quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

ECONOMIA CIRCULAR

Public em O DIABO nº 2295 de 24-12-2020, pág, 16, por António João Soares)

Um amigo veio falar-me de economia circular, muito interessado naquilo que ouviu da TV, e já tinha ido à Internet buscar mais pormenores e tinha já umas folhas com os textos que encontrou.

Fiquei surpreendido com a ideia desenvolvida sobre uma realidade em que vivi nos meus primeiros 18 anos, numa aldeia rural a poucos quilómetros de Viseu, onde não havia electricidade, nem água canalizada, nem recolha de lixo. A vida rural, em moldes primitivos, já se inseria naquilo que agora se denomina pomposamente economia circular, com explicações novas e definições de muitas vantagens para o desenvolvimento da economia moderna.

É curioso como em tal época (1934- 1952) pessoas pouco informadas, sem condições hoje já banais, praticavam uma 1József Szájek, advogado de 59 anos, eurodeputado húngaro, foi, há uns dias, detido em Bruxelas pela avisada polícia belga quando se escapulia de uma orgia gay, previamente programada. Isto segundo foi referido pela imprensa. A notícia é tanto mais surpreedente e vergonhosa quanto será certo que Szájek é casado desde 1983 com a senhora Tunde Handó, que é presidente do Conselho Geral do Poder Judicial e membro do Tribunal Constitucional, tendo nascido, dessa relação, um ser do sexo feminino. Saliente-se que Szájek redigiu – em conjunto com outros colegas – uma noreconomia hoje interpretada como plena de vantagens extraordinárias.

Não havia recolha de lixo porque nada era desprezado e considerado lixo. Aquilo que hoje se denomina reciclagem era o normal aproveitamento de tudo e eram raros os contactos com o comércio da cidade próxima.

Vejamos os circuitos económicos numa “empresa familiar”. As sementeiras eram feitas em terra lavrada por uma charrua manobrada por um adulto e puxada por uma junta de bois guiada por um jovem. Depois de completa a lavra era espalhada a semente proveniente da colheita anterior e depois o terreno era alisado por uma grade, também puxada pela mesma junta. Depois de a semente nascer, recebia os cuidados de desbaste e de tratamento da terra. O produto retirado no desbaste era aproveitado para alimento do gado.

O gado pernoitava sobre os produtos retirados da limpeza das matas e que depois eram usados como fertilizantes. As matas eram preparadas de forma a que nunca, naquele período, assisti ou ouvi referências a qualquer incêndio. Os ramos mais antigos dos pinheiros eram cortados e usados como lenha para a lareira e o forno do pão e como estacas para as videiras, os feijoeiros, as ervilheiras e outras plantas que necessitavam desse amparo. Os restos de refeição deixados nos pratos iam para alimentação da porca, etc. Portanto, a reciclagem era um processo corrente e não havia lixo.

Agora, será bom que esta prática seja aplicada à indústria, se isso for possível, porque são grandes as dificuldades de coordenar as acções de empresas industriais tão diversificadas na utilização de peças usadas e inutilizadas em equipamentos de outras empresas com interesses diferentes. A organização de circuitos adequados, a burocracia, etc., não se apresentam fáceis e terão de se situar ao nível do bom entendimento entre as empresas abrangidas nas áreas geográficas.

É indispensável uma persistente acção de mentalização e de formação do pessoal que trabalha em tais empresas. As mudanças de hábitos arraigados não é coisa fácil nem rápida. Mas, realmente, é imperioso que se trabalhe com intenção de reduzir as lixeiras ao mínimo possível e se procure reciclar tudo o que puder ser útil para qualquer outra coisa. Isto fica mais dependente de cada um do que das autarquias ou outros poderes, mas estes devem estar atentos aos descuidos e fazer recomendações oportunas e claras intencionalmente orientadas para o objectivo pretendido.

 Se a economia circular era viável na agricultura do século passado antes de aparecerem as tecnologias modernas, também será possível, e talvez mais fácil, agora. Tal modernização é muito vantajosa para a defesa do Ambiente e a qualidade da saúde das pessoas e de outros seres vivos. Contribui para tornar mais rentável a economia, com o embaratecimento de equipamentos e redução de desperdícios. Devemos ser apoiantes da economia circular.

 Os sucateiros devem ser os primeiros dinamizadores do estímulo a esta inovação, encaminhando os produtos que possuem e aqueles de que sabem a origem, para as oficinas que sabem transformá-los em produtos úteis e vendáveis. ■


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sábado, 19 de dezembro de 2020

MUDANÇA PARA MELHOR

(Public em O DIABO nº 2294 de 18-12-2020, pág, 16,  por António João Soares)

 

Está instalado na nossa sociedade, dita democrática, um caos político que impede a livre expressão de ideias consideradas pelo “poder” não “politicamente correctas” e constrange a argumentação que serviria para informar e respeitar os cidadãos e suscitar a sua colaboração activa para um futuro melhor do Pais e da qualidade de vida das pessoas, permitindo a explicação da opinião de quem pense diferentemente dos “sábios”. As eleições nos Açores foram um autêntico terramoto, para a elite dependente do Governo Nacional, criando um pânico, claramente demonstrado pelas reacções das hostes do partido todo poderoso.

A historiadora M. Fátima Bonifácio, no Jornal Público, deixa uma reflexão muito isenta e profunda do fenómeno. Merece ser lida, interpretada e dela aproveitadas as lições aplicáveis à governação evolutiva para um futuro melhor.

A população mais sacrificada no actual regime é a da direita civilizada, assim apelidada pela cobardia envergonhada de se assumir, e que vive confinada à sua toca e não só não reage, como se recusa a pensar e falar nos mais graves problemas que afectam todos os cidadãos, limitando-se às drogas anestesiantes do futebol, das telenovelas e de outras ninharias da televisão. Em vez da participação como cidadãos livres e com opinião, como a Constituição permite, o povo vive como simples gato de estimação, “comedido, dirigível e aprazível”.

Mas há quem receie que um dia desperte e use de brutalidade que torne impossível uma mudança serena para uma evolução benéfica para o país com melhor qualidade de vida para as gerações mais jovens e vindouras. A mudança deverá ser racional com valores éticos, enfim com moralidade, justiça social e leis respeitadas por todos sem excepções. Há quem tenha esperança de que o caso açoriano possa ter sido o primeiro passo de uma nova etapa do melhor futuro desejado com “democracia” bem interpretada. Respeitando o povo, defendendo-o e apoiando-o com justiça social permanentemente orientada para os seus interesses colectivos, os interesses nacionais.

É preciso transparência que permita às pessoas colaborar com conhecimento de causa para o Bem de Portugal, com motivos racionais de confiança e respeito pelos seus eleitos. Para isso, os adormecidos e apáticos devem despertar e defender-se dos caprichosos e ambiciosos “donos do poder” e saber ocupar e utilizar positivamente o espaço que ainda não é efectivamente usurpado pelos que “querem, podem e mandam”, desrespeitando as leis feitas por eles próprios, que são apenas para o povo e eles ficam à sombra das excepções e nos alçapões que lhes introduzem. A lei deve ser geral e obrigatória para todos. Por exemplo, não deve haver uma lei para as reformas da generalidade dos funcionários públicos e outra totalmente diferente para os que passaram pela política. Os eleitos para defender o povo não devem trair este, com tal descaramento e falta de vergonha.

Para a mudança não ser violenta e com custos difíceis de recuperar, convém que seja praticada de forma generosa, progressiva, racional e com abertura, cumprindo as liberdades previstas na Constituição, com respeito por todos os cidadãos e acabando com regalias não democráticas, com gastos excessivos, com a corrupção, com o exagerado número de gente em funções fictícias e de cuja acção nada resulta realmente para bem dos portugueses. Mais do que de promessas e outras palavras enganadoras, a governação deve assentar em transparência e em resultados reais obtidos.

A revolução pode seguir a ideia de Edmund Burke com uma espécie de conservadorismo que não seja retrógrado nem pretenda inverter a marcha do tempo. Segundo este autor, a visão conservadora da sociedade assenta na modernização sucessiva de sectores que realmente precisem de ser reformados, até tudo ficar diferente e moderno sem ter havido atritos. ■

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sábado, 12 de dezembro de 2020

DEFENDER O AMBIENTE E RESPEITAR O ESPAÇO CÓSMICO

(Public em O DIABO nº 2293 de 11-12-2020. Pág 16. Por António João Soares)

 Vi numa notícia, há minutos, que as pessoas esperam “um possível julgamento histórico sobre as mudanças climáticas”, depois de o Tribunal dos Direitos Humanos ter dado “luz verde” ao caso inédito de seis jovens portugueses de Leiria acusarem 33 países em matéria de clima.

Será bom que o Tribunal, na preparação do processo, ouça opiniões de bons cientistas, competentes e independentes de facções políticas, e não influenciados, às cegas, pelas campanhas da sueca Greta Thunberg. Em seis artigos que publiquei desde Abril de 2019, dedicados ao assunto das alterações climáticas, refiro a diferença entre a defesa do ambiente que depende dos comportamentos humanos e o combate às mudanças do clima que é um fenómeno natural que o homem não pode dominar significativamente.

