sexta-feira, 25 de novembro de 2022

PRECISAMOS DE MUDANÇA NATURAL QUE DÊ FELICIDADE COLECTIVA


 (Public em DIABO nº 2395 de 25-11-2022, pág 16, por António João Soares)

A vida exige mudança e a inacção impede o desenvolvimento. Mas a mudança deve ser devidamente preparada, tendo em vista os objectivos desejados e os factos que os constituem, nada devendo ser deixado ao acaso. A intenção do resultado desejado deve ser transparente, compreendido por aqueles de quem se deseja colaboração e que devem participar com coragem, confiança e afecto. Numa boa equipa, como deve ser a população de um país, devemos todos participar convictamente na acção a desenvolver para alcançar o objectivo desejado. O mundo desenvolveu-se passando por diversas fases, como a escritora Katia Soares explicou num texto há mais de dois anos e que, agora, tive oportunidade de ler.

Tem que haver aprendizagem do domínio da razão, obter capacidade de pensar, desenvolver o raciocínio lógico e coordenar a acção humana no mundo guiado por líderes sociais que saibam conduzir o seu grupo com coração e espiritualidade, tendo respeito por normas bem claras e desejadas pelos praticantes.

Ao longo dos tempos, essa finalidade foi tentada, pela difusão de imagens, quando ainda não se usava a escrita e antes de aparecerem as religiões. Os indivíduos tinham consciência de si próprios e foram aproveitando a liberdade de pensar. Mais tarde, a humanidade foi desenvolvendo a cultura e surgiram as artes e os desportos e a ligação do pensar com o sentir. Com esta evolução do ser humano em relação ao exterior, as pessoas começaram a notar a necessidade de limites da propriedade com os vizinhos e clarificar direitos e deveres quanto aos teres e haveres de cada um, os conflitos, a troca de mercadorias e outras negociações. E aprendeu-se a importância do querer e o humano maduro tornou-se diferente dos irracionais.

Surgiu a necessidade de possuir novas terras e de adquirir dinheiro para viver e amealhar poupanças. Foi criado o comércio intercontinental que deu evolução notável ao relacionamento entre povos diferenciados que se viram afastados do misticismo e mais livres para o relacionamento com a natureza. Os humanos foram-se afastando do misticismo e viver com novas regras de liberdade de expressão e de exploração da economia. O filósofo Descartes, com a sua frase «penso, logo existo», veio marcar nova etapa na evolução e criou o iluminismo.

Cerca de dois séculos depois, Jean Jacques Rousseau disse «o homem é bom por natureza mas está sob a influência corruptiva da sociedade», o que veio a resultar na independência de muitos países.

No séc XX viveram-se os efeitos colaterais dos movimentos de emancipação surgidos nos séculos anteriores. Nos últimos tempos desse século, começou a ser notado que se tornaram mais débeis os laços familiares, os rituais, a conexão com a espiritualidade e com a natureza. E mesmo a desconexão com nós-próprios, afastando-nos, dos nossos valores individuais, para nos absorvermos pela responsabilidade do trabalho, do sustento da família e da educação dos filhos, pelo aumento das actividades diárias e, por fim, nos abandonarmos de nós próprios, mais globalizados, ligados pela internet, experimentando tecnologias conscientemente avançadas, intelectualmente influenciadas por uma avalanche de informações que chegam diariamente por diversas vias.

Precisamos de voltar a pensar quem somos e assumirmos o nosso propósito de vida. E não sermos arrastados por jovens que pretendem evitar o respeito pelo género e outros pormenores úteis e que não devemos desprezar. A actual fase pode levar-nos para uma inconsciente obediência a um egoísmo crescente que ninguém pode controlar, vitimas de medos diversos, de perda de emprego, de saúde, de solidão, sem fé ou ligação espiritual, com as mulheres desligadas das habituais funções familiares e sem respeito por normas habituais, etc.

A aceleração da inteligência artificial, desprezando a racionalidade e rejeitando o bom relacionamento, respeito e colaboração, parece não querer parar porque o poder está em mãos de pessoas muitas vezes incapazes de se interessar por valores colectivos válidos e contribuir para uma mudança que respeite o desenvolvimento da educação e da ética social e da construção de um futuro melhor. A juventude não deve ser abandonada em vias casuais e perigosas. Será conveniente que a comunicação social deixe de perder tempo com banalidades e ajude a população a procurar um futuro mais promissor. Precisamos de uma mudança racional que contribua para mais felicidade de todos.


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