terça-feira, 20 de março de 2018

ONU SEM PODER NEM CREDIBILIDADE

ONU sem poder nem credibilidade
(Publicado no semanário O DIABO em 20-03-2018)

O Secretário-geral da ONU, profundamente triste com o sofrimento da população civil em Ghouta Oriental", pediu a "suspensão imediata" de "todas as atividades de guerra" na região.

Em 18 de Fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU, por votação unânime, aprovou a interrupção de combates. Em 26 as Nações Unidas denunciaram "matadouros de seres humanos".

Em 28 de Fevereiro, apesar da anunciada trégua humanitária, ainda não saíram civis de Ghouta oriental. E foram relatados confrontos. E como, agora, na Síria estão em confronto interesses de duas grandes potências, de forma mais ou menos visível, com assento permanente no Conselho de Segurança e com poder de veto, a situação, por pequeno atrito, pode agravar-se e acabar por levar o Mundo a nova grande guerra.

Este facto demonstra a incapacidade e a inutilidade da ONU, sem poder nem credibilidade, para impor a paz onde ela é urgentemente necessária. Quando há fortes interesses em jogo, a sua actuação tem sido um fracasso. Não impediu as duas invasões do Iraque, tendo a segunda sido feita por motivos inexistentes pois não foram encontradas as armas de destruição maciça que lhe serviram de pretexto e o Presidente foi morto e o país ficou em guerra que ainda não cessou completamente, com inúmeros mortos e a destruição de património histórico mundial. Também não impediu a destruição da Líbia que ainda não está recuperada do abalo que lhe matou o Presidente.

Isto é consequência de a ONU sofrer de uma doença congénita, pois, quando substituiu a Sociedade das Nações, tomou a forma de uma ditadura sem credibilidade e sem merecer o respeito dos países, ao criar o Conselho de Segurança com autoritarismo ditatorial, na mão de cinco membros permanentes e com direito a veto. Isso tem sido notado, nomeadamente, no facto de a não disseminação nuclear não ter sido respeitada porque nenhum desses cinco estados poderosos tem moral para evitar que um pequeno país se dê ao luxo de criar uma arma nuclear, como está a acontecer com a Coreia do Norte e já aconteceu com outros Estados. Deviam ter sido esses cinco a dar o exemplo, destruindo as que possuíam. Se o tivessem feito, comprovadamente e com a merecida publicidade, a partir daí, ficavam com poder moral para impedir a disseminação. Como não o fizeram, a ameaça de violência não pára, e que, a maior parte dos casos, tem o apoio visível ou dissimulado de um ou mais desses cinco poderosos. Com as novas armas em experiência, usando a inovação oferecida pelas modernas tecnologias, talvez decidam desmontar as armas nucleares e de produtos químicos, mas não deixarão de proibir aos outros Estados a posse de novas armas. A propósito, os nano-drones vão ser menos espectaculares e ruidosos, mas dispõem de poderosa capacidade de destruição selectiva, As próximas gerações terão problemas mais terríveis e complexos do que a nossa. E nada pode evitar asneiras de quem muito pode!

A Síria tem dado oportunidade para as potências se provocarem, porque o autoritarismo de Assad concretizado em Março de 2011 com forte repressão em massa e cercos militares contra manifestantes pró-rebeldes que se levantaram contra ele e o seu governo, aproveitando a Primavera Árabe,, originou uma grave guerra civil, que criou grande perturbação e, pelos vistos, ainda está longe da pacificação.

É estranho que os outros Estados se submetam obedientemente aos caprichos dos cinco e não exijam uma reforma da estrutura da ONU ou lhe dêem o destino que foi dado à Sociedade das Nações. Têm oportunidade para isso na Assembleia Geral a não ser que vão lá apenas para se mostrarem ou para fazer turismo.

Para terminar, aconselho a leitura do artigo do prof doutor Miguel Monjardino, "Tréguas na Síria baseiam-se num equívoco", publicado em 28 de fevereiro no Diário de Notícias.