Porém, o mal mais grave para o clima não se confina aos 33 países acusados pelos seis jovens. A Natureza, no espaço cósmico circundante ao sistema solar, em que o planeta Terra se encontra, reage a fenómenos que os humanos estão a provocar pelo abuso das tecnologias que desenvolveram, principalmente aquelas que produzem radiações electromagnéticas que lesam o equilíbrio físico do espaço cósmico a que o Cinturão de Van Allen reage com sinais de alerta para termos mais cuidado. Curiosamente, alguns cientistas têm referido as coincidências entre as pandemias que nos têm atacado desde há mais de um século, com as sucessivas fases de agravamento da produção de radiações electromagnéticas. Desde a electrificação das localidades, ao aparecimento das telecomunicações e, recentemente, a divulgação dos telemóveis, dos radares, disfarçados como sensores, etc..

Cada ponto do planeta e da sua atmosfera, cada um de nós, é permanentemente bombardeado por radiações vindas de milhões ou biliões de origens. Uma chamada de telemóvel irradia para o espaço, atingindo tudo e todos. O sensor do carro que detecta a proximidade de um obstáculo irradia permanentemente para o espaço. A porta que se abre à nossa passagem, também tem um sensor a poluir ou envenenar o espaço que o circunda. Etc.

 E qualquer radiação electromagnética fere, mesmo que ligeiramente, qualquer célula viva. E o Cinturão de Van Allen é um conjunto de astros que circundam o sistema solar e ao qual a Natureza encarrega de defender esse espaço cósmico de qualquer influência estranha. Há quem atribua a gravidade do corona vírus aos efeitos do cumprimento dessa missão cósmica do Cinturão. E já aparecem cientistas a prever que a humanidade está próxima da sua extinção, talvez por já estar a exagerar os estragos que está fazendo no espaço cósmico. Quer com estas radiações provenientes do solo terrestre, quer dos milhares de satélites que retransmitem as radiações de telecomunicações. Tudo isso tem tendência a aumentar porque é esse o negócio das grandes empresas, qua apoiam os governantes e são por eles apoiadas.

Com os olhos e os pensamentos postos nestas realidades estão os cientistas que prevêem a extinção da espécie humana dentro de poucas dezenas de anos, talvez não passando do próximo século. Tudo o que tem início acaba por ter fim. E de seres humanos existiram várias espécies antes do homo sapiens. Talvez depois venha uma nova espécie que saiba ser mais responsável e consciente. Houve os Australopithecus, os Kenyanthropus, os Paranthropus, o Homo habilis, o Homo ergaster, Homo erectus, Homem de Neandertal, Homo rhodesiensis, e, depois, o Homo sapiens. Não podemos desejar qualidades especiais para uma nova espécie, porque poderíamos cair nuns destruidores de tudo o que agora tem valor, como acontece com os actuais jovens que pretendem destruir a história, as tradições e obras de arte que encontram, com pretextos inconscientes de racismo, colonialismo, fascismo, etc.

O que é necessário é proteger o ambiente de forma a vivermos com saúde e alegria e protegermo-nos das situações agressivas da Natureza. ■


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sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A EDUCAÇÃO E O FUTURO

A educação e o futuro

(Public em O DIABO nº 2292 de 04-12-2020 pág 16. Por António João Soares

A degradação e extinção de nações e sociedades tem-se devido a desleixos e erros na educação e no ensino, logo a partir da infância. A tolerância e aceitação de pequenas anomalias vai-se repetindo e tomando aspectos de graves consequências. Por exemplo, o “acordo ortográfico” foi uma tolerância e aceitação de erros que ocorriam impunemente e hoje não se diferencia fato de facto. O desmazelo está a chegar ao ponto de, em jornais e no ecrã da TV, se verem erros frequentes devidos a desleixo e a falta de respeito pelos clientes. Vêem-se frases em que se mistura o singular com o plural, o masculino com o feminino, letras trocadas ou em falta, etc., e tudo porque não há o cuidado de ler todo o texto antes de o dar como concluído. Tal desmazelo representa falta de brio, de sentido de responsabilidade e de respeito pelas pessoas que irão ler.

Pequenas falhas devem ser corrigidas logo que detectadas em indispensáveis actos de verificação do trabalho. Mas, infelizmente, está a criar-se uma tolerância exagerada e os mais altos responsáveis, ao delas terem conhecimento, sacodem as culpas, toleram e esperam que isso não afecte a vida que se segue. Mas qualquer erro deixa consequências permanentes. Um minuto de infelicidade são 60 segundos de infecção cerebral que contribuem para o Alzheimer ou outro mal-estar cerebral. Também, a consequente alteração de um texto legal ou a sua substituição provoca a generalização do desrespeito pelas leis e pelos governantes que as assinaram.

É certo que “errar é humano”, mas os humanos que erram deixam de merecer confiança e respeito. E a prevenção desta maleita começa na preparação das crianças para a vida desde os primeiros contactos com familiares e, depois, nos bancos da escola. E assim, quer os comportamentos quer a utilização do idioma nacional serão sempre de boa qualidade. Hoje, ao falar Português, já quase é necessário utilizar um dicionário de boa qualidade e actualizado. Já temos mil e uma maneiras de dizer a mesma coisa. E depois surgem dúvidas sobre se a ordem era xis ou ípsilon. E quando há dúvidas ou erros, devem ser esclarecidos sem demora e evitar a táctica do “depois se verá e pode ser que não haja problema”, porque isso pode acarretar situações desagradáveis ou mesmo muito graves.

 Nas escolas, os professores, além do ensino da matéria do programa, devem desempenhar o papel de mestres do comportamento dos alunos e não se colocar nas mãos destes, deixando-se enredar nas fantasias juvenis. Devem, sempre que vier a propósito, exigir aos jovens comportamentos que os ajudem a preparar-se para virem a ser cidadãos cumpridores, responsáveis, perante os professores, os familiares, o país, os cidadãos em geral, etc. Não devem, como tem acontecido ocasionalmente, alinhar em fantasias infantis aventureiras que destroem as boas tradições e a história nacional, pondo em risco a continuidade da nossa história e da nossa língua, conhecida em quase todo o planeta. É certo que a tradição e a Língua, como tudo o que é natural, evolui com o decurso do tempo, mas essa evolução não deve ser forçada por machado e picareta como quem constrói uma estrada. O tempo se encarregará disso. Os livros de há séculos usaram um Português diferente do actual, mas não consta que a evolução tenha sido forçada, como aconteceu recentemente no “acordo”. Mas o nosso ensino escolar não deve circunscrever-se ao uso do idioma e à divulgação de conhecimento científico. Deve dar noções de ética e de comportamentos sociais e de responsabilidade e respeito pelas pessoas.

Para encerrar, a educação, na sua complexidade, deve preparar os alunos para serem adultos, cidadãos perfeitos (quanto possível) na sua vida familiar, social e profissional. Evitar erros, porque um minuto de arrelia tira 60 segundos de vida feliz, e a felicidade é a nossa maior riqueza. ■


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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE ESTÁ EM DIFICULDADE

(Public em O DIABO nº 2291 de 27-11-2020, pág 16. Por António João Soares, Coronel)

O SNS constitui uma necessidade vital para a saúde dos portugueses, mas a falta de verbas tem dificultado o seu funcionamento de forma continuada, o que, com as tricas entre o serviço privado e o do Estado, o tem tornado menos eficiente, e isso tem sido visível com a complexidade da actual pandemia. O desleixo e o abandono a que tem sido sujeito por sucessivos governos levou-o a uma situação crítica.

De momento, não parece haver instituição que possa substituí-lo na sua função vital para a saúde da generalidade dos portugueses, na garantia de cuidados de saúde, sem olhar a posição social ou situação económica. Mas pessoas com poder de pressão nos políticos e influenciadas pela ideologia da corrupção ou do simples negócio, fomentam a oposição dos interesses privados, incluindo o apoio de políticos familiares ou amigos, contra a existência do SNS, a fim de empolar a fonte de negócios que a sua extinção constituiria para os seus clientes, mesmo que isso fosse à custa dos portugueses e do país.

Contrariando tais interesses privados e suas pressões, o Governo deve analisar com eficiência as condições de funcionamento do serviço, dotá-lo dos equipamentos adequados e observar com regularidade o seu funcionamento por forma a dar-lhe conveniente apoio, a fim de melhorar as condições da saúde dos cidadãos. Esta intenção constitui um factor fundamental da responsabilidade do Governo, para quem o objectivo essencial deve ser a defesa dos cidadãos em todos os variados aspectos da vida.

Só um Serviço Nacional de Saúde forte poderá enfrentar, com um dano mínimo, um enorme desafio como o do Covid-19, e outros que poderão vir. Não bastam camas, são precisos profissionais. Não bastam profissionais, é preciso equipamento. Não bastam hospitais e centros de saúde, é necessário que funcionem em rede. Não bastam meios, é necessária coordenação e boa comunicação.

A desorganização da rede do SNS tem- -se degradado ao longo de anos, como é evidente pois, apesar do tempo decorrido e de os meses de Verão terem dado tempo para preparação, ainda parece não existir um plano de actuação nacional, definindo estratégias de prevenção e de combate, com regras bem definidas, patamares ou escalões e protocolos claros entre os vários sectores de saúde. Se isto não está decidido, será porque as falhas existentes são graves, estruturais, severas e profundas.

A solução para este assunto é semelhante à que deve ser aplicada na generalidade da função pública, nomeando para a sua liderança pessoas inteligentes, competentes, experientes e com sensibilidade para os interesses nacionais e das pessoas e respeitadoras destas, nos seus direitos e garantias. Mas, em vez deste método, tem sido utilizado o emprego da família, da amizade, do pagamento de favores e de atenções, e o resultado tem sido visto a cada momento difícil.

E não se venha com a desculpa da carência de meios financeiros, pois ela não é fiável, como se verifica na excessiva despesa do dinheiro público em situações menos significativas para o interesse dos portugueses, como aquela em que os contribuintes estão a pagar mais de sete milhões de euros de subvenções vitalícias a ex-políticos e ex-juízes, em alguns casos, de muitos milhares de euros a alguns contemplados e que têm sido aumentados. Os reformados, regra geral, não produzem qualquer benefício para o Estado que justifique tão grandes remunerações. Há até opiniões defendendo que os reformados devem ter uma reforma moderada e equilibrada, porque a apresentação, a vaidade e o aspecto não devem ser motivo para os contribuintes terem de suportar a ostentação relacionada com o cargo que já não exercem.

O dinheiro público sacado aos contribuintes deve ser investido em benefício do interesse nacional, isto é, dos cidadãos, com são critério, com parcimónia e com respeito pelos contribuintes. ■

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sexta-feira, 20 de novembro de 2020

IMIGRAÇÃO E TERRORISMO

Imigração e terrorismo

(Public em O DIABO nº 2290 de 20-11-2020, pág 16. Por António João Soares)

 A Europa tem sido vítima de ataques terroristas que têm levado alguns líderes políticos a pensar e propor restrições duras à entrada de migrantes e imigrantes, principalmente os de religião islâmica, nomeadamente os jihadistas dos quais partiram ataques a várias igrejas cristãs. Tais ataques não têm aspecto social, com motivos de desentendimentos que tivessem levado ao exagero da violência. Os seus motivos parecem ser limitados a ódios obsessivos a religiões e a crentes diferentes dos partilhados pelos autores de tais actos inqualificáveis por se dirigirem a pessoas e monumentos inocentes de crimes ofensivos.

Mas as migrações existem desde tempos muito primitivos, em que pessoas deixavam os seus países à procura de uma vida melhor com melhor retribuição do seu trabalho e com condições de formação para conseguirem, posteriormente, melhores empregos com melhores salários. Outros iam em busca de melhores conhecimentos culturais para desenvolverem os seus dotes artísticos. E assim se foram criando rotas de comunicação entre Estados e continentes e levando para qualquer ponto a evolução gerada em regiões mais beneficiadas. Ainda há pouco tempo vi a divulgação do grande passo em frente dado pela China na sequência do contacto com os navegadores portugueses que criaram a ligação marítima para o Oriente, para onde levaram a evolução tecnológica do Velho Continente, a Europa, de onde partiu todo o saber. A China, que vivia de forma muito primitiva, absorveu facilmente tais novidades e aproveitou esse saber e, depois, arrancou ela própria com a ânsia de mais evolução, ultrapassando nos nossos dias a evolução do Ocidente que, entretanto, parece ter adormecido.

A Europa, há poucos anos, tornou-se o polo de atracção de população desprotegida da África em busca de vida melhor, e muita foi aproveitada como mão-de-obra para suprir a quebra existente devida à diminuição da natalidade. Mas, entretanto, alguma dessa mão-de-obra, em vez de melhorar os seus comportamentos e aprender a viver em moldes mais modernos e civilizados, quis impor os seus hábitos e gerou uma espécie de colonialismo, impositivo no pior sentido. Em vez de melhorarem a sua qualidade de vida, como era esperado, dificultaram a vida de quem os recebeu generosamente.

Depois, veio o terrorismo e o derrotismo, condenando todo o passado dos seus acolhedores. Esse terrorismo está a amedrontar de forma terrível todos os habitantes da França que vivem aterrados depois dos ataques a Notre Dame, à catedral de Nantes e a muitas outras igrejas.

Por isso Macron, Presidente francês, tem pressionado as chefias da União Europeia para serem fechadas as fronteiras a certo tipo de pessoas e estabelecer formas de evitar o terrorismo demolidor de vidas e de património nacional e histórico. Mas os líderes europeus, habituados a não fazer excepções na aplicação da caridade e no respeito pelos direitos, liberdades e garantias, estão com dificuldades em usar de uma Justiça do tipo “quem com ferros mata, com ferros morre”. Mas quem mais tem sofrido esses actos de nojento terrorismo, não concorda com essa inacção contra os inimigos do povo. 

Ter bom coração para os migrantes e refugiados deve exigir deles um comportamento exemplar de respeito pelos acolhedores pelas suas tradições e pelos valores cívicos. Quem vai viver para outra localidade por aí se sentir melhor e mais seguro deve aceitar educadamente tudo o que nesse local é praticado. Se não gostar deve sair e ir escolher aquilo de que gostar. Não tem jeito pedir abrigo e depois não o merecer e, pior ainda, querer impor os seus hábitos aos que estão a viver no local de onde são naturais.

Um ditado muito antigo dizia: Na terra onde fores viver, faz como vires fazer, se não queres aborrecer. ■

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sexta-feira, 13 de novembro de 2020

MANTER O CÉREBRO ACTIVO AUMENTA A LONGEVIDADE

Manter o cérebro activo aumenta a longevidade

 (Public em O DIABO nº 2289 e 13-11-2020, pág 16. Por António João Soares)

 Andamos a aprender até morrer, e devemos evitar deixar o cérebro inactivo porque, tal como o exercício físico desenvolve os músculos e as articulações, também a acção da vida psíquica e intelectual prolonga a vida mental em melhores condições, adiando o envelhecimento e a chegada do Alzheimer ou de outras doenças características da idade avançada. Li há dias que, ao contrário daquilo que muitos pensam, as células cerebrais não deixam de se desenvolver e de se reproduzir e chegam muitas vezes a ter um desenvolvimento excepcional quando um idoso se dedica a nova actividade de que gosta e que exerce com entusiasmo e sequência.

À medida que se avança na idade, em vez de se ir para o jardim jogar as cartas com amigos, é preferível exercer uma actividade de que se goste e que tenha utilidade para o próprio e para outras pessoas, familiares, amigos, etc.

Depois de os órgãos da Comunicação Social deixarem de ter utilidade na formação cultural dos seus clientes, concentrando-se apenas em coisas de reduzida importância na difusão do conhecimento da vida social e prática, deixei de perder tempo em frente de um ecrã de TV e procurei outras formas de analisar a vida que me cerca, perto ou longe, pensar nas causas de muitas desgraças que ocorrem pelo mundo, e imaginar possíveis soluções que possam contribuir para mais humanidade, mais respeito entre as pessoas e desenvolvimento de vida harmoniosa para um futuro melhor e mais conforme com os preceitos de religiões conceituadas que se difundiram apelando a uma família global em que todos se respeitam como irmãos.

Quando passei a dispor de tempo e facilidades na internet para me comunicar com mais pessoas, evitei cuspir ódio, como muitos fazem, e pus em prática os objectivos que atrás referi, elogiando atitudes públicas que acho positivas e conducentes a um futuro melhor; quanto a actos menos construtivos para uma sociedade melhor, ou dou sugestões, se me sinto em condições de o fazer, ou procuro alertar para melhorar estratégias, esboçando perguntas acerca do tema que possam servir de estímulo para revisão de procedimentos.

Vivia na dúvida se os meus escritos teriam algum interesse para alguém e obteriam algum efeito na sociedade em que vivo. Um amigo desde jovens, que é bom poeta mas muito pessimista, acusa-me de ser um sonhador com miragens irreais. Essa dúvida tem-me tentado a pensar em desistir de publicar os meus pensamentos. Pois se ninguém me lê, para que hei-de ocupar espaço em jornal e na comunicação digital? Mas agora surgiu um raio de luz vindo do ilustre Professor sociólogo Augusto Ramos, acerca de uns artigos meus sobre a ONU. Gostei de que ele tivesse lido o que escrevi, porque andava receoso de que a minha pouca diversidade de temas se tornasse monótona e de pouco interesse. Mas foi uma injecção estimulante a forma como se me referiu e o processo, como é seu apanágio, muito bem escrito e argumentado, veio dar ao tema um âmbito muito mais elevado, com análises e argumentos profundos e enriquecedores, muito além daquilo que eu tinha esboçado. Mas fê-lo de forma simpática, dando-me o prazer de eu me sentir ligado à ideia do seu belo trabalho, publicado em O DIABO nº 2287 de 30 de Outubro. Estou muito agradecido a este ilustre Senhor.

