Transcrição de artigo, que serve de tónico para meditar com realismo na situação actual de Portugal e da Europa:
Uma onda de optimismo
Diário de Notícias. 19-01-2013. por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
Na visita de Merkel a Lisboa ficou no ar uma tese psicológica sobre a crise. A importância da atitude. Desde aí, dando mais uma vez mostras sobre quem é que manda na desarrumada casa europeia, tem havido uma corrida para saber quem se mostra mais optimista. Primeiro foi Hollande, logo a seguir Monti, depois Lagarde. Agora até parece que são os técnicos da OCDE a trocar as sóbrias técnicas de previsão pela consulta dos gurus da "New Age", vendo sinais de crescimento para Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha, já em 2013.
O que fica por explicar é como será isso possível numa Europa dominada por políticas de austeridade, e onde a locomotiva alemã perdeu mais de dois pontos percentuais em relação ao crescimento de 2011, vítima da contracção dos mercados da periferia europeia e chinês?
Para onde vai exportar Portugal, quando a Espanha recua nas suas importações?
Onde é que estará a alavanca financeira da retoma quando a banca está paralisada a lamber as suas próprias feridas?
Como é que se poderá crescer em países esmagados por níveis brutais e crescentes de desemprego (15%, na Irlanda, 16%, em Portugal, 25%, na Grécia, 26%, em Espanha)?
Como é que irão reagir as pessoas, abandonadas pelos seus Estados, quando nem sobrarem migalhas para suportar o desemprego de longa duração, em sociedades devastadas pela "desvalorização interna"?
Nada mudou de substancial na crise europeia. Numa metáfora bélica, passámos da guerra de movimento, quando os mercados pareciam estar prestes a varrer a Zona Euro, para uma guerra de atrito, onde os europeus vão continuar, lentamente, a destruir-se a si próprios.
O que permanece é o défice de conhecimento e de ética pública da elite sem merecimento que nos arrasta neste pântano.
Esta gente está optimista com o quê?
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Duplo critério
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