A ética na política
(publicado no DIABO nº 2204 de 29-03-2019, pág 16)
A UE quer aplicar impostos directos às pessoas dos Estados-membros para reforçar o seu orçamento. Mas como? Se a UE pretende ser considerada democrática, esse objectivo não pode surgir da mão de um autocrata qualquer, por impulso ou capricho de um “poderoso” não eleito, e sem ouvir os pareceres dos representantes dos estados membros. E estes representantes devem ser escolhidos em função da sua comprovada experiência ao serviço dos interesses nacionais do seu país, da sensatez e da resistência a pressões de interesses particulares. Se este assunto não for tratado com muita prudência, arriscamos ter novos casos semelhantes ao Brexit, principalmente nos países menos desenvolvidos. Os contribuintes de tais impostos não aceitarão estar a contribuir para suportar os funcionários da UE que têm salários muito superiores aos valores em uso em muitos Estados europeus e que, aos 50 anos, são reformados com pensões escandalosamente altas em relação às da maior parte dos estados, além de mordomias como viagens, etc.
Não é aceitável que os altos “responsáveis” pelos destinos da UE usem o sistema primário de navegação à vista e que aliem uma perigosa ignorância do respeito pelas pessoas ao desejo de ostentarem, de forma exagerada, o poder de que estão investidos.
Os detentores de altos cargos da UE devem ser escolhidos por qualificados representantes dos Estados-membros com dados seguros sobre a sua competência, a posse de pensamento criador e a capacidade de não se deixarem viciar em burocracias desnecessárias que dificultam a convergência de medidas eficazes para um futuro melhor. E é indispensável o conhecimento das realidades quanto a potencialidades e a factores específicos, por forma a concentrar-se na definição de uma estratégia adequada e a tomar decisões independentes de interesses particulares, mas vocacionadas para o futuro que a maioria dos europeus deseja.
Não convém que a UE siga exemplos de Estados-membros transformados em Repúblicas Familiares em que se queira aparentar uma harmonia aparente à volta do líder paternal mas sem análise profunda de todos os aspectos dos problemas, e o argumento do chefe se resuma a dizer ‘é assim e não vamos perder tempo com esquisitices’.
O amiguismo, por vezes, leva para a UE políticos que estiveram em altos cargos onde não mostraram resultados visíveis, mas que lhes serviu de estágio ao “politicamente correcto” com promessas de obras e projectos que não saíram para o real, mas que geraram esperanças tendentes a aumentar os números de votos nas sondagens, vindos de pessoas crentes e pacatas, sem sentido critico, por ausência de observação e de espírito medianamente iluminado.
A política, arte de gerir um Estado e os seus serviços públicos, exige competência para conhecer os problemas, as suas causas e os seus factores determinantes, respeitando os direitos de cada cidadão, procurando garantir as melhores condições de este exercer a liberdade a que tem direito, da forma que mais lhe agradar, mas inserida nos mais vastos objectivos do desenvolvimento nacional. A liberdade do cidadão não deve ser restringida por burocracias inúteis nem por caprichos de controladores doentios com laivos autoritários. Os acessos aos escalões do poder devem basear-se na posse de qualidades e competências comprovadas pela experiência e não pela amizade e fidelidade ao chefe. O ascendente deste deve resultar das suas qualidades e da sua dedicação à causa pública, e da sua indiferença a interesses privados.
Resumindo, a personalidade e a moral de candidatos sujeitos a escolha deve traduzir-se, com rigor, numa dedicação incondicional ao interesse nacional, à semelhança do militar que, acima de tudo, defende a Pátria arriscando a própria vida. ■
António João Soares
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