quinta-feira, 17 de setembro de 2020

SOCIEDADE SEDADA, ADORMECIDA

Sociedade sedada, adormecida

(Public em O DIABO nº 2281 de 18-09-2020, pág 16. Por António João Soares)

Portugal está a passar por uma grave crise de opinião que nos preocupa por termos, a breve prazo, eleições como as presidenciais, que são de grande responsabilidade e podem não ter significado convincente quanto ao número de votos: com as abstenções, pode acontecer que o candidato vencedor tenha apenas uma pequena percentagem do número total de eleitores. Nesse caso, o resultado será desencorajador e desprestigiante.

Mas o motivo que leva à abstenção nem é o mais grave do ponto de vista voluntarioso e mentalmente saudável da população. O mais preocupante é o estado de espírito dos portugueses que vivem, sonolentos, sedados, alheios aos problemas que nos preocupam colectivamente e a cada um.

Os órgãos da comunicação social, que no século passado contribuíam para a educação e a formação social e profissional das pessoas, hoje limitam-se a manter os ouvintes e leitores afastados de tudo o que realmente contribui para a cultura, o desenvolvimento económico e social, etc.

Actualmente, quando procuramos notícias sobre a vida do país com interesse para a competitividade com os parceiros europeus e do mundo, deparamos com negociatas do futebol ou outras ninharias; agora, mesmo isso é ultrapassado com o espaço dedicado a números da pandemia, sem análises e descrições que contribuam para percebermos melhor a gestão da crise, evitarmos erros ocorridos e, por outro lado, organizarmos a vida a fim de sobreviver com saúde e energia para melhorar o ambiente e a convivência a bem da economia e da vida social, por forma a fazer crescer o país e melhorar a vida colectiva.

Para criarmos uma economia mais moderna e competitiva, com mais e melhores empregos e mais volumosas exportações, de onde viriam melhores salários e mais comodidades na vida, é necessário que não haja escórias desinteressadas de tudo o que realmente tem valor. Ninguém deve fechar os olhos à realidade e ficar à espera de que sejam os outros a criar um país mais próspero e depois ir distribuir os resultados por ele.

Na política parece haver interesse de pessoas mal formadas e sem ética social em instaurar e defender o “politicamente correcto” e estimular a comunicação social a apoiar esse tipo de anestesia mental que mantém as pessoas alheias a tudo o que mais deve interessar.

Duas notícias despertaram a minha curiosidade, de forma positiva, até parecendo combinadas.

 Uma refere-se à retoma de actividade do Clube dos Pensadores, em luta contra a sedação agravada pela actual pandemia. É reconhecido que o debate de ideias e opiniões é necessário para aliviar as pessoas da sonolência em que se deixaram embalar. É imperioso que se instiguem a formar opinião sobre o que se passa à sua volta e que pode condicionar o seu futuro. E os debates servem para moldar as opiniões, ouvindo outros que pensam de outra forma. Numa democracia, o contraditório e a liberdade de discordar fazem parte do seu nobre léxico, e ouvindo opiniões diferentes enriquece-se a compreensão. Os debates são enriquecedores e os conhecimentos evitam ser lesados por atitudes de propaganda, de meias verdades e de falsas promessas. Os governantes e outros políticos devem trabalhar nos seus gabinetes analisando os assuntos e preparando as decisões depois de ouvirem os seus conselheiros. Quando falam em público devem dizer coisas fidedignas e com peso político. A propaganda nada os beneficia perante cidadãos serenos, sensatos e sabedores.

A outra notícia refere-se ao Fórum Euro-África, cujo organizador disse à Lusa que o grande objectivo do encontro é reaproximar dois continentes que estiveram de costas voltadas nos últimos 50 anos. Houve 3.500 inscritos para assistir, o que demonstrou que a junção da plataforma Europa e África era algo que se impunha, e mais de 70% dos inscritos eram provenientes de África. ■


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