Depois do muito que vem sendo dito acerca do OE 2013 e das previsões do valor do factor de recessão em fins do próximo ano, entre 1% e 5,3, a notícia Passos diz que Portugal saiu da zona de perigo só pode ser uma brincadeira hilariante, tal como o foi a garantia referida na notícia de 14 de Agosto Passos anuncia o fim da recessão em 2013. Poucas semanas depois desta promessa, o PM «prometia» o agravamento da austeridade, que prejudicaria todos os aspectos da vida dos portugueses, excepto a dos banqueiros, dos grandes empresários, dos grandes especuladores financeiros e dos administradores dos organismos públicos referidos por Luís Marques Mendes.
Só pode dizer-se que se saiu da zona de perigo mostrando claramente ao povo que a austeridade abrandou e que a sua vida está aliviada dos sacrifícios que lhe vêem sendo impostos. Ora o que o povo sabe e sente é que os sacrifícios que já são grandes vão ser agravados por insistência nas medidas já conhecidas como contraproducentes e por não serem escolhidas alternativas para resolver a crise estrutural.
Assim, o «perigo» constitui uma ameaça que estará presente até à consumação do acidente ou, pelo melhor lado, até ser claramente reduzida a hipótese deste, portanto, na realidade, ainda estamos na zona de perigo, porque ainda não se concretizou a queda irreparável no fundo do precipício, num suicídio colectivo, sob o empurrão de tecnocratas que desprezam as pessoas cujas vidas e direitos estão em jogo, nem houve cortes nas despesas estruturais do Estado, nem as empresas deixaram de encerrar, nem o desemprego teve redução visível, nem melhoraram as condições de vida dos mais carentes.
Nessa óptica contabilística e trágica, as despesas com organismos sugadores da energia nacional, referidas claramente por Luís Marques Mendes ainda podem continuar a «mamar» nas tetas do Estado durante mais umas semanas, enquanto a incapacidade dos governantes deixar que existam. O perigo talvez fosse afastado, deixando o povo mais aliviado, se fosse dada atenção ao milhar e meio de sumidouros do dinheiro público referidos pelo Conselheiro de Estado.
Seria bom que o PM convencesse o «operador de calculadora» que está á frente das Finanças a olhar para as despesas do Estado e das autarquias e para as pessoas que pagam impostos e, em compensação, sofrem cortes de vária ordem.
Mas não pode deixar de se considerar a hipótese de o título da notícia ser propositadamente enganoso por parte do jornalista. Nesse caso, pode ser seguido o exemplo do procedimento judicial iniciado pelo MDN contra a agência Lusa acerca do título da notícia sobre o discurso das Caldas.
Realmente, governar em Democracia obriga a comunicar com verdade e transparência, usando a norma «claro, preciso e conciso». Prometer é um risco ou um perigo em que não é bom incorrer, porque prometer obriga a cumprir.
Para os portugueses aceitarem e partilharem, motivadamente, o esforço da política de reconstrução do país, precisam de conhecer as causas, as características, os factores que influenciaram os problemas, quais as alternativas possíveis para a solução e quais as razões que levaram o Governo a adoptar uma delas e, por fim, poderem, pelo seu próprio raciocínio, prever os efeitos do seu esforço para a melhoria da sua vida e a dos seus descendentes.
Desejo boa sorte para Portugal, com uma governação realista e sem fantasias de futurismo insustentável.
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quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Sair da zona de perigo
Publicada por A. João Soares à(s) 20:15
Etiquetas: austeridade, crescimento, governar, recessão
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1 comentário:
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É pena que as melhores soluções tivessem sido desprezadas pelo Governo, logo no início, apesar dos muitos e bons conselhos surgidos de fontes de grande credibilidade.
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