segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Teimoso, casmurro ou perseverante?

O primeiro-ministro José Sócrates pronunciou a seguinte frase "Bem sei que dizem que sou teimoso. Mas se não fosse teimoso, não haveria reformas, nem mudanças, nem progresso."

Preferia que o primeiro-ministro do meu País fosse considerado perseverante e não teimoso ou casmurro. Embora os significados possam ser muito semelhantes, teimoso costuma ser considerado um defeito asnático, enquanto perseverante é mais usado como uma virtude ligada á pertinácia, à insistência.

Mas a virtude da perseverança ou da pertinácia é função da bondade do objectivo a atingir e, portanto, da sua definição judiciosa, segundo as boas regras do planeamento. Ora, temos constatado que os nossos governos não têm seguido normas razoáveis, muito menos boas, para preparar as suas decisões. Quase sempre, parecem utilizar um cata-vento em vez de uma boa bússola para se orientar nas escolhas dos rumos a seguir. Em consequência, saem as hesitações, as contradições, as incoerências, como aqui tem sido referido em vários posts, não por prazer de fazer crítica, mas à laia de alerta com intenção de ver corrigido aquilo que parece ter saído mal.

Decisões que não são bem preparadas com razoável conhecimento das alternativas possíveis e com previsões realistas dos efeitos posteriores, além de desperdício de recursos, em que o tempo não é o mais desprezível, acarretam desprestígio, e obrigam a recuos como tem acontecido na Saúde e na Educação e nas Obras Públicas (Ota).

Em termos resumidos, as normas e planeamento, ou de preparação da decisão passam por
1) definir com clareza e de forma que ninguém tenha dúvidas, o resultado pretendido.
2) Em seguida, por um conhecimento perfeito do ponto de partida, isto é, da situação vigente, com análise de todos os factores com influência no problema que se pretende resolver.
3) Depois, esboçar todas as possíveis formas de resolver o problema para atingir o resultado, a finalidade, o objectivo ou alvo; nestas modalidades não deve se preterida nenhuma, por menos adequada que pareça.
4) A seguir, pega-se nas modalidades, uma por uma e fazem-se reagir com os factores referidos em 2) e verificam-se as vantagens e inconvenientes; é um trabalho de previsão de como as coisas iriam passar-se se essa fosse a modalidade escolhida.
5) Depois desta análise das modalidades, uma por uma, faz-se a comparação entre elas com vista a tornar possível a escolha.
6) O responsável pela equipa, o chefe do serviço, da instituição, o ministro, o primeiro-ministro, conforme o nível em que tudo isto se passa, toma a sua decisão, isto é, escolhe a modalidade a pôr em execução.

Depois de tomada a decisão, tem lugar a perseverança, sem nunca esquecer a finalidade a atingir, referida em 1). Mas a perseverança não é teimosia, porque no curso da realização da modalidade escolhida tem de haver ajustamentos, face a reacções imprevistas de alguns dos factores, por forma a atingir a finalidade, o porto de destino. São as correcções de rota que qualquer condutor de meio de transporte, em terra, no mar ou no ar, tem de fazer quase em permanência. Um piloto que decida casmurramente ser teimoso ao ponto de não tocar no leme durante todo o percurso arrisca-se a ir parar a muitas milhas de distância do destino desejado.

Com este entendimento não posso elogiar o primeiro-ministro por se considerar teimoso, prefiro que escolha o adjectivo perseverante, pertinaz, mas em relação à finalidade e não ao percurso. Este tem que ser coerente, convergente, mas flexível sempre à busca do itinerário mais adequado, como faz qualquer condutor em todo o terreno.

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