Fiz anos. Muitos. Mais do que esperava quando era jovem.
Recebi às primeiras horas os parabéns de uma amiga e colega de blogue, à qual dedico estas reflexões que as suas palavras me inspiraram.
Poder beneficiar da sua amizade e da sua simpatia é uma fortuna extraordinária. Sempre atenta à agenda e sempre disponível para emitir raios calorosos de felicidade que tornam o mundo melhor numa convivência mais harmoniosa e com uma felicidade contagiante. A vida é um caminho por vezes difícil e com muitos obstáculos que temos que saber ultrapassar ou tornear com sensibilidade e persistência, tirando o melhor ensinamento de cada dificuldade.
A dada altura, neste blogue levantou-se a polémica de se dizer idoso e não velho. Tomei a posição de preferir «velho» não dando importância ao dito «velhos são os trapos», porque uma pessoa não é um trapo, nem novo nem velho, e a velhice bem preparada ao longo da vida transforma as pessoas num armazém recheado de sabedoria adquirida ao longo dos anos, desde que estes sejam vividos na busca da compreensão dos outros e daquilo que nos cerca. Não é por acaso que em algumas tribos africanas, o soba, antes de tomar decisões importantes, reúne o «Conselho dos Velhos» e os ouve atentamente, para reduzir a possibilidade de erro, para não cair em entusiasmos fáceis que a experiência dos tempos mostrou não serem o melhor caminho.
A vida não é uma riqueza bem definida, sólida e com prazo de duração estabelecido, mas sim uma peça preciosa muito frágil que pode partir-se em qualquer momento e devemos estar preparados para esse momento, sem angústia e sem receio. Há pouco mais de 57 anos, estive prestes a perdê-la e entre os muitos amigos espalhados por vários pontos do país circulou a notícia de que tinha partido. Mas consegui ultrapassar essa pedra encontrada no caminho, embora só tivesse recuperado totalmente a operacionalidade do braço esquerdo cerca de sete meses depois, com uma cicatriz enorme no braço e um corpo estranho junto da artéria femoral na anca esquerda.
Aprendi então a respeitar a vida sem medos e sem o habitual sentido de posse de um bem interminável, mas com a convicção de que ela deve ser aproveitada, no dia-a-dia, para desempenharmos acertadamente as nossas tarefas e tudo o que pudermos fazer para bem dos que estão mais próximos e de toda a humanidade. O exemplo de bem viver de forma positiva, difundindo valores e princípios de bem conviver com harmonia, constitui um factor de irradiação de felicidade que beneficia a humanidade e se reflecte, retornando para nós e dando-nos alegria de viver e força anímica para continuar. Cada um de nós deve agir com rigor e eficiência no desempenho das suas tarefas e cumprir com entusiasmo e persistência os seus deveres como elemento da humanidade. O bem ou o mal do mundo depende das acções e das palavras dos seres que o constituem, porque é o somatório dos actos de cada um.
Mas, apesar desta filosofia de vida ser útil e positiva, não impede que a vida continue a ser um caminho com variados obstáculos, as pedras da picada, que obrigam a continuar a conduzir atentamente para evitar acidentes. Quem ler as minhas reflexões deixadas ao longo destes blogues compreende bem a minha dedicação ao ambiente que nos cerca, à humanidade. Mas, surgem muitas pessoas investidas de poder sem terem um mínimo de sensibilidade para os assuntos que vão interferir de forma muito incisiva nas vidas das pessoas. Há «responsáveis» que se deixam encantar cegamente pela música dos números sem terem uma noção correcta de que por trás deles há pessoas, com problemas, individuais, familiares, profissionais, dos quais saltam dificuldades demasiado corrosivas para as suas vidas. Não é por acaso que os números de crimes violentos e de suicídios têm aumentado.
Algumas de tais entidades procuram atender aos alertas de pessoas sensatas mas não mostram possuir clarividência nem sensatez para agir da forma mais correcta que inspire confiança e crie esperança em dias melhores. E, na ausência de tais qualidades, acabam por tomar atitudes do tipo de ser «pior a emenda do que o soneto» e fazem promessas fantasiosas, sem base sólida, mentirosas, falaciosas, sem plano nem agenda, não inspirando a mínima credibilidade, antes reduzindo mais a pouca existente. Só para ilustrar esta alusão cito, de entre muitas outras, uma promessa de 14 de Agosto de 2012 e uma de 9 de Janeiro de 2013.
