Fogos. Como fazer a limpeza da floresta!
(Publicado no semanário O DIABO em 12 de Setembro de 2017)
Acerca dos incêndios florestais que estão a destruir a área do pinhal que existe desde Abrantes a Chaves, aparecem muitos teóricos a falar daquilo que parece desconhecerem. É indispensável procurar compreender a razão de, nos anos 40 do século passado, as matas só muito raramente sofrerem fogos enquanto, hoje, estes não pararem de destruir o interior do país desde o início ao fim da época estival. E são sempre fogos de grande extensão difíceis de dominar.
A meio do século passado, como pude observar continuamente durante anos, as matas estavam sempre limpas e sem possibilidade de alimentar fogos extensos. Trabalhadores que passavam lá o dia cozinhavam lá os almoços sem necessidade de cuidados preventivos especiais, enquanto continuavam a trabalhar, porque não havia material combustível. Porquê? Esse é que é o problema. É indispensável conhecer a situação de então, para se poder compreender o que levou ao que se passa hoje e procurar uma solução eficaz para a realidade actual. Algo mudou muito na vida rural.
Nessa época, a agricultura não usava máquinas e gastava poucos adubos, porque havia uma utilização sustentada de juntas de bois e as terras eram fertilizadas por estrume, à base de produtos das matas preparados nas camas do gado muito diverso, ou por apodrecimento em medas regadas pela chuva, pelo orvalho e por água. Para isso era aproveitada toda a caruma e o mato que era «roçado» regularmente na época em que a mão de obra era menos necessária para tratar de sementeiras, regas e colheitas. Nada disso era feito para «limpar a mata», mas sim por ser necessário para o processo agrícola. A rama dos pinheiros raramente secava, porque eles eram aparados para ser obtida lenha para o forno e a cozinha e para obter estacas para apoio de videiras, feijoeiros, tomateiros, ervilheiras e plantas de pequeno porte. À semelhança de os bois serem substituídos por tractores, do estrume ter sido substituído por adubo também estas estacas para plantas foram substituídas por arame.
Para agravamento advindo do problema da evolução do processo agrícola em que a mata deixou de ter a utilidade quase permanente que a mantinha limpa, o interior desertificou-se por as pessoas terem procurado melhor compensação pelo seu trabalho, quer na faixa litoral quer no estrangeiro, no comércio e na indústria. Muitas terras boas de cultivo foram deixadas ao abandono, e cobriram-se de silvas e outras ervas daninhas também alimentadoras de incêndio.
A solução preventiva de obrigar os proprietários de minifúndios ou microfúndios a limparem as suas propriedades é demasiado violenta e ilusória, porque a propriedade não lhes dá qualquer benefício, que compense tais custos. E muitos dos donos de minúsculas parcelas no meio da serra, nem sabem onde elas estão e, quando sabem, não lhes conhecem os limites. Terá que ser criado um sistema funcional para a prevenção dos fogos que poderá passar por uma reforma profunda de restruturação da propriedade rural. Deixar de haver minipropriedades e os grandes proprietários que daí resultarem, privados ou municipais, serem obrigados a adoptarem medidas rigorosas, para reduzir o perigo de incêndio. As fábricas de transformação de vegetais em biomassa ou pasta para papel ou cartão, poderão ter uma missão a cumprir e arcar com todo ou parte dos custos da matéria prima.
E as medidas rigorosas de prevenção têm que ser minuciosamente controladas por agentes de vigilância florestal, ou no estilo da extinta Garda Florestal ou por um novo sector da GNR devidamente preparado para tal missão.
António João Soares
5 de Setembro de 2017
A decadência ética de Macron
Há 55 minutos
4 comentários:
Gosto de ler suas postagens devido a fluidez, a facilidade, a clareza do que escreve, parece tudo tão simples que vai colocando no papel sem esforço algum.
Mestre, está tudo bem?
um grande abraço
Celle
Amiga Celle,
As suas palavras são uma bênção que me estimula a gostar de continuar vivo. Felizmente estou bem sem complicações de saúde e com o cérebro a funcionar regularmente, como vê. Fez no dia 20 um ano que escrevi o primeiro artigo para o Semanário O DIABO, em resposta ao pedido que me foi feito pelo Director. O que me demora mais não é a redacção do texto, é a escolha do tema a tratar e depois rapidamente penso no esquema a usar e, quando começo a escrever, sai tudo de seguida. Seguem-se pequenos retoques e fica pronto. Neste momento tenho dois praticamente prontos que envio nas próximas terças-feiras. Gosto de estar prevenidos para não ter de o fazer à última hora. Repare que procuro não ofender ninguém, embora faça críticas, por vezes, duras, mas que são construtivas com intenção de contribuir para um futuro melhor dos portugueses e da humanidade. A Amiga já topou esta minha faceta e, por isso, me chamou apóstolo. Bem haja.
"Fogos na Floresta"
Estimado amigo e Senhor Coronel António João Soares:
Parabéns pela sua opinião subordinada ao tema "Fogos. Como fazer a limpeza da floresta?"Gostei e acho uma boa ideia de combater a ação criminosa do fogo posto na floresta. Tanto quanto me foi dado apreciar, e de quem é o autor do artº, outra opinião não seria de esperar senão aquela que está bem fundamentada no sentido da segurança e desenvolvimento sustentado, como agora se diz. Um profissional do ramo não o faria melhor. Há que, na verdade, insistir na solução de tão candente problema. Para além do exposto, também sou de opinião que tais medidas de proteção e segurança se poderão encontrar através da direção das "ZIFS", Zonas de intervenção Florestal, e das "APFS", Associações de Produtores Florestais, agremiações que, técnica e administrativamente estão preparadas para a prestação de todo o tipo de serviços na área da especialidade agrária. Difícil ou quase impossível de realizar, poderá ainda tentar-se o emparcelamento da pequena propriedade. Julga-se seria também de capital importância para o aproveitamento dos valores intrínsecos e, sobretudo, para a indispensável mecanização da agricultura. Como força anímica do trabalho produtivo, os pequenos e médios agricultores, sentem-se fragilizados, e sem condições de se promoverem profissionalmente, segundo o que me tem dado observar e ouvir. Com todos estes reveses que os têm atacado, cada vez estão mais deprimidos. Depois de todas estas considerações, não seria descabido dar a palavra aos agricultores ou empresários interessados a trabalhar a terra.
Quarteira, 21/09/17
Um abraço do amigo
Manuel Farias
Obrigado Amigo Farias, pela sua amabilidade de deixar um belo comentário que demonstra o seu interesse por este tema de grande importância para a vida dos portugueses em geral e, principalmente, pelos que vivem em meios rurais. Os seus conhecimentos e a forma elegante como escreve devem ser bem aproveitados para trazer a público conselhos úteis para os responsáveis pela causa pública. Um abraço.
Enviar um comentário