Voltando ao tema de hoje, fica o conselho para os reformados: a longevidade e a saúde mental e também física e geral depende do exercício mental, ao lado do exercício físico, sem perder muito tempo a falar do que já passou e sem teimar em preparar um futuro que é incerto, mas em aproveitar da melhor forma as oportunidades do presente, para se sentir feliz, transmitindo aos amigos felicidade e bons conselhos, com o saber da experiência e da diária aplicação à análise da realidade, muitas vezes oculta pelo nevoeiro. ■


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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

FALTA DE CIVISMO E DE COMPETÊNCIA DE GOVERNANTES

(Public em O DIABO nº 2288 de 06-11-2020, pág.16. Por António João Soares)

Há escritores, com aspecto de serem pessoas de cultura e mentalidade evoluída, que colocam, com credibilidade, a hipótese de a espécie humana estar próxima da sua extinção, talvez acelerada pelas alterações a que estamos a assistir por parte da Natureza nas alterações climáticas e em pandemias que destroem a resistência psíquica das pessoas perante os fluxos que a medicina não consegue controlar.

Essa incapacidade psíquica não provém de interferência da Natureza, mas sim do próprio ser humano que, por deficiente educação, vive viciado na ambição do dinheiro e esmagado pela vaidade e orgulho, levando a humanidade a uma violência sem limites, desde o pequeno ataque de malfeitores até ao uso de armas fortemente letais. Ainda há pouco, vi a notícia de que o presidente da Turquia “avisa os EUA que não sabem com quem se estão a meter”. Imagine-se a gravidade disto perante a desproporcionalidade do poder de cada interveniente e dos apoios que lhe podem ser dados por outros poderosos, num mundo em que a maldade, a raiva e o ódio, quando disparados, ficam incontroláveis.

Apesar da real pouca eficiência da ONU para manter a paz mundial, o seu Secretário- -Geral, o nosso conterrâneo António Guterres, esforça-se por repetir apelos para vários pontos do Globo, a fim de serem evitadas guerras através de cessar-fogo, diálogo, acordos, etc. No dia 23, após cinco dias de negociações em Genebra sob a égide da ONU, foi assinado um cessar-fogo permanente entre as partes em conflito na Líbia. Vários casos semelhantes têm ocorrido pelo mundo. Mas muitos têm rompido passado pouco tempo, às vezes por pressão de “amigos” de uma das partes na mira de vantagens na exploração de petróleo e outros produtos naturais. Porém, é positivo o apoio desinteressado de vários países, movido apenas pelo bom senso e a generosidade solidária destinada a recuperar a paz e tornar o mundo mais harmonioso e civilizado.

Os próprios EUA, actualmente, ainda usam a sua prepotente potencialidade, em vez de negociação para a procura de soluções negociadas, abusam da deslocação de militares para pequenos países amigos, raramente obtendo a solução desejada para obter a paz, como se viu na Somália de onde retiraram sem obtenção do desejado resultado. Praticamente o mesmo sucedeu no Vietname, no Iraque, e está a prestes a ocorrer no Afeganistão e no Paquistão. Na Coreia do Norte, do encontro entre os dois presidentes não houve propriamente êxito nas conversações, mas sim o resultado do mais poderoso, que levou o mais fraco a encolher-se. A tensão surgida entre o Irão e os EUA não foi solucionada e foram os Estados Unidos que, perante outros parceiros do acordo nuclear de 2015, deixaram de cumprir as suas promessas. Trump mostra ameaças, mas não é apoiado pelos seus aliados. O Irão mostra-se forte e agressivo e os parceiros aconselham calma aos americanos. A tensão está difícil de ser normalizada, até porque os membros da NATO desejam que os EUA encontrem uma solução apaziguadora que silencie a tentação da violência.

Tudo isto porque não há um sistema de autoridade internacional que impeça conflitos em que são destruídas vidas e haveres, em vez de eles serem resolvidos pacificamente logo ao primeiro sinal anunciador. As energias assim desbaratadas deviam ser orientadas para acções sociais que contribuíssem para a população viver mais feliz e criadora de maior riqueza, cultura e diversão. Mas para isso os povos deviam ser governados por pessoas bem preparadas e possuidoras de elevado grau de civismo, respeito pelas pessoas e preocupadas em criar um ambiente de harmonia e bem-estar social, sem pobres desamparados nem ricos ambiciosos e loucamente arrogantes.

São desejáveis governantes bem preparados, dedicados ao seu país, sensíveis e respeitadores das pessoas, na generalidade. ■


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quinta-feira, 29 de outubro de 2020

DAR PRIORIDADE AO ESSENCIAL

(Public em O DIABO nº 2287 de 30-10-2020, pág 16. Por António João Soares)

Quem desempenha funções em que tem de tomar decisões importantes, além dos cuidados em decidir com sensatez, ponderação e com vista ao objectivo pretendido, tem antes disso a responsabilidade da escolha dos objectivos prioritários, os mais fundamentais e essenciais, a fim de não desbaratar energias e meios que depois fazem falta.

Individualmente, não se deve gastar mais do que a importância que está disponível para não se ficar sem reservas, e apenas se deve comprar aquilo que faz falta e é necessário, evitando acumulação de ninharias e coisas repetidas. A vaidade e a ambição de dar nas vistas geram situações de carências em sectores fundamentais. Isso ocorre em momentos de abundância de meios ou por se receber herança ou prémio de qualquer lotaria ou outra origem.

Neste momento, o nosso País está a preparar-se para aplicar fundos disponibilizados pela União Europeia e ouvem-se ou lêem-se ideias de utilização por vezes pouco sensatas. O essencial devem ser os interesses das pessoas que vivem com dificuldades e sem maneira de as resolver. Por exemplo, na área da saúde, tem sido referida a carência de instalações hospitalares e respectivos equipamentos e especialistas, com capacidade para fazer face ao apoio eficaz em casos especiais. A protecção civil não se tem mostrado com eficácia para garantir convenientemente a prevenção dos incêndios florestais, com a organização aconselhável das áreas mais propensas a essas tragédias.

O emprego pode ser melhorado com apoio a empresas de menor dimensão que produzem bens apropriados para exportação, de onde resulta apoio financeiro para reduzir dívida pública. A exportação também pode ser acrescida permitindo a instalação de empresas estrangeiras que, à semelhança da AutoEuropa, dão emprego a trabalhadores especializados nacionais e enriquecem o País aumentando a especialização da nossa mão-de-obra com elevada preparação.

Um investimento muito rentável e significativo, em termos de soberania e de independência, é a reforma da ferrovia em termos de mudança para a bitola europeia, como muito claramente vem explicando, na página 4 de vários números deste Semanário, o grande patriota Henrique Neto. As vantagens são muito variadas e numerosas, começando por embaratecer os preços finais dos produtos importados e exportados entre o País e os seus clientes e fornecedores da Europa, pela poupança de tempo de viagem e da complexidade desta, com a actual interferência espanhola, altamente e que não permite o método, em preparação, de o transporte poder ser feito no sistema porta-a porta em que os camiões fazem a viagem sobre carruagens ferroviárias e, depois de serem apeados destas, poderem dirigir-se para a empresa de destino sem ser preciso carregar e descarregar. O mesmo pode ser feito no regresso, carregando na origem e vindo descarregar no destino. Esta alteração, libertando-nos dos custos a pagar à Espanha, tem um significado que faz lembrar a vitória na batalha de Aljubarrota

O investimento na Educação também é fundamental, porque, como disse António Costa, em entrevista à TVI, “o maior défice estrutural do país ao longo de décadas, ou mesmo de séculos, é o défice do conhecimento e qualificação dos recursos humanos. É esse o défice que temos de vencer”. Mas, para isso, deve ser transmitido aos alunos saber científico e não ideologias de “falsos sábios” não confirmadas cientificamente, como vem sendo o estilo de grupos terroristas que afectam o Médio Oriente e a África e pretendem arrasar o Ocidente.

Outro objectivo é o funcionamento da Justiça, principalmente no combate à corrupção e outros delitos em que tem vindo a público a excepção de indivíduos impunes, principalmente em negócios com o Estado e com grandes empresas, por contrato directo sem concurso público. ■


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sábado, 24 de outubro de 2020

PAÍS RICO TEM POPULAÇÃO EVOLUÍDA

(Public em O DIABO nº 2286 de 23-10-2020, pág 16. Por António João Soares)

País desenvolvido e rico, como todos gostariam de ser, não é consequência da sua antiguidade, da quantidade de produtos naturais disponíveis, da sua dimensão geográfica, da riqueza agrícola, do número de intelectuais nem da raça dominante. Os bens e os serviços existentes não são o factor essencial.

Esses países distinguem-se pela qualidade do seu povo no que respeita a segurança, ordem e trabalho. As pessoas devem ter consciência da sua actividade, espírito colectivo e solidariedade, moralidade, ética, respeito pelos outros e espiritualidade.

Para isso ser conseguido, as boas qualidades do povo desenvolvem-se desde tenra idade e a partir de pequenas organizações da comunidade, onde o cidadão vive e convive. Aí, ele se desenvolve ao longo da vida nas associações relacionadas com a vida social e cultural, nas confrarias, associações de bairros, clubes de idosos, festas de santos populares, etc. Cada instituição dessas constitui um mini-Estado com características próprias de que os componentes se orgulham. Nesses ambientes se criam tradições e modalidades de vida, músicas e bailados regionais que levam ao culto de valores e à verdadeira riqueza de um País.

