(Public em DIABO nº 2324 de 16-07-2021, pág 16 por António João Soares)
Já aqui coloquei mais de uma
dezena de textos em que expunha cuidados na saúde dos idosos, a que deve ser
dada muita atenção, quer pelos próprios, quer por familiares ou funcionários de
lares. Um dos mais recentes (em 13-11-2020) aconselhava a manter o cérebro
activo para aumentar a longevidade e adiar a chegada da doença de Alzheimer e
outras perturbações cognitivas.
Agora, encontrei a última
entrevista do psiquiatra António Coimbra de Matos, falecido há dias, que, ao
fazer 90 anos em 05-01-2020, em conversa com jornalista, focou aspectos muito
importantes para a saúde mental, cujos efeitos são mais visíveis e preocupantes
na parte final da vida, nomeadamente, a depressão.
Somos um povo com tendência
para nos virarmos para o passado, para a saudade, o que nem sempre é benéfico
quando traz más recordações de erros cometidos ou de ofensas recebidas que
perturbam a paz mental, e a raiva ou o espírito de vingança. Além de já não
terem utilidade, são maléficos para a tranquilidade de espírito. Em vez disso,
deve desenvolver-se a capacidade de projectar o futuro e de realizar acções que
dêem prazer e que sejam úteis para nós, para familiares, amigos e, tanto quanto
possível, para toda a humanidade.
Estes temas deviam ser mais
debatidos, de forma mais alargada, com as populações menos letradas, que estão
presas quase exclusivamente ao futebol. Devem estar mais afastadas do passado e
de ninharias e, de forma mais saudável, melhor focadas nos factores reais que
condicionam o presente e o futuro. O passado formou-nos mas já passou e, agora,
o mais importante é encarar o amanhã, sem alimentarmos muito medo, que provoca
doença e depressão, mas querermos, com forte esperança, que não sucedam
desgraças e termos uma vida melhor, e isso ajudará a obter melhor saúde mental.
É bom evitar os sofrimentos
das lembranças do passado e gozar a vida naquilo que ela nos oferecer de
melhor.
Segundo o psiquiatra, isto
deve ser iniciado na educação nas creches e nas escolas desde o início da vida,
para as crianças adquirirem hábitos de respeito para com os outros e para a sua
própria formação psíquica. O que se aprende nessa tenra idade fica para sempre.
Os limites da realidade física aprendidos na meninice acompanham pela vida
fora.
Como psiquiatra, criticou o
consumo excessivo de antidepressivos e de ansiolíticos que está a ser difícil
de travar, por os médicos considerarem mais fácil colaborar com as empresas
farmacêuticas do que perder alguns minutos com o cliente, a conversar sobre o
problema que o perturbou e sugerir a solução de o resolver, pelo diálogo ou com
comportamento adequado, pacificamente, sem perturbação mental. Ou sugerir a
consulta de psiquiatria. Os medicamentos são constituídos por produtos químicos
que, de certo modo, são nocivos para o organismo e devem ser consumidos apenas
no mínimo indispensável.
Embora se possa dizer que “a
depressão é uma reacção à perda de afecto e o luto é a reacção à perda de um
objecto”, pode haver depressões por situações de desgosto como, por exemplo,
numa situação de exploração laboral. Em casos de abusos patronais convém
procurar uma solução dialogada antes que a doença atinja dimensão paralisante.
Tal como a actividade física
desenvolve a musculatura, também “a acção da vida psíquica e intelectual
prolonga a vida mental em melhores condições, adiando o envelhecimento e a
chegada do Alzheimer ou de outras doenças características da idade avançada”,
como consta no “post” atrás referido “Manter o cérebro activo aumenta a
longevidade”.
Quando, há dias, soube do
falecimento de um camarada pouco mais novo, fiquei desejoso de contactar com os
ex-colegas de curso de infantaria de 1955 para, nos dias que nos restam, não
vivermos deprimidos com a nossa solidão. Pensei organizar uma lista dos ainda
vivos, com os seus contactos. Depois dos anos da guerra, temos vivido afastados
e peço a quem me possa ajudar a organizar essa lista para nosso conforto
psíquico. ■
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