Ultimamente, apesar de a situação de crise aconselhar a aumentar a produtividade, em benefício da economia nacional, isto é, do aumento do bem-estar dos portugueses, tem-se usado e abusado das greves, algumas que nada prejudicam os causadores do mal-estar, mas que provocam sérios incómodos aos inocentes utentes dos serviços públicos.
A notícia intitulada Tribunal intima administração da RTP a reunir-se com trabalhadores sugere meditação sobre as relações entre trabalhadores e entidades patronais.
Primeiro a interrogação: porque será que, dizendo-se que estamos em democracia, essa reunião entre administração e trabalhadores não teve já lugar, de forma espontânea, sem ser necessário a imposição do tribunal? A resposta não pode afastar-se da qualidade dos administradores e gestores de instituições e empresas públicas e ou dependentes de dinheiro público.
Geralmente, salvo eventuais excepções, eles não ocupam os cargos por reconhecida competência técnica e de liderança, mas apenas por troca de favores, compadrio, cumplicidade ou conivência com os detentores do Poder político. Como estão ali para receber um bom salário e pouco ou nada sabem, não têm possibilidade de dialogar com os representantes dos trabalhadores.
Por estas razões, o diálogo, que deve ser uma análise das realidades e dos pontos de vista dos litigantes e consta de cedências de ambas as partes para encontrar o ponto de entendimento, nunca é concludente, porque há um grande desequilíbrio entre as capacidades das partes dialogantes: dum lado, está o sindicato, com profundo conhecimento dos problemas em litígio, e experiência de argumentação, obtida ao longo de anos de luta. Do outro lado, está o administrador sem a mínima capacidade, interessado em agradar ao Poder para manter o tacho, com a agravante de usar da arrogância devida ao apoio que a política lhe concede, e não está disposto a fazer cedências. O resultado é o sindicato suspender a fantochada das negociações e ir para a greve.
A greve constitui o último degrau da escalada de conflito entre a entidade laboral e a entidade patronal, como a guerra o é nos conflitos entre Estados. Muitas vezes a guerra é dispensada por ter havido acordo, em diálogo directo ou por intermédio de mediadores aceites pelos dois lados. No diálogo há sempre cedências de ambas as partes, as quais são maiores ou menores conforme a capacidade de diálogo, os argumentos utilizados pelas partes.
Há dias, um amigo salientava a ausência de greves nas instituições militares, mas há uma explicação para isso. É uma questão da reconhecida competência e valor da autoridade patronal, neste caso dos comandantes das unidades e da instituição. Entre os militares, normalmente o comandante, pela sua preparação inicial e continuada, a experiência adquirida ao longo do tempo de serviço, o ascendente que tem sobre o pessoal e, porque não, a disciplina por todos assumida, compreendida e aceite, tornam desnecessária a greve. Esta só poderá acontecer com a conivência do comando contra a tutela política (só em situação pré-revolucionária).
O militar, desde os primeiros postos, aprende o trabalho de equipa e a compreensão dos subordinados, por forma a que no combate, quando olhar para os lados e para trás veja que os seus colaboradores estão consigo e não se encontra isolado em frente do inimigo.
Nas empresas com características públicas ou municipais, os responsáveis, muitas vezes, não possuem saber, sensibilidade e experiência para liderar a equipa em cuja chefia foram colados artificialmente.
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sábado, 22 de dezembro de 2012
Greves. Porquê tantas ?
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6 comentários:
O problema é que num país falido a greve não serve para nada.
A notícia do Público de 23-12.2012
Nuno Melo considera greves “trágicas” para a recuperação do país
Faz pensar que será bom que os políticos reflictam bem neste assunto e passem a empossar nas lideranças das empresas públicas e daquelas em que têm influência, pessoas competentes em gestão,
em liderança de pessoal e em capacidade de diálogo com os sindicatos. Depois, provavelmente as greves serão muito mais raras.
Caro Taxi Pluvioso,
Realmente a greve não serve para nada útil, mas no entanto vai criar graves problemas aos utentes e clientes dos serviços.
Porém, terá a vantagem de alertar os poderes públicos para reverem o critério de escolha dos gestores das empresas, passando a escolher indivíduos, independentes ou não, mas com qualidades comprovadas de capacidade de gestão, de liderança de pessoal e de poder de expressão e de diálogo para serem capazes de enfrentar os sindicalistas e de com eles dialogarem com poder convincente, sem necessidade de recorrer ao autoritarismo dos amigos políticos.
Vindo as coisas mal de cima, não se pode esperar que sejam os trabalhadores a ter civismo, generosidade e patriotismo que supere as insuficiências das cúpulas.
Abra e Boas Festas
João
Acerca das greves sádicas que só trazem incómodos aos utentes, aos clientes, eis duas notícias:
- Vários transportes públicos em greve a 25 de Dezembro em Lisboa
- Greve pára comboios da CP no dia de Natal
Pois é, é que a greve era uma forma de luta das sociedades industriais, com milhares de trabalhadores encafuados em fábricas e a viver em barracas, esse tempo acabou, e seria necessário outras formas de luta (uma delas tem sido a deslocalização da mão de obra para países em crescimento).
Caro Táxi Pluvioso,
Actualmente, a greve acaba por nada resolver de forma a compensar os sacrifícios causados a inocentes sem beliscar os poderes que, em teoria, pretendem atingir.
Seria melhor resolver os atritos através de negociação, mas para essa solução seria necessário haver gestores com categoria para compreender os seus trabalhadores, os seus problemas e ter capacidade de diálogo. Mas não foram nomeados para o tacho por possuírem tais predicados.
Boas Festas e Abraço
João
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