Quando hoje se fala em descentralização deve evitar-se a fragmentação do poder central e a autoridade imposta nas localidades por mentalidades insensíveis às características ali existentes. Deve, sim, apoiar-se a afectividade e o sentimento nacional no reforço dos objectivos do Estado, com base no povo. É nisso que assenta a frase “em democracia, o povo é quem mais ordena”. E deve incentivar-se a prevalência, sobre a matéria, do espírito, da solidariedade e da convergência de esforços, dos afectos e da procura da perfeição.

Os valores procurados devem ser a ética, a integridade, a responsabilidade, a pontualidade, o respeito pelas leis e regulamentos e pelos direitos dos outros, a dedicação ao trabalho, o esforço consciente pela poupança e pelo investimento, o desejo de superação para o bem do próprio e da colectividade. Isto está a ser posto de lado com as ideologias de género, a destruição das tradições, da história e das religiões de povos com raízes antigas.

Ao constatar um erro, devem ser analisadas as causas que o originaram e procurar evitar a sua repetição, a fim de obter a perfeição. A maior preocupação de todos deve ser com a sociedade e não com a classe política que é o efeito dos aspectos menos espirituais dos cidadãos. Desta forma se consegue melhorar os países e torná-los mais ricos e mais exemplares e respeitáveis. E deve ser dada atenção às palavras dos cidadãos mais dignos, pois eles, normalmente pouco faladores, merecem ser ouvidos com muita atenção e estimulados a não se manterem silenciosos, pois eles podem aconselhar a correcção de erros graves cometidos pelos políticos. É que está provado que “o pior das sociedades actuais é o silêncio dos bons que suportam situações difíceis sem reagir”.

A propósito de países ricos e desenvolvidos, procure-se conhecer bem os factores que levaram o Japão e a Suíça, respectivamente, a segunda potência económica e ao grande forte financeiro mundial, ambos com solo pouco fértil e muito montanhoso, de pequena dimensão, mas com populações dotadas de virtudes como as atrás citadas.

O esforço para a preparação mental da população, embora seja visível nas organizações locais e regionais, deve merecer a devida atenção por parte do sistema de educação, quer nas escolas quer noutras instituições afins, sempre com respeito pela ética, a moral, as tradições e os ensinamentos da história propícios à preparação de um futuro coerente com os momentos mais gloriosos do passado. Isto não pode conformar-se com mudanças relâmpago. Pessoas sensatas não se deixam levar, de ânimo leve, por vendedores de fantasias que pretendem destruir o saber adquirido serenamente durante vidas. ■


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domingo, 18 de outubro de 2020

O MUNDO É DE TODOS NÓS

O Mundo é de todos nós

(Public em O DIABO nº 2285 de 16-10-2020. Pág 16, Por António João Soares)

A pandemia do coronavírus atingiu todo o Mundo e não se ficou pelos idosos nem pelos sem-abrigo. Poderosos governantes foram atingidos, como foi o caso de Donald Trump e da sua esposa. Esta é uma das várias lições que nos são dadas pela pandemia e devemos aprender. Somos todos habitantes do planeta Terra e a Natureza trata-nos como iguais. E perante esta lição, devemos interrogar-nos: para que servem a ambição, a vaidade, o uso da violência para impor a própria vontade e tomar posse das potencialidades naturais de estados mais fracos?

A harmonia e a amizade tornam mais fácil a melhor utilização das capacidades mais úteis que a Natureza coloca ao nosso alcance e também permitem o combate convergente aos males naturais que nos podem surgir, como aconteceu com a pandemia que ainda nos preocupa. De mãos dadas, em acções combinadas, convictos de que somos parceiros da mesma equipa, somando os esforços individuais, orientados para objectivos de interesse colectivo, podemos obter a maior felicidade e melhorar a qualidade de vida de toda a humanidade.

O diálogo e o convívio amigável facilitam a felicidade pessoal, de grupos e de sistemas internacionais. Há poucos minutos vi a notícia de que, depois de 17 anos de conflitos entre diversas partes do Sudão que custaram dois milhões de vidas e quatro milhões de desalojados, o governo de transição e cinco movimentos armados assinaram um acordo de paz que coloca um ponto final nessa crise indesejável. A intenção é alcançar um equilíbrio entre a paz global e a transição para a democracia para conduzir à estabilidade política e ao desenvolvimento, pela primeira vez desde a independência, há mais de 60 anos.

Felizmente, há mais governantes de preponderância na política internacional dispostos a ajudar a restabelecer a paz onde ela está a fracassar. Já sobre o conflito na região separatista do Azerbaijão, conhecida por Nagoro-Karabakh, onde há cerca de duas semanas decorrem combates mortíferos, houve unanimidade de Putin e Macron ao apelarem para o fim «completo» dos combates e ao afirmarem estar prontos a intensificar esforços diplomáticos para ajudar. Exortaram as partes em conflito ao cessar-fogo e a, rapidamente, reduzir as tensões e mostrar o máximo de contenção.

Perante as presidenciais previstas na Costa do Marfim para 31 de Outubro, reúnem-se no início do mês, em Abidjan, representantes dos países da África Ocidental, União Africana e Nações Unidas e Costa do Marfim, numa missão de «diplomacia preventiva» tendo em vista a eleição presidencial. A comitiva foi liderada pela ministra dos Negócios Estrangeiros do Gana, país que preside actualmente à comunidade regional de países da África Ocidental e os seus elementos terão encontros com membros do governo e responsáveis de instituições envolvidas na organização das eleições bem como com os candidatos e partidos políticos.

Estas medidas para a paz são positivas e os apelos do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, são muito louváveis ao apelar, em vários casos, aos acordos de paz e ao disponibilizar altos funcionários para dar ajuda para fomentar o diálogo e negociações preparatórias. Também têm sido notáveis os esforços para a solução da tensão na Bielorrússia devida a suspeitas no resultado das últimas eleições presidenciais e desejo generalizado de novas eleições, devidamente controladas. Também a tensão entre os EUA e o Irão tem sido alvo de procura de solução pacífica. No entanto, todos os esforços têm sido insuficientes, porque há grandes interesses por detrás da violência e os terroristas continuam a fazer estragos, por apoio dos fomentadores de conflitos. A invasão do Iraque em 2003 foi suscitada pela indústria de armas a pretexto da existência de armas de destruição maciça que depois não foram encontradas.

No início deste ano, 39 pessoas morreram num ataque ‹jihadista› perpetrado contra um mercado numa localidade do norte de Burkina Faso. No princípio de Agosto, indivíduos pertencentes ao grupo islâmico Boko Haram atacaram a população, no norte dos Camarões, causando 18 mortos e 11 feridos.

Façamos tudo o que pudermos para a paz e harmonia deste mundo que é de todos nós. ■


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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

ONU. O QUE ESPERAR DELA?


(Public em O DIABO nº 2284 de 09-10-2020, pág 16. Por António João Soares

 A ONU foi criada com a intenção de serem evitadas guerras, isto é, com os Estados a conviver numa desejada harmonia, evitando ao máximo conflitos armados e resolvendo qualquer mal-entendido de forma dialogante, na procura de soluções, ou por conversação directa ou com ajuda de intermediário. O actual Secretário-Geral tem mostrado vontade e habilidade para aconselhar esse tipo de comportamento, sugerindo a procura de soluções pacíficas, de que agora se destaca o caso do Irão, procurando travar a irritação dos EUA, com uma posição ilegítima que contraria a posição tomada em 2018.

Há cerca de dois anos, em texto aqui publicado, referi que não me pareceu sensato que o Conselho de Segurança, em vez de tratar indiscriminadamente os seus Estados-membros, criasse uns especiais, com direito a actividade permanente, a veto e a liberdade para dispor de armas nucleares que eram vedadas a todos os outros. Na altura, havia o caso de a Coreia do Norte ter desenvolvido uma arma nuclear e mísseis com capacidade de a fazer explodir em qualquer ponto do território dos EUA. Trump reagiu de forma pacífica levando Kim Jong Un a desactivar instalações e equipamentos que tinha construído. Trump não actuou de igual para igual entre os dois Estados membros da ONU, mas abusou da sua melhor posição económica e financeira para se impor.

É sensato que a ONU tivesse desejado evitar a utilização de armas nucleares que, embora na II GM fossem de pouca potência e ainda “experimentais”, mostraram ser altamente nocivas para a humanidade, quer em vidas humanas quer em danos materiais e em seres vivos, animais ou vegetais. Mas devia aplicar essa interdição a todos os seus estados-membros e não deixar a excepção para as potências que têm o privilégio de dominar o Conselho de Segurança. O caso da Coreia do Norte foi resolvido por Trump, um dos poderosos donos do Conselho, que usou da sua imagem de poderoso contra um Estado-membro de pequena dimensão.