Apesar do desprendimento da vida a que me habituei há mais de 57 anos, como atrás referi, sinto com angústia o desprezo que os governantes têm pelos idosos, os doentes e os deficientes, em resumo, os não activos, e aconselhando a deixar de recorrer ao serviço nacional de saúde porque este está em risco de encerrar por falta de dinheiro. Isto evidencia a tendência materialista e monetarista de recusar apoio aos que dele mais necessitam. Além das dificuldades crescentes no apoio de saúde, há os cortes de subsídios de férias e de Natal os aumentos de preços e, de uma forma geral, a redução do dinheiro disponível para a satisfação de necessidades vitais. Chega a ter-se a dúvida de se não terão como objectivo a eliminação de todos os inactivos, por os considerarem pesados nas contas do Estado.
Por esta razão, dadas as circunstâncias, será necessário e, mesmo, indispensável que os governantes façam um esforço para passarem a tomar decisões claras e convincentes para as pessoas e com a aceitação destas, como é próprio das democracias. Governar não pode reduzir-se a um exercício teórico em sala isolada do país e dos seus cidadãos. Será bom que sejam postos em prática conceitos de humanidade como os referidos no início desta reflexão.
À Querida Amiga (...) agradeço ter-me inspirado a estas palavras neste dia.
Iamgem de arquivo
Sexta-feira na Rua do Benformoso em Lisboa
Há 2 horas
4 comentários:
Grande abraço, Amigo João Soares!!
Qual velho, qual quê?
Está impecável!!
Aquele abraço
Caro Pedro Coimbra,
Muito obrigado pela visita e pelas simpáticas palavras.
Repare que não me lamento da minha DNA (data de nascimento antiga, ou PDI). No título está «Felizmente !».
O texto não passa da expressão de ideias de um «velho» que procura ser sábio e, para isso, se esforça por estar bem atento aquilo que se passa neste planeta, realçar nos posts o que de mais prometedor surge na comunicação social (que infelizmente nunca é demais) e alertar para o que parece menos correcto a fim de ser corrigido antes de causar catástrofe. Já me chamaram missionário e evangelizador, mas a minha modéstia não aceita tais epítetos. Apenas gosto que reconheçam a minha boa vontade de contribuir para uma humanidade mais harmoniosa, pacífica e cooperante. E o melhor que me podem fazer é aderir a esta campanha para melhorar a vida das pessoas no seu relacionamento e civismo.
Quanto a estar «impecável», felizmente não me tem faltado saúde, talvez devido à origem e ter nascido na zona serrana da Beira Alta e se a saúde não está má isso pode atribuir-se a uma vida sem excessos, com muito ar livre, desde pequeno em que diariamente com frio, chuva, vento, neve ou sol, percorria a pé a distância (cerca de 6 Km) de casa ao liceu e o regresso. Por vezes, penso nesse esforço e admiro-me que, apesar das viagens de cerca de hora e meia com qualquer tempo, chegava à cerimónia da abertura das aulas e recebia um prémio de assiduidade (um papel) por nunca ter faltado nem sequer chegado atrasado no ano anterior. Coisas de antanho!!!
Os prazeres e as dificuldades das variadas tarefas que desempenhei deram-me oportunidades de conhecer melhor a vida na sua complexidade e as diferentes motivações que levam as pessoas a agir de forma mais ou menos camuflada.
Por isso, me sinto feliz por ter chegado até aqui em bom estado de saúde e com uma visão razoável das tramas que o mundo tece e com vontade de exercer de forma consciente e esclarecida os deveres e os direitos de cidadão comum. Desejo poder continuar a vida seguindo o mesmo rumo, com pequenos ajustamentos às realidades, sempre em mutação.
Desejo para si, neste ano que está no início, as maiores felicidades e muitos êxitos pessoais, familiares e profissionais.
Abraço
João
Velhos são os trapos, meu caro. Eu digo que vou ficando mais experiente a cada ano que passa.
Cumps
Caro José Lopes,
Pois é isso de experiência acumulada e de aprendizagem com aquilo que se vê, ouve e lê que se define o «velho» sábio, como o vinho do porto se valoriza com a velhice.
Agradeço a visita e o comentário.
Abraço
João
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