarmos a essas conclusões, não basta recitá-las, pois a vantagem só se obtém pelo comportamento mais adequado.
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