Neste momento estamos perante semelhante prepotência do mesmo “ditador”. Em 2015 assinou, acompanhado de cinco Estados seus parceiros na Nato, um acordo com o Irão e em 2018, como não estava a ser tratado com a deferência e a obediência que desejava, abandonou o acordo e, agora, sem consultar os ex- -parceiros do acordo, alguns também membros permanentes do C.S., decidiu impor sanções ao Irão. Os outros parceiros não concordam e o próprio Secretário- -Geral da ONU também não, e disse que a ONU “não vai apoiar a reposição de sanções contra o Irão, que continua a ser exigida ao Conselho de Segurança pelos Estados Unidos”.

As partes dum tratado ou participantes dum mesmo organismo devem respeitar- -se em regime de igualdade, sem nenhuma puxar da sua qualidade de mais poderosa. O respeito mútuo exige compreensão pelas qualidades e defeitos de cada um, mas sem imposição ou subordinação de gostos ou de interesses.

O título deste texto deixa curiosidade quanto às próximas reformas que a ONU deve fazer para se libertar da subordinação a vencedores da II Guerra Mundial. Se a arma nuclear é considerada indesejada, deve ser desactivada por todos aqueles que a possuem. E isso deve ser um acto testemunhado por uma equipa de técnicos independentes e isentos. E devem ser desaconselhados espectáculos como o da explosão no Afeganistão da “rainha das armas” de Trump, cujos resultados foram nulos, e não impediram que, poucos dias depois, um grupo terrorista entrasse num quartel, em hora de oração com todos os militares desarmados e debruçados sobre o solo e causasse uma quantidade brutal de baixas.

Para concretizar as intenções do Secretário da ONU, para além de reduzir a utilização de armamento e de evitar a guerra, devem ser organizados grupos de mediadores para incentivar a resolução pacífica de problemas e manter boa harmonia e sentido de colaboração e ajuda entres os Estados-membros. ■

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quinta-feira, 1 de outubro de 2020

A UNIÃO EUROPEIA E A SUA ESTRATÉGIA

(Public em O DIABO nº 2283 de 02-10-2020, pág 16. Por António João Soares)

A União Europeia foi instituída em 1993 pelo tratado de Maastrich tendo as suas origens na Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, em 1957, seguida da Comunidade Económica Europeia, constituídas por seis países, e foi aumentando a sua área geográfica com a adesão de novos Estados-membros, ao mesmo tempo que dilatava a sua esfera de influência com novas competências políticas.

A sua localização no centro do Ocidente e debruçada sobre o Oceano Atlântico cria-lhe uma posição de valor considerável, ao nível das principais potências mundiais, tendo tido, por exemplo, um papel importante na Guerra Fria que decorreu após a II Guerra Mundial e que constituiu um factor muito importante para o início de uma convivência internacional dialogante que se tem desenvolvido, apesar de alguns pequenos conflitos com o envolvimento de uma ou outra das grandes potências.

Actualmente, tem vindo a sentir à volta da sua área geográfica e em algumas suas regiões mais periféricas sinais de instabilidade e de tendência para eventuais violências. É oportuno que recorde a vocação pacifista que lhe deu origem e que desenvolva o esforço necessário para reforçar a sua vocação de apoio e cooperação aos povos que estejam a necessitar de mediação para evitar actos de violência e para a procura de soluções pacíficas através do diálogo bilateral com o sem intermediários e de negociações cooperantes.

De momento, as atenções estão focadas na situação interna da Bielorrússia e na da Líbia, no Norte de África, onde, desde a morte de Muamar Kadafi, há quase nove anos, ainda não foi constituída uma organização política eficaz para gerir a vida social e a economia. E note-se que a riqueza da produção de petróleo merece uma boa concentração de esforços para ser bem gerida com vista ao enriquecimento nacional. Nestes dois países que agora precisam de ajuda, é oportuno que alguém, com prestígio, experiência e sensatez, lhes diga: pensem bem no futuro do vosso país e na forma de o enriquecer e melhorar a qualidade de vida dos vossos cidadãos. Um conflito, mesmo de pequena duração, faz gastar as vossas riquezas, enfraquecer as vossas economias e desgastar o amor que os vossos jovens devem alimentar ao país e ao futuro de cada um deles. Uma Nação deve funcionar como uma equipa desportiva, sempre com o olhar no objectivo comum que devem querer conquistar com conjugação de esforços coerentes e unidos. A dispersão de esforços e de intenções gera divisões, raivas e ódios que não resultam em nada de bom.

Mas a importância da UE não deve confinar-se ao seu território nem aos seus vizinhos. O seu prestígio torna-a desejada em locais mais distantes. Por exemplo, o Fórum Euro-África arrancou na quinta-feira, 3 de Setembro, com o propósito de aproximar os dois continentes e contou com um debate virtual entre o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o seu homólogo do Gana. O líder do fórum explicou que foi desagradável os dois continentes terem estado cerca de 50 anos de costas viradas e é necessário voltarem a um bom entendimento que deve ser vantajoso para ambas as partes.

A UE também deve intervir para facilitar o bom relacionamento entre a Turquia e os Estados que com ela partilham o mar entre a Ásia e a Europa. Também tem sido positiva a posição da UE no amaciamento das relações dos EUA com a China e com o Irão, evitando as ameaças de acções militares que agravam os desentendimentos, mesmo que pequenos.

Mas para a UE desenvolver a sua estratégia, precisa de estar segura de que ela corresponde aos interesses de todos os seus Estados-membros, ouvindo não apenas os seus líderes políticos mas, principalmente, personalidades sensatas e bem preparadas que conheçam e amem o seu país e os seus concidadãos. ■


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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

COLABORADORES. AMIGOS OU COMPETENTES?

  (Public em O DIABO nº 2282 de 25-09-2020, pág 16. Por António João Soares)

 O detentor de funções que exigem responsabilidade e competência e dispõe de poder para escolher colaboradores deve usar de sensatez para decidir entre candidatos a quem deve favores e outros que são competentes e eficazes. Têm surgido casos a que a comunicação social, apesar da submissão ao politicamente correcto, tem dado atenção.

Uma senhora governante não deu a devida atenção aos doentes de um lar de idosos infectado por um surto de covid-19, não avaliando o funcionamento para detectar as causas e adoptar medidas correctivas e preventivas a fim de parar a tragédia. Ao ser interrogada em entrevista, confirmou que não se dera ao trabalho de ler um relatório da Ordem dos Médicos. O PR Marcelo, nas suas andanças pelas praias, em resposta a pergunta de jornalista, afirmou que no referido caso não se tratou de ignorar apenas um relatório, mas sim quatro da mesma entidade que ele leu e indicou data e número de páginas de cada um. Disse que “é preciso ler todos”.

A incapacidade para a função e a falta de respeito pelos cidadãos mostra que há governantes inadaptados à função que aceitaram desempenhar. Esta má selecção de colaboradores, nota-se em vários casos de situações de crise, como por exemplo na prevenção e combate a incêndios florestais e na prevenção de secas. Estas situações e as medidas preventivas já foram aqui citadas várias vezes, sugerindo a compartimentação das florestas com aceiros e, quanto a secas, o aproveitamento da água do mar, com estações de dessalinização, escolhendo a latitude mais adequada para a primeira, de forma a apoiar a agricultura mais carente.

Há dias, o Ministro da Administração Interna lamentou a morte de um bombeiro que ocorreu quando combatia extenso fogo. Mas não aproveitou a oportunidade para reconhecer que desde a última época de fogos não accionou as medidas mais apropriadas para evitar mais incêndios ou, no mínimo, reduzir as dimensões dos que viessem a ocorrer. Na falta de tais cuidados com o interesse nacional e com as vidas e haveres da população rural, a tragédia dos incêndios continuará enquanto se mantiver a passividade dos altos responsáveis pelo País.

Quanto estarão a pagar, discretamente, os que tiram grandes lucros com o aproveitamento das madeiras queimadas e com a utilização dos meios usados nos combates aos incêndios? Ouve-se à boca pequena que se trata de grande negociata em que os incendiários são pagos pelo seu trabalho.

Para evitar incêndios de brutal dimensão, há que atravessar a floresta por uma quadrícula de aceiros, caminhos através da floresta com largura igual à altura das árvores mais desenvolvidas, a fim de que uma que tombe não ateie o fogo ao outro lado, e mantidos limpos para que os resíduos e as ervas secas não permitam a continuidade do fogo. O asseiro tem também a vantagem de permitir o acesso fácil a viaturas dos bombeiros e a supervisão dos cuidados de que eles precisam. A criação destes dispositivos afecta pequenas propriedades, pelo que para ser montada deve haver prévio acordo com todos seus donos, o que implica a actuação das autarquias. Tenho visto imagens de encostas, na Galiza, onde estão instalados com grande rigor geométrico.

Um acidente ou outra situação desagradável fragiliza a autoridade que os cidadãos devem reconhecer ao responsável estatal, que deixa de merecer o respeito que lhe devia ser dado; e fica-lhe bem rescindir do cargo. Foi o que sucedeu após o acidente em Beirute.

