Avião abatido por erro
(Public em DIABO nº 2247 de 24-01-2020, pág 16, por A João Soares)
As forças armadas iranianas reconheceram que o avião ucraniano com 737 pessoas a bordo foi abatido por erro, por mísseis, poucos minutos após a descolagem de aeroporto de Teerão. Pode ter acontecido uma decisão precipitada, com confusão de alvo em ambiente de tensão diabólica, de desejo de vingança ou de retaliação relacionado com o acto que matou o general iraniano Qassem Soleimani.
Também pode ter havido um improvável erro na manipulação do míssil que, por acaso, estivesse apontado a local cuja rota cruzava com a do avião que ia a passar. Ou pode ter acontecido que os mísseis estavam a ser utilizados “correctamente” contra alvos bem escolhidos, segundo as intenções estratégicas decididas e, por infelicidade dos passageiros, as rotas de tais armas e do avião se tivessem cruzado no ponto e momento fatal.
Estas várias hipóteses de possível explicação do acidente, que vitimou mais de sete centenas de pessoas inocentes, levam a meditar na necessidade de disciplinar e regulamentar as limitações do uso do espaço aéreo por forma que, à semelhança das condições de segurança criadas pelas auto-estradas para o trânsito rodoviário, se criem condições para a segurança da aviação comercial no espaço aéreo. O ideal seria impedir a utilização do espaço aéreo por meios não destinados ao transporte de pessoas e cargas materiais, tal como é proