Os idosos não precisam apenas de comer e dormir
(Publicado em O DIABO de 21 de Março de 2017)
Os idosos, principalmente quando são mendigos ou sem abrigo, não deixam de ser pessoas a merecer respeito pelos seus direitos humanos. Os apoios sociais têm desenvolvido uma actividade meritória, mesmo que ainda incipiente, no apoio material, dando comida e, por vezes, abrigo aos mais desprotegidos. Mas os idosos, mesmo os menos carentes, não precisam apenas de comer e dormir. Precisam também de ser ajudados a manter activo o seu lado espiritual, psíquico, através de ocupação cultural, de curiosidade pelo que se passa, de transmissão do seu saber acumulado durante a vida e até de fazer algo de útil, em trabalhos de lavores, de pinturas, de artesanato, de bricolage, de arte musical, etc. Esse apoio, devidamente orientado, contribuirá para manter activos os sentimentos, afectos, amizade e sentido de utilidade. Isso e a realização de contactos entre os residentes em lares e alunos de escolas poderá contribuir, pela transmissão do saber sedimentado pela idade, para ajudar estes jovens a serem mais conscientes e felizes num mundo com mais ética e civismo e a ter comportamentos sociais mais correctos e com flexibilidade para se adaptarem às condições sempre mutáveis da sociedade. Um lar bem organizado deverá ter algumas semelhanças com uma academia para séniores, com base no voluntariado.
Os dirigentes este tipo de instituições devem ter sensibilidade e humanismo para obterem os melhores resultados e serem, por isso, convenientemente respeitados e valorizados.
Recordo que o Secretário-Geral das Nações Unidas, em 26 de Fevereiro, disse que o "desrespeito pelos direitos humanos é uma doença" que se está a espalhar pelo mundo e sublinhou que, para atalhar a um tal perigo desta epidemia social, a "prevenção deve ser a prioridade". E para cimentar a convicção de que é preciso praticar activamente o respeito pelos direitos humanos, deverá, sem demora, ser respeitado o conceito de que as pessoas, além do corpo, têm uma alma que precisa de ser apoiada. E uma situação psíquica equilibrada ajuda a viver mais e melhor.
É certo que, num lar de idosos, há pessoas que já são pouco ou nada receptivas a apoio psíquico ou cultural, mas as que ainda possuem ligação com as outras deverão sentir-se melhor com estas ajudas, do que se estiverem paralisadas em frente da TV de que não tiram benefício significativo. Talvez seja preferível que olhem para os trabalhos artísticos e os lavores feitos por colegas e que olhem para os seus exercícios de dança, de ginástica, de ensaios corais, de leitura de poesias, etc.
Por outro lado, os trabalhos realizados podem ser objecto de exposição ao público, com fundo musical de alguns cantos, dança, fotografias, etc. que contribuirá para realçar a imagem do lar de idosos que levar a cabo essa actividade e, ao mesmo tempo, para divulgar a «prioridade» a que se referiu o engenheiro António Guterres. Esses trabalhos também podem ser vendidos, se os autores estiverem de acordo, e o resultado da venta ser destinado a melhoria das suas vidas ou a outro fim de beneficência.
Se a ociosidade é mãe de todos os vícios, as pessoas, dentro das suas possibilidades e energia disponível, devem evitar parar e estagnar, por que isso é provocar um fim prematuro. Devem manter-se o mais activas que puderem, quer física quer psiquicamente.
António João Soares
14 de Março de 2017
Lápis L-Azuli
Há 12 minutos
2 comentários:
A propósito deste tema e das dificuldades encontradas quando os beneficiários do IASFA pretendem apoio, recebi do Amigo Arnaldo M. Medeiros F., por e-mail, este comentário com interesse que seja aqui publicado. Agradeço e aqui o deixo para melhor esclarecimento dos militares.
De facto e com efeito, seria desejável que o IASFA não aumentasse os preços das mensalidades dos militares e familiares internados nos seus Centros de Apoio Social (CAS) tanto mais que as pensões de reforma não têm sido aumentadas, antes pelo contrário.
Admito, porém, que a "inflacção" e o custo de vida tal imponha, quiçá por falta de apoio de verbas compensatórias para o efeito por parte do MDN.
Todavia, para mim, a maior falência do IASFA tem sido a sua incapacidade de prestar um apoio social a TODOS os seus associados em termos de internamento permanente nas suas residenciais para idosos, cujas listas de espera atingem mais de seis anos como no caso do CASO (Centro de Apoio Social de Oeiras), adiando o seu internamento, em particular dos mais idosos, por tempo excessivo, uma situação que, em muitos casos, o "tempo acaba por resolver".
Contudo, ainda mais preocupante é a sua incapacidade de apoio à família militar em termos de "cuidados continuados" por falta de instalações apropriadas, o que impõe internamentos temporários só por períodos de 90 dias não prorrogáveis, obrigando a "despejos" forçados em casos e situações que requeriam internamento mais prolongado no tempo, senão mesmo a internamento permanente, tal como aconteceu há pouco tempo com a minha mulher.
Esta situação é tanto mais relevante quando, recentemente, o então MDN, Aguiar-Branco, cedeu as instalações da "Casa de Saúde da Família Militar" na Estrela à Santa Casa da Misericórdia para construção de um Hospital de Cuidados Continuados, o que, aliás, foi objecto da petição do Maj.General médico, João Bargão dos Santos, em circulação para obtenção de assinaturas, com a qual concordei e subscrevi.
Aliás, se verificares que tudo quanto exponho neste meu e-mail tal possa merecer, poderás também difundir no teu blogue.
Transcrição de notícia:
Há idosos tratados de "forma absolutamente perversa"
https://www.noticiasaominuto.com/pais/789116/ha-idosos-tratados-de-forma-absolutamente-perversa
170507. Por Lusa
O provedor de Justiça considera que há idosos tratados "de uma forma absolutamente perversa", graças a uma sociedade que inverteu a pirâmide social e trouxe "consequências dramáticas" para as pessoas mais velhas, como o abandono ou a solidão.
© iStock
PAÍS PROVEDOR
HÁ 2 HORASPOR LUSA
Em entrevista à agência Lusa, José de Faria Costa apontou que a sociedade atual não só não está preparada para "responder aos anseios da população mais idosa", como inverteu a pirâmide social e com isso trouxe "consequências dramáticas" para as pessoas mais idosas, "nomeadamente coisas pouco bonitas", mas reveladoras do atual sistema de valores.
"Os filhos a ficarem com as pensões dos pais e serem os vizinhos a dizerem ao provedor que há uma pessoa acamada, sozinha e os filhos ficam-lhe com o dinheiro das pensões", exemplificou.
Apontou outro tipo de situação, "muito mais grave", que acontece quando se aproxima a época de verão, em que "alguns filhos" começam a diminuir a terapêutica aos pais, fazendo com que eles entrem em perda e sejam internados de urgência.
"Como os filhos sabem que só os podem deixar se eles forem internados de urgência, obviamente começam a fazer isso e isso é uma coisa maquiavélica, péssima, que dá um retrato muito feio da sociedade portuguesa", criticou.
Segundo o provedor de Justiça, que não quis alongar-se muito sobre o assunto, estas realidades foram mais presentes nos tempos da "crise profunda", mas salientou que basta haver apenas um caso por ano "para mostrar a perversidade com que é tratada a velhice".
José de Faria Costa lembrou que, durante o ano de 2016, o provedor de Justiça recebeu, através da Linha do Idoso, mais de 2.800 telefonemas, perto de oito chamadas por dia, tendo havido 105 contactos por causa de maus-tratos, além de 74 situações de isolamento ou solidão, e outras 20 por abandono.
São os próprios idosos interessados quem mais vezes recorreu no ano passado à linha telefónica, representando 48% do total de telefonemas, a maior parte mulheres (1.724), com idade entre os 71 e os 80 anos (969).
Segundo José de Faria Costa, o provedor de Justiça faz frequentemente trabalho social, revelando que são muitas vezes os serviços do provedor que conseguem uma marcação de uma consulta, encaminham a pessoa para a ajuda mais próxima quando ela não sabe ler uma fatura de gás ou luz, ou quando alguém liga ao provedor porque não sabe preencher o IRS.
Motivos pelos quais o provedor afirmou que mais do que as recomendações que possa fazer, e que podem ou não ser acatadas, importa-lhe a resolução de problemas concretos.
"O que me interessa é receber uma carta da pessoa do Portugal mais profundo a dizer-me: 'senhor provedor obrigado, o meu muito obrigado, o meu problema foi resolvido'. E eu tenho centenas de cartas. Isso é que é importante no trabalho do provedor", sublinhou.
Em matéria de recomendações, aliás, José de Faria Costa acredita que teve um "altíssimo índice de acatamento" durante os seus quatro anos de mandato, mas garantiu que o seu trabalho nunca esteve centrado na recomendação.
"Avaliar o meu exercício através do número de recomendações é absolutamente redutor. O que se deve avaliar é através das situações concretas que eu resolvi e essas estão aí e podem ser avaliadas", rematou.
Enviar um comentário