Infelizmente, esta senhora não está só. Há pouco tempo, houve um descarrilamento de comboio matando dois trabalhadores da linha e causando ferimentos e muito incómodo em passageiros. Falta de cuidados dos trabalhadores, mal mentalizados e mal chefiados. Mas o governante não se referiu às causas e aos danos e disse aos portugueses que os nossos comboios são dos mais seguros do mundo e estamos confiantes com eles. ■

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quinta-feira, 17 de setembro de 2020

SOCIEDADE SEDADA, ADORMECIDA

Sociedade sedada, adormecida

(Public em O DIABO nº 2281 de 18-09-2020, pág 16. Por António João Soares)

Portugal está a passar por uma grave crise de opinião que nos preocupa por termos, a breve prazo, eleições como as presidenciais, que são de grande responsabilidade e podem não ter significado convincente quanto ao número de votos: com as abstenções, pode acontecer que o candidato vencedor tenha apenas uma pequena percentagem do número total de eleitores. Nesse caso, o resultado será desencorajador e desprestigiante.

Mas o motivo que leva à abstenção nem é o mais grave do ponto de vista voluntarioso e mentalmente saudável da população. O mais preocupante é o estado de espírito dos portugueses que vivem, sonolentos, sedados, alheios aos problemas que nos preocupam colectivamente e a cada um.

Os órgãos da comunicação social, que no século passado contribuíam para a educação e a formação social e profissional das pessoas, hoje limitam-se a manter os ouvintes e leitores afastados de tudo o que realmente contribui para a cultura, o desenvolvimento económico e social, etc.

Actualmente, quando procuramos notícias sobre a vida do país com interesse para a competitividade com os parceiros europeus e do mundo, deparamos com negociatas do futebol ou outras ninharias; agora, mesmo isso é ultrapassado com o espaço dedicado a números da pandemia, sem análises e descrições que contribuam para percebermos melhor a gestão da crise, evitarmos erros ocorridos e, por outro lado, organizarmos a vida a fim de sobreviver com saúde e energia para melhorar o ambiente e a convivência a bem da economia e da vida social, por forma a fazer crescer o país e melhorar a vida colectiva.

Para criarmos uma economia mais moderna e competitiva, com mais e melhores empregos e mais volumosas exportações, de onde viriam melhores salários e mais comodidades na vida, é necessário que não haja escórias desinteressadas de tudo o que realmente tem valor. Ninguém deve fechar os olhos à realidade e ficar à espera de que sejam os outros a criar um país mais próspero e depois ir distribuir os resultados por ele.

Na política parece haver interesse de pessoas mal formadas e sem ética social em instaurar e defender o “politicamente correcto” e estimular a comunicação social a apoiar esse tipo de anestesia mental que mantém as pessoas alheias a tudo o que mais deve interessar.

Duas notícias despertaram a minha curiosidade, de forma positiva, até parecendo combinadas.

 Uma refere-se à retoma de actividade do Clube dos Pensadores, em luta contra a sedação agravada pela actual pandemia. É reconhecido que o debate de ideias e opiniões é necessário para aliviar as pessoas da sonolência em que se deixaram embalar. É imperioso que se instiguem a formar opinião sobre o que se passa à sua volta e que pode condicionar o seu futuro. E os debates servem para moldar as opiniões, ouvindo outros que pensam de outra forma. Numa democracia, o contraditório e a liberdade de discordar fazem parte do seu nobre léxico, e ouvindo opiniões diferentes enriquece-se a compreensão. Os debates são enriquecedores e os conhecimentos evitam ser lesados por atitudes de propaganda, de meias verdades e de falsas promessas. Os governantes e outros políticos devem trabalhar nos seus gabinetes analisando os assuntos e preparando as decisões depois de ouvirem os seus conselheiros. Quando falam em público devem dizer coisas fidedignas e com peso político. A propaganda nada os beneficia perante cidadãos serenos, sensatos e sabedores.

A outra notícia refere-se ao Fórum Euro-África, cujo organizador disse à Lusa que o grande objectivo do encontro é reaproximar dois continentes que estiveram de costas voltadas nos últimos 50 anos. Houve 3.500 inscritos para assistir, o que demonstrou que a junção da plataforma Europa e África era algo que se impunha, e mais de 70% dos inscritos eram provenientes de África. ■


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sexta-feira, 11 de setembro de 2020

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Alterações climáticas
(Public em O DIABO nº2280 de 11-09-2020 pág 4 Por António João Soares)

Há quem acredite que vale a pena lutar contra as alterações climáticas. Mas estas, praticamente, não dependem da acção do homem, pois resultam fundamentalmente do núcleo, em fusão, do planeta. A crosta sólida onde habitamos é uma ténue camada que envolve esse núcleo em ebulição e que produz alterações como montanhas e vales, vulcões, agitações como o sismo de Lisboa em 1-11-1755 e outros. A temperatura do globo depende muito do calor oriundo do seu centro.

Um dia, em actividade profissional, visitei a montanha existente entre o vale do rio Tejo e o do Trancão, perto de Bucelas e Alverca. A dada altura, comecei a ver grande quantidade de cascas de mariscos e um companheiro disse que devia ter havido ali grande piquenique, mas a quantidade era tão extensa ao longo da linha de cume que se concluiu facilmente que aquela área já tinha estado debaixo de água, como explicaria um geógrafo ou geólogo.

A Natureza tem particularidades que merecem ser meditadas. Um engenheiro reformado que era professor de Geografia na UITI, na Rua das Flores, em Lisboa, na sua aula para idosos afirmava frequentemente que o globo terrestre é uma bola ardente semelhante a uma cafeteira com leite a ferver tendo este a boiar à superfície uma ténue camada de nata. E dizia que a superfície da Terra é semelhante a essa nata quer na pouca espessura quer na reacção ao líquido fervente que envolve. Com efeito, a Terra não é um volume sólido mas uma enorme quantidade de matéria líquida, em fusão, com elevada temperatura, envolto por uma película pouco espessa, em relação à grande dimensão do globo.

Há várias hipóteses dos estudiosos do universo sobre as previsões da evolução dos corpos celestes até à sua extinção daqui a milhões de séculos. Tudo se acaba, mas esses fenómenos da Natureza não dão lugar a intervenção de minúsculos habitantes dum planeta dessa imensidão de astros. Isso não deixa espaço para “lutadores contra as alterações climáticas” poderem obter algum êxito.

A única coisa que o homem pode influenciar é a qualidade do ar que respira, normalmente em áreas limitadas, procurando evitar ao máximo a poluição e respeitando a Natureza ambiental e os seres vivos, quer vegetais quer animais, e protegendo os recursos minerais como sustentáculos da vida, mas isso terá pouco efeito nas alterações climáticas propriamente ditas.

O clima, por outro lado, também está sujeito aos movimentos cósmicos do espaço em que a Terra se encontra e se move. A órbita terrestre em torno do Sol também tem evoluções que o homem não pode controlar. Se mais não fosse, o eixo de rotação do globo terrestre não forma um ângulo recto com a direcção do Sol, fazendo o ângulo da eclíptica, do qual depende a existência das quatro estações anuais. Esse ângulo está a ser alterado, pelo que as estações vão deixando de ser rigidamente iguais em relação ao passado. Isso costuma ser notícia da alteração da inclinação do eixo da Terra. E o Sol também está em evolução, perdendo energia.

A estes factores juntam-se outros do âmbito astral, com ventos cósmicos que condicionam o clima da superfície terrestre. Segundo me informou um amigo estudioso da Natureza e de tudo o que nos cerca, “um dia de erupção vulcânica produz tanto CO2 como todos os veículos motorizados (incluindo aviões e navios) num ano. Além do CO2, que é fonte de vida para vegetais e não só, os vulcões atiram para a atmosfera milhares de toneladas de gases sulfurosos, estes extremamente venenosos”.

A única coisa que o homem pode influenciar é a qualidade do ar que respira, normalmente em áreas limitadas. Devemos procurar evitar ao máximo a poluição e respeitarmos a natureza, mas isso terá pouco efeito nas alterações climáticas propriamente ditas. Contentemo-nos por lutar pela defesa do ambiente. ■

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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

PELA PAZ E HARMONIA GLOBAL

(Public em O DIABO nº2279 de 04-09-2020, pág 16. Por António João Soares)

 Tenho repetido que o bom entendimento e a harmonia entre Estados, tal como entre pessoas, deve ser um ideal permanente. E, sendo a Humanidade constituída por todos nós, cada um deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para conseguirmos tal objectivo. Tem havido muitas pessoas de boa vontade, civismo, ética e perfeitos sentimentos que tem alimentado a esperança de que, após esta crise pandémica que obrigou ao recolhimento e à reflexão, as sociedades passem a abolir a violência e a usar de mais respeito pelos outros para se viver em convergência de sentimentos e diálogo por forma a evitar conflitos que degenerem em violência.

É certo que cada um tem a sua opinião e devemos respeitar a dos outros, mas sem impormos a nossa. E na vida colectiva as decisões que dependam de vários interessados devem ser precedidas de diálogo, pacífico e bem argumentado, por forma a ser obtido real acordo entre os intervenientes.

