As «moscas» e o mal social
(Publicado no semanário O DIABO em 19 de Setembro de 2017)
Dos seis que estavam à mesa, o P. sentiu-se incomodado com uma mosca e virou-se para mim a sugerir que escrevesse sobre as moscas. Não dei resposta, mas continuei atento às queixas que passaram para a degradação do civismo e da ética de que a sociedade está a padecer. O A. Saiu-se com mais uma citação bíblica dizendo que a isso não podemos dar remédio, porque o mal é obra do diabo. E disse também que Portugal é um país geométrico, com território de forma rectangular, com problemas bicudos analisados em mesa redonda por bestas quadradas. E certamente não atribui ao diabo esta faceta.
Parece que a humanidade, isto é, cada um, deve deixar de culpar o diabo e fazer tudo o que puder para recuperar os valores que estão a ficar debilitados. Sendo elemento da humanidade, uma pessoa não tem o direito de ficar sentada à espera que os outros lhe tragam de presente a solução de um problema que também é dela. A solução não é ser indiferente e atribuir culpas ao diabo. E, quanto às «moscas», elas são estimuladas a procurar alimento e procuram-no onde ele possa existir. Na sociedade há acomodação, apatia, preguiça, para afastar aquilo que as «moscas» procuram e, assim, permite que a degradação social progrida para o abismo, não pela força do diabo mas por desinteresse da humanidade. Esta vive acomodada e submete-se docilmente à propaganda da mentira, das promessas falaciosas que nada de bom lhe trarão, mas as «moscas», atraídas por tal ambiente fecal, continuam a manobrar uma estratégia que dificulta a procura da verdade e a busca de informação correcta sobre a realidade.
Felizmente, nem toda a gente é ingénua, ignorante e apática e, por exemplo, estas manobras estão bem explicadas por Henrique Neto no artigo à procura da verdade» em O DIABO e também por António Barreto que as refere no artigo «segredo de injustiça», no Diário de Notícias.
Mas há soluções para quase tudo o que depende da acção do homem. Este, como partícula estruturante da humanidade, é autor das degradações de que esta sofre e que poderão ser ultrapassadas se os comportamentos individuais passarem a ser mais correctos, racionais e sensatos. Quando tanto se fala das virtudes da democracia, e se atribui tal responsabilidade aos seres humanos, há que exigir um esforço para que todos tenham acesso à boa informação, por forma a procurarem a verdade e não se deixarem levar pelo conto do vigário ou de vendedores de banha de cobra mas, prelo contrário dêm a sua colaboração e participação para o bem comum.
Ninguém tem o direito de ficar sentado à espera que outros lhe tragam o resultado da recuperação de valores que andam esquecidos. Cada um deve agir no melhor sentido, criticando a apresentando sugestões ou fazendo perguntas sobre aquilo que não compreende bem. Felizmente, há pensadores e técnicos a cooperarem para uma civilização mais eficaz com soluções para problemas preocupantes. É, por exemplo, o caso de António Carvalho que publicou no Diário de Notícias o artigo "Devia ser criado um corpo nacional de agentes florestais", para evitar os fogos florestais e combater com eficácia os que eventualmente surgirem. Precisamos de muitos cidadãos assim a contribuir para ser encontrada a melhor estratégia para o desejado progresso. Onde todos ajudam, as coisas apresentam-se mais fáceis.
António João Soares
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