Transcrição de artigo:
Chumbo neles
Correio da Manhã. 04-09-2012 Por: Paulo Morais, professor universitário
O programa de assistência financeira a Portugal (PAFP) já passou por cinco processos de apreciação por parte da troika. Mas, até hoje, ainda não são conhecidos quaisquer resultados destas avaliações.
Seria expectável que, no termo de cada avaliação, o governo apresentasse publicamente um relatório circunstanciado, enunciasse as medidas já executadas, elencando também os respectivos benefícios para Portugal. Simultaneamente, deveria apresentar a lista das que não foram implementadas, os motivos do incumprimento e o prejuízo que daí advém. Sem esquecer de informar, a bem da transparência, para onde são canalizados os milhões das sucessivas parcelas do empréstimo.
O facto é que não só não há relatórios, como também não há medidas estruturantes. Passado mais de um ano, não se reduziram as taxas milionárias garantidas aos concessionários das parcerias público-privadas, não houve diminuição significativa das rendas exorbitantes pagas à EDP. Também não se agilizou o sistema de Justiça. Das medidas previstas no memorando, afinal apenas se tomaram as menos relevantes, ou seja, aquelas que não beliscam os grandes interesses. Entretanto, as privatizações correm mal, com o processo de alienação da participação do Estado na EDP a ser alvo de suspeitas por parte das autoridades judiciais.
Apesar deste nível inquietante de incumprimento, o dinheiro continua a jorrar aos milhões e é mal utilizado. O estado mantém quase intacta a sua capacidade de efectuar má despesa pública e em quantidades colossais. A estrutura de despesa é irracional, sendo mesmo a maior fatia gasta em juros de dívida pública, que representam anualmente cerca de nove mil milhões de euros. Com a cumplicidade da troika, o PAFP dá suporte ao estado português para que este sustente a agiotagem. Por outro lado, e para cúmulo, o PAFP ainda apoia os bancos, concedendo-lhes empréstimos ou até permitindo aumentos de capital com recursos públicos. Os milhões dos sucessivos empréstimos estão a ser erradamente aplicados. Além disso, o memorando de entendimento nem sequer é cumprido nas suas medidas mais primordiais. Por mim, a avaliação está feita: chumbo para a troika e para o governo.
Imagem do Correio da Manhã
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Governo e troika
Publicada por A. João Soares à(s) 22:43
Etiquetas: défice, governo, sentido de responsabilidade, troika
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4 comentários:
Não há nenhuns resultados a apresentar, Portugal será expulso do euro tal como a Grécia, este programas não funcionarão. Portugal tem um PIB de 170 mil milhões e uma dívida de 700 mil milhões, no euro está lixado, fora do euro lixado está, a situação é gravíssima e não lhe vejo solução. boa semana
Caro Taxi Pluvioso,
A solução seria simples se os políticos fossem gente competente e séria e se apenas gastassem dentro dos limites que têm na carteira. Sempre aprendi isso e raramente fui além disso.
A ignorância deles vai ao ponto de não saber usar as operações aritméticas de adição e subtracção. Pior é serem vaidosos arrogantes e julgarem-se no direito de abusar do dinheiro dos impostos para ostentação de luxos, se rodearem de muito pessoas dispensável, arranjarem tachos para todos os seus amigalhaços coniventes e cúmplices de negociatas e subordinarem-se aos interesses dos que têm muito dinheiro.
Ontem num programa da RTP um, o entrevistado criticava o Governo de não obrigar os privilegiados e tubarões a contribuírem de acordo com as suas posses para combater a crise. Disse que faz mais falta a um pobre ter de pagar 2 euros do que a um tubarão pagar 2 milhões e fez a seguinte escala:
privilegiado é aquele que tem um rendimento superior a 10 mil euros por mês;
muito privilegiado é aquele que tem um rendimento de mais de 50 mil euros por mês;
tubarão é aquele que tem um rendimento de mais de 100 mil euros por mês.
Disse ainda que o Governo deve ser claro e verdadeiro nas explicações que dá do emprego do dinheiro que nos tira e dos sacrifícios a que nos obriga. Os abusos e a péssima gestão do dinheiro público vêm a publico apenas ocasionalmente, porque não há vontade política para a clareza e a verde.
Disse mais que depois de mais de um ano de actividade, o Governo devia fazer um fim de semana de reflexão para analisar o que está errado na sua actuação, as promessas que não foram cumpridas e adoptar com rapidez as correcções necessárias.
Sem medidas drásticas não sairemos desta situação de saque sistemático aos mais desfavorecidos.
Mas, como diz, não se vê solução com políticos eivados de graves males de falta de ética e de moral.
Abraço
João
Eu não culpo de forma tão taxativa os políticos, pois a culpa primária é de quem os elegeu, eles apenas executam o papel do Estado que é defender os interesses da classe dominante. De que serviria escolher este (PSD) ou aquele partido (PS) se não fosse para ajeitar as coisas de forma a que uma certa elite fizesse negócios ou outra elite (ou parte da nossa elite)? Ganha um partido tem mais poder uma parte da nossa elite (lembro-me que com Sócrates Belmiro andava sempre por lá, a explodir prédios em Tróia, não estou a dizer que eles são fiéis ao políticos, isso não, se não servem os seus interesses debandam logo). Veja-se o exemplo da RTP, há anos que Balsemão e Paes do Amaral pressionam os governos para lhes dar aquela fatia do mercado publicitário, conseguiram, creio que foi com Guterres que a fatia da RTP fosse reduzida a metade daquela dos privados e agora conseguiram um bom governo que finalmente lhes fará a vontade.
Agora anda uma onda de otimismo que o BCE vai comprar dívida, isso não resolverá num problema, pode adiá-lo, o caso português é o sobre endividamento, mas o caso europeu é um problema económico, a produção de riqueza deslocou-se para outras zonas do globo.
Caro Taxi Pluvioso,
Não se trata de culpar. Quem somos nós para culpar, se os tribunais não culparam o Isaltino, a Fátima Felgueiras, o Sócrates?
Já será muito se conseguirmos compreender, o que se passa, neste regime tão complexo que, em nome do povo, se explora e empobrece o povo já na pobreza, para benefício das elites políticas, financeiras, etc.
Os grandes empresários prendem os políticos pelos colarinhos e, depois de receberem os seus favores (por exemplo, grandes obras públicas, pontes e auto-estradas) dão-lhes a cenoura como prémio, como foi bem visível, por exemplo, no caso da Mora-Engil.
O regime não presta porque acaba por como o amigo faz, atirar com as culpar para os eleitores que ainda não aprenderam que aquilo que os partidos merecem é o VOTO EM BRANCO, cujo significado só pode ser um: Nenhum dos candidatos merece o voto, a confiança, do eleitor sério e sem compromissos com os bandos.
Abraço
João
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