terça-feira, 23 de maio de 2017

A VONTADE DE MUDAR EXIGE PRUDÊNCIA

A Humanidade quer mudar, mas precipita-se
(Publicado em O DIABO de 23 de Maio de 2017)

A Humanidade, talvez estimulada pelas novas tecnologias, deseja simplificar as obsoletas burocracias das máquinas estatais, as quais se desgastam com pormenores sem real interesse colectivo e que entravam a busca dos resultados positivos que contribuam efectivamente para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e o crescimento do poder económico do país. Os responsáveis pela gestão dos interesses colectivos, ou governação, geralmente, não conseguem libertar-se das pressões de gente com poder financeiro que quer a defesa de interesses de amigos, apaniguados, cúmplices e coniventes.

Abundam, em diversos países, casos concrectos que evidenciam a ansiedade da população para acabar com instituições que usam tradições obsoletas e demasiado pesadas aos contribuintes e que impedem a obtenção dos fins desejados pelos cidadãos.

Por vezes, cidadãos mais ousados, embora nem sempre bem informados e prudentes, avançam para soluções de violência que, em algumas situações, geram mais inconvenientes do que vantagens, como tem acontecido na Venezuela, onde parece que conseguiram que o Parlamento aprovasse na terça-feira, 9 de Maio, um acordo sobre a "inconstitucionalidade e nulidade" do decreto presidencial que convoca a formação de uma Assembleia Constituinte a fim de lhe serem dados todos os poderes, à semelhança do que ocorreu na Turquia. O povo turco agiu como um rebanho abúlico, sem vislumbrar o buraco em que ia ser metido, mas os venezuelanos agiram de forma mais lógica, embora devesse ter sido mais arguta e prudente, sem violência que afecta os cidadãos e não os verdadeiros culpados.

Em França, nas eleições presidenciais, os eleitores deixaram bem clara a sua desconsideração pelos partidos tradicionais que ficaram numa situação muito obscura e viram o poder dos votos conduzir à segunda volta dois candidatos menos contaminados pelos vícios da máquina administrativa. Cabe ao novo PR compreender bem a vontade do povo e apoiar-se em pessoas competentes, mas não dependentes dos partidos e, com elas, procurar as soluções mais adequadas à busca da eficiência, com simplicidade, sem burocracias desnecessárias, sem corrupção, para atingir os resultados que a Nação deseja.

E da lição do sucedido em França, devem os partidos de outros países concluir que o seu reinado pode estar muito frágil se não decidirem aliviar e modernizar os seus procedimentos e estudar as melhores soluções para um futuro que satisfaça as esperanças dos eleitores. As oposições, apresentando projectos para os principais sectores da vida nacional e defendendo-os de forma a melhorá-los, no Parlamento, mostrarão ser bons obreiros para a desejada mudança. Mas, para isso, devem deixar de perder tempo com aleivosias e críticas teimosamente agressivas, alheias aos reais interesses nacionais. Não devem perder tempo a criticar repetidamente o que aconteceu ontem a não ser que tenham melhor solução para o assunto e que essa nova estratégia seja eficaz para as previsões das próximas décadas.

Se os partidos não mostrarem competência para efectuar as mudanças adequadas, será o povo, como em França ou na Venezuela, que lutará para as conseguir.

Porém, normalmente, um governo partidário não dispõe de coragem que permita romper a teia em que se encontra pressionado pelos interesses do partido e daqueles a quem este deve favores. E também não é fácil romper com os seus procedimentos anteriores e seguir novas estratégias. Estas estão mais acessíveis à oposição que tem liberdade de inovação e criatividade por estar menos comprometida com os vícios actuais. Com isso, indo ao encontro dos desejos dos eleitores, habilita-se a um bom resultado eleitoral, se apresentar projectos adequadamente elaborados com apoio de técnicos competentes e amantes do país.

Mas, em Portugal, vemos a oposição a perder tempo no Parlamento com conversas sem nível nacional e a preocupar-se com críticas destrutivas e ofensas pessoais aos governantes em vez de mostrar competência para alertar para melhores soluções para atingir os objectivos essenciais de que se espera. É de pouca perspicácia que, estando metade do território em acelerado processo de desertificação, se fale no Parlamento da expansão do Metropolitano de Lisboa com mais 20 (vinte) estações. Os habitantes de ALMEIDA não dispõem de transportes públicos adequados para ir à CGD, que agora fica a 15 Km de distância.

Tudo isto estimula os cidadãos à rebeldia como se vê em vários países, onde chegam a produzir baixas humanos e danos materiais. Precisam-se políticos não viciados nas normas partidárias, que amem o país, isto é, os interesses colectivos. E o povo deve procurar obter informação, para não se deixar arrastar por enganadores cantos de sereia, porque «votar no menos mau» não significa «votar num bom».

16 de Maio e 2017
António João Soares

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