Transcreve-se este artigo de opinião do Diário de Notícias de 22 de Dezembro, por ter muita actualidade e vir ao encontro de artigos já aqui publicados.
Para inglês ver
Joana Amaral Dias
Psicóloga, genecanhoto@gmail.com, DN, 070122
Quando se soube da saída de João Cravinho do grupo parlamentar do PS, com o objectivo de ocupar um lugar no Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (em Londres) - convite dirigido pelo próprio primeiro-ministro - houve quem acreditasse na bondade e casualidade da oferta. Porém, outros - talvez menos crédulos -, sabendo que o deputado preparava uma série de elementares medidas anticorrupção, com vista a agilizar e a modernizar este imprescindível combate, interpretaram o posto como uma tentativa de silenciamento.
Cravinho prometeu que não deixaria o Parlamento sem levar as suas propostas a bom porto. E garantiu que o bilhete para Londres não o compraria. Ou seja, não o corromperia. Foram meses de discussão. Para que agora o grupo parlamentar do PS concluísse - pasme-se! - que as mesmas são "portadoras do vírus da insegurança jurídica", segundo Vera Jardim. Uma forma tecnicista e nada frontal de chumbar estas iniciativas, como se a peçonha morasse nas propostas e não na corrupção.
O PS não apenas se demitiu desta luta como o fez de uma forma pouco séria. Alberto Martins assegurou que as propostas de Cravinho foram rejeitadas pelo seu grupo parlamentar, quando as mesmas não terão sido nem aceites nem chumbadas. Aliás, vários deputados só tiveram acesso pleno às propostas no início da reunião! Que conveniente... Uma forma pouco séria, também, porque, entretanto, o PS atirou para os media propostas alternativas que, na verdade, são completamente pífias. Mas que não deixam de revelar a intenção de enganar.
Com Cravinho exilado num conforto manso e com o PS a gerir esta pasta desastrosamente, o que fica em causa é a própria credibilidade da causa, fundamental a qualquer democracia. Impossível não lamentar que Cravinho tenha aceitado o posto londrino, nestas circunstâncias.
O resultado é o mais que provável livre curso da corrupção em Portugal, mesmo que contrariado em pomposas palavras de combate. Como, entretanto, Cavaco Silva proferiu no 5 de Outubro um muito comentado discurso sobre este tema e como receberá hoje Cravinho em Belém, veremos quanto vale a fala do Presidente da República. Deixar andar a corrupção também será cooperação estratégica? Pode ser que sim. Mas não em nome dos interesses do País.
NOTA: Artigos sobre o mesmo tema em Do Mirante:
- Corrupção impune, em 070112
- Corrupção. Falta de vontade política, em 070119
segunda-feira, 22 de janeiro de 2007
O Poder não repudia a corrupção
Publicada por A. João Soares à(s) 06:27
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