Sociedade sedada,
adormecida
(Public em O DIABO nº 2281
de 18-09-2020, pág 16. Por António João Soares)
Portugal está a passar por uma grave crise de opinião que nos preocupa por termos, a breve prazo, eleições como as presidenciais, que são de grande responsabilidade e podem não ter significado convincente quanto ao número de votos: com as abstenções, pode acontecer que o candidato vencedor tenha apenas uma pequena percentagem do número total de eleitores. Nesse caso, o resultado será desencorajador e desprestigiante.
Mas o motivo que leva à
abstenção nem é o mais grave do ponto de vista voluntarioso e mentalmente
saudável da população. O mais preocupante é o estado de espírito dos
portugueses que vivem, sonolentos, sedados, alheios aos problemas que nos
preocupam colectivamente e a cada um.
Os órgãos da comunicação
social, que no século passado contribuíam para a educação e a formação social e
profissional das pessoas, hoje limitam-se a manter os ouvintes e leitores
afastados de tudo o que realmente contribui para a cultura, o desenvolvimento
económico e social, etc.
Actualmente, quando procuramos
notícias sobre a vida do país com interesse para a competitividade com os
parceiros europeus e do mundo, deparamos com negociatas do futebol ou outras
ninharias; agora, mesmo isso é ultrapassado com o espaço dedicado a números da
pandemia, sem análises e descrições que contribuam para percebermos melhor a
gestão da crise, evitarmos erros ocorridos e, por outro lado, organizarmos a
vida a fim de sobreviver com saúde e energia para melhorar o ambiente e a
convivência a bem da economia e da vida social, por forma a fazer crescer o
país e melhorar a vida colectiva.
Para criarmos uma economia
mais moderna e competitiva, com mais e melhores empregos e mais volumosas
exportações, de onde viriam melhores salários e mais comodidades na vida, é
necessário que não haja escórias desinteressadas de tudo o que realmente tem
valor. Ninguém deve fechar os olhos à realidade e ficar à espera de que sejam
os outros a criar um país mais próspero e depois ir distribuir os resultados
por ele.
Na política parece haver
interesse de pessoas mal formadas e sem ética social em instaurar e defender o
“politicamente correcto” e estimular a comunicação social a apoiar esse tipo de
anestesia mental que mantém as pessoas alheias a tudo o que mais deve
interessar.
Duas notícias despertaram a
minha curiosidade, de forma positiva, até parecendo combinadas.
Uma refere-se à retoma de actividade do Clube
dos Pensadores, em luta contra a sedação agravada pela actual pandemia. É
reconhecido que o debate de ideias e opiniões é necessário para aliviar as
pessoas da sonolência em que se deixaram embalar. É imperioso que se instiguem
a formar opinião sobre o que se passa à sua volta e que pode condicionar o seu
futuro. E os debates servem para moldar as opiniões, ouvindo outros que pensam
de outra forma. Numa democracia, o contraditório e a liberdade de discordar
fazem parte do seu nobre léxico, e ouvindo opiniões diferentes enriquece-se a
compreensão. Os debates são enriquecedores e os conhecimentos evitam ser
lesados por atitudes de propaganda, de meias verdades e de falsas promessas. Os
governantes e outros políticos devem trabalhar nos seus gabinetes analisando os
assuntos e preparando as decisões depois de ouvirem os seus conselheiros.
Quando falam em público devem dizer coisas fidedignas e com peso político. A
propaganda nada os beneficia perante cidadãos serenos, sensatos e sabedores.
A outra notícia refere-se ao
Fórum Euro-África, cujo organizador disse à Lusa que o grande objectivo do
encontro é reaproximar dois continentes que estiveram de costas voltadas nos
últimos 50 anos. Houve 3.500 inscritos para assistir, o que demonstrou que a
junção da plataforma Europa e África era algo que se impunha, e mais de 70% dos
inscritos eram provenientes de África. ■
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