O território exige mais atenção
(Publicado no semanário O DIABO em 170822)
Os fogos florestais têm sido uma tragédia sem fim à vista. Também a seca e as temperaturas mais altas estão a criar sérias dificuldades na agricultura. São visíveis as alterações climáticas devidas a fenómenos naturais incontroláveis pelo homem, como a inclinação do eixo da Terra que, no caso português, está a fazer sentir o avanço do deserto do Sarah.
Muitos lamentos têm sido ouvidos por pessoas que conhecem bem o interior do país. Algo tem sido dito por técnicos conhecedores das causas dos fogos florestais. Mas isso não resolve o problema porque os cidadãos que foram escolhidos para gerir os interesses dos portugueses, não mostram interesse em conhecer e compreender a essência dos assuntos e, quando legislam, não cuidam de transmitir às autarquias e aos habitantes algo que eles possam compreender e concretizar para bem da Nação.
A floresta tem que ser preparada para resistir aos fogos que a ameaçam todos os anos. Tem sido dito que isso acarreta despesas volumosas, mas é preciso pensar na dimensão das despesas causadas pelos fogos diariamente nesta época estival e decidir se será mais racional gastar na organização da floresta ou deixar que ela seja destruída causando prejuízos mais volumosos. Mas isso não pode ser decidido por palpite, mas sim, baseado em cuidadoso estudo feito por gente conhecedora, planeado, organizado e praticado de forma bem controlada e ajustada às realidades e às suas variações imprevistas.
Já várias pessoas dedicadas aos aspectos nacionais lamentam o desaparecimento de guardas florestais, de guarda-rios e de cantoneiros, que podiam fazer o papel de vigilantes e alertar sobre qualquer desvio pernicioso daquilo que deveria ser feito e ajudar as pessoas a evitar erros.
E, quanto à agricultura, faz pena ver muitos terrenos que outrora davam produção para sustentar os aldeões que dela viviam e mandar educar os filhos e, agora, onde se produzia milho e outros produtos, crescem silvas e vegetação espontânea que no verão serve de pasto às chamas. Não será aconselhável regressar aos métodos de trabalho do passado, mas devem ser difundidas novas metodologias para obter produtos que sejam úteis ao consumo nacional e à exportação. Recordo que, em tempos idos, o eng Sousa Veloso dava na TV uma lição semanal sobre diversos aspectos da agricultura real de forma acessível aos menos letrados.
Esse era um bom serviço prestado pelas televisões ao país. Agora, em vez disso, elas passam o tempo e repetir frases e imagens sobre crimes ocorridos ontem, pormenores de bombeiros frente às chamas, futebol, coscuvilhices e notícias nem sempre comprovadas de campanhas demolidoras contra aquilo que no momento é seu alvo ou dos seus mandantes. Seria mais útil e benéfico aos portugueses se elas transmitissem ideias complementares de formação profissional em coisas que interessam à maioria dos telespectadores.
Certamente, se hoje houvesse um seguidor de Júlio Isidro a ensinar bricolage, haveria menos adolescentes desviados do bom caminho. E se houvesse outro Megre, haveria menos acidentes nas estradas, por haver mais cuidados com a própria segurança e a dos outros utentes.
Para concluir, o território do interior precisa de mais atenção e que os «boys» o conheçam melhor e se sintam sensibilizados para aumentarem o seu saber sobre assuntos reais e para pensar e trabalhar um pouco na elaboração de medidas práticas e eficientes para criar mais segurança e maior rendibilidade do património de que dispomos.
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