António João Soares
13 de Março de 2018

2 comentários:

João Santos Fernandes disse...

A realidade da ONU, como nos triunviratos de Roma ou Ligas das Cidades-Estado da Grécia, passando por todos os Imperadores da Europa e Papas apoiantes do Sacro Império Romano-Germâmico,não deixa de ser diferente das pseudo-democracrias do tipo «Ocidental», onde as decisões estão sustentadas por quem não é eleito e quase sempre desconhecido, normalmente com raízes num poder financeiro, cada vez mais desregulado a partir de 1981. A PAZ NO MÉDIO ORIENTE, muito fácil de conseguir, mas a quem ninguém interessa face a um «mar de petróleo e alinhamentos», onde as lucrativas indústrias de armamento «despejam» excedentes, pois lhe sai mais barato um «conflito» que destruir material obsoleto.
O segundo Secretário-Geral da ONU (Dag Hammarskjöld, sueco muito empenhado na PAZ em África, teve um misterioso atentado (nunca investigado), sendo derrubado o seu avião (61) entre A REPCONGO e RODÉSIA NORTE, por «acaso» no ano de «ANGOLA» de Portugal, tudo indiciando ser à boa maneira dos «puzzles misteriosos» ocidentais.
Asfixiar financeiramente a ONU, como já ameaçaram os EUA, seria muito pior do que, por este método, deixarmos de saber QUEM VETA ÀS CLARAS, porque passaríamos a TER VOTOS MISTIFICADOS de grande pressão nos alinhamentos. Esta DITADURA PENTAGONAL, a médio e longo prazo, poder-se-á modificar com ALARGAMENTOS, mas um AREÓPAGO DE ESTADOS, cada vez mais «desalinhados» só não tem eficácia porque se fez do SECRETÁRIO-GERAL um «baluarte administrativo» com pesada máquina burocrática que também ninguém quer modificar. Por último, haverá MAIOR VERGONHA MUNDIAL CONTRA A PAZ que a CIMEIRA DE GUERRA DOS AÇORES, liderada pela DITADURA ANGLO-AMERICANA, BUSH/BLAIR, perante os «sorrisos» do nosso PM de então Durão Barroso? À revelia da ONU assaltou-se o IRAQUE, com falsas armas de destruição massiva, talvez porque não havia exclusividade de venda de petróleo só em dólares, ou porque a «estupidez» política(teria sido?) se lembrou de retirar um «ex-dócil sunita» para abrir as vias XIITAS, como seria depois feito na Líbia e na Síria. Talvez tivesse sido «maldição» tudo acontecer a 17/18 MARÇO, forçando-se a ONU a «autorizar» a Líbia já que nem foi ouvida para se atacar o IRAQUE. Tudo foi mal construído pelos SERVIÇOS SECRETOS INGLESES (antes pelo IMPÉRIO OTOMANO e os seus massacres da Arménia, voltando a TURQUIA hoje a actuar)) há muitos anos, bastando lembrarmo-nos da «lenda» cinematográfica de LAWRENCE DA ARÁBIA. Podemos querer MELHOR ONU, mas quem a sustenta e TORNA DINÂMICA? Se os Estados da EUROPA sofrem um BREXIT queremos que a ONU sofra outros BREXIT, ou TRUMPEXITS? Talvez esteja mais certo o LIVRO DE ECLESIASTES, do Antigo Testamento que começa e teoriza: TUDO É ILUSÃO! João Santos Fernandes

A. João Soares disse...

Agradeço a sua gentileza em valorizar este artigo e esta página. Penso que gostará de ler o artigo
https://www.noticiasaominuto.com/mundo/975331/eua-invadiram-iraque-ha-15-anos-como-e-que-se-deixou-aquilo-acontecer

EUA invadiram Iraque há 15 anos. «Como é que se deixou aquilo acontecer?» Por Pedro Bastos Reis