Esse esforço terá que ser muito persistente, para que os maus hábitos actuais vão sendo eliminados. Felizmente, vão surgindo casos louváveis, na vida internacional que estão a dar exemplos desta mudança. Um desses exemplos é o caso de a França, a Alemanha e o Reino Unido terem anunciado que não apoiam no Conselho de Segurança o restabelecimento das sanções internacionais contra o Irão, exigido pelos Estados Unidos que não gostaram de tal atitude que contraria o alinhamento da grande potência americana contra os aiatolas. Esta atitude daquele que se considera “dono do mundo” é o extremo oposto do objectivo atrás sugerido. Ela está conforme com o culto pelo poder através das armas e das Forças Armadas que estão distribuídas por grande parte dos países cuja posição geográfica querem controlar, bem como a sua posse de produtos naturais de valor estratégico, como o petróleo e outros minerais.

 Sendo as armas instrumentos de morte, a ONU deve sugerir aos Estados mais armados que comecem a pôr de lado a violência e deve iniciar a criação de equipas de diplomatas bem treinadas na mediação, para ajudar as partes de conflitos a encontrar solução pacífica, sem perda de vidas nem danos patrimoniais. Essas equipas não devem impor soluções, mas sim ajudar as partes a chegarem a entendimento, com equilíbrio de cedências de parte a parte, sempre de forma cordata. É preferível uma paz menos vantajosa a uma guerra demolidora e geradora de ódios e vingança. É pena que o conflito Irão/EUA se mantenha aceso com tendência de agravamento entre dois contendores demasiado teimosos e persistentes no mau uso das armas.

Outro caso elogioso é o apoio da Alemanha, que enviou o seu MNE à Líbia, numa visita não anunciada a fim de aconselhar a necessidade de pôr fim ao conflito que vem desde a morte de M. Kadhafi em 2011 e que, desde Abril de 2019, é uma luta entre duas facções apoiadas por milícias armadas por países estrangeiros, que devasta aquele país do Norte de África. Na sequência, foi conseguido o acordo de cessar-fogo imediato, o fim de todas as acções militares no território líbio e a concordância das partes em «trabalhar para alcançar acordos sobre a retoma integral das acções de produção e exportação de petróleo», para chegarem a uma solução pacífica. O sucesso das conversações foi aplaudido pela UE e por diversas entidades internacionais.

Também foi exemplar a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), em relação aos recentes acontecimentos no Mali onde a situação é considerada grave internamente e para a região. Esta Comunidade organizou uma cimeira para continuar as conversações para assegurar o regresso imediato à ordem e, segundo o Presidente, “esta situação é um desafio e mostra o caminho que falta percorrer para o estabelecimento de instituições democráticas fortes no nosso espaço”. ■


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quinta-feira, 27 de agosto de 2020

MUDANÇAS PARA O DESENVOLVIMENTO

Mudanças para o desenvolvimento
(Public em O DIABO nº 2278 de 28-08-2020, pág 16. Por António João Soares)

As reformas para o desenvolvimento têm sido objecto de notícias e de opiniões de cidadãos esclarecidos e interessados no melhor futuro para Portugal, dos seus cidadãos e do seu património nacional. Há muita gente a falar de mudanças, mas sem ter algo de concreto e realizável com utilidade para a sociedade de amanhã, através de uma evolução adequada, sem roturas nem alterações dolorosas, e que contribuam para as melhorias desejadas nos sectores fundamentais.

Mudar por mudar, normalmente, pode nada trazer de positivo e, além dos custos financeiros, pode arrastar a vida das pessoas para situações de crise de difícil ou impossível retorno. Para se conseguir melhorias, as decisões devem ser tomadas segundo uma metodologia semelhante à que referi no segundo artigo que aqui publiquei, há quase quatro anos, depois do convite que aceitei, com a íntima e não divulgada missão de contribuir para um futuro melhor de Portugal e da humanidade. Depois de 200 artigos publicados, que guardei no blog “Do Miradouro”, quis fazer aqui referência a dois ou três com maior interesse sobre o assunto, mas encontrei 31 de onde será trabalhoso retirar os que devia escolher para isso. Mas deixo a indicação aos eventuais interessados de que, mais fácil do que procurar e folhear duas centenas de jornais, podem encontrar os textos em http://domirante.blogspot.com, onde os tenho guardado depois de publicados.

Para decidir e concretizar a mudança, é imprescindível e fundamental definir o objectivo essencial e alguns secundários que para ele concorram e, depois, deve ser escolhida a estratégia para os atingir. Em qualquer destas tarefas a metodologia deve ser lógica e racional, sempre de olhos postos nas realidades e potencialidades nacionais, sem olhar a interesses parciais, para não lesar a escolha da finalidade desejada, que deve estar sempre em mente, de criar um melhor futuro para Portugal e para os portugueses. Por isso, a escolha de cada troço do itinerário estratégico não deve ser eivada de interesse partidário ou ideológico, para isso resultar do consenso de um pequeno grupo de especialistas altamente competentes no assunto e que se comprometam a não se deixar tentar a aceitar pressões inconvenientes.

É certo que, para cada objectivo, pode haver mais do que uma solução defensável e, quanto a isto, recordo o General Bettencourt Rodrigues que, como professor do Curso Complementar de Estado-Maior, em Pedrouços, ao preparar-se uma decisão e ao fazer a lista das soluções possíveis, dizia para os alunos: “agora durante cinco minutos a asneira é livre”. Com isso, queria dizer que na fase seguinte da discussão para escolha da melhor solução, não devia deixar de se contar com qualquer hipótese e é claro que, na maior parte, eram postas de lado à primeira vista de olhos e o maior tempo para a escolha era dedicado a duas ou, no máximo, três. E dessas a escolhida era esmiuçada em todos os aspectos para a concretizar em acções bem definidas a realizar pelos variados executantes e especialistas, sempre com os olhos postos no objectivo a atingir, a missão, como era designado em termos militares. E só depois de todo esse trabalho ser aprovado pelo responsável máximo pela operação é que eram difundidas as missões específicas para cada sector executante. E na acção, perante alterações das condições de inimigo, terreno, meteorologia e meios, podia haver ajustamentos para se manter a finalidade desejada.

Esta metodologia é aplicável a qualquer decisão individual, empresarial ou estatal e deve iniciar-se pela definição do problema, suas causas, suas condições, o meio ambiente, as pessoas afectadas, etc. A aplicação desta metodologia às decisões para a recuperação da actual crise económica e sócio-cultural pode ser uma garantia de êxito. ■

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sexta-feira, 21 de agosto de 2020

UMA OPINIÃO LÓGICA E COERENTE

UMA OPINIÃO FORA DO CAIXOTE
20.08.20 do blog irritado, recebida por email

O maior acto radicalmente racista da nossa história viveu-se por efeito da nossa maior vergonha: a descolonização, dita “exemplar”. Quase um milhão de portugueses brancos, gente de honra e de trabalho (depois de exilados viriam, mais uma vez, a prová-lo), foi arrancado à sua vida pelo MPLA e quejandos, com o apoio criminoso e cobarde das autoridades portuguesas, civis e militares.

Mortos ou expulsos os portugueses brancos, os novos donos do poder dedicaram-se a matar-se uns aos outros. Há mais de 40 anos nenhum dos povos “libertados” (à excepção de Cabo Verde, que nem fez guerra nem virou marxista) encontrou segurança ou progresso. Mais de quarenta anos de guerra, de golpes, de tirania, de assassínios políticos, tudo sem fim à vista. Morreu mais gente a tiro no primeiro ano de “liberdade” do que em 13 anos de “guerra colonial”. E muito mais depois disso.

Em face dos “ventos da história”, o abandono do poder em África era uma inevitabilidade. É verdade. O Estado Novo não deu por isso, manteve-se, teimoso, burro e incapaz. É verdade. Nada disto justifica que a explosão de racismo nas colónias não tenha ainda merecido qualquer julgamento histórico. Em vez disso, continuamos, felizes e contentes, a celebrar os promotores nacionais do racismo.

A benefício do “que está a dar”, lançou-se uma campanha desmesurada, ou acrítica, de revisão histórica e sociológica sem quaisquer barreiras, seja a barreira da verdade, seja a do bom senso, da justiça, e de um mínimo de honestidade intelectual. A cortina de ferro do racismo, feita de informação - ou servil ou fabricada -, de propagandistas desvairados, da cegueira de uns e da intencionalidade de outros, instalou-se. É certo que há muitos africanos a viver em condições indignas (também os há de pele branca), mas todos têm protecção jurídica e social, mercê de uma comunidade que não distingue pela cor da pele, antes se movimenta e mobiliza para atender aos mais fracos. Cerca de 50% da assistência é prestada por movimentos comunitários, mormente de inspiração católica. Não chega, dir-se-á. Mas só o emprego, a já existente ausência de descriminação educacional, o progresso económico, poderão vir, a médio/longo prazo, a ser um verdadeiro elevador social.

Os abusos de umas dúzias de “supremacistas brancos", cretinos, violentos e acéfalos, que cedem às provocações dos racistas negros, ou rejubilam com elas, não passam de excepções que confirmam a regra, e merecem a perseguição criminal que está em curso.

Entretanto, o verdeiro racismo, impulsionado por activistas africanos e pelo Bloco de Esquerda, fará o seu caminho, com o beneplácito dos media e a cobarde e irresponsável apatia dos políticos.

Até quando? 20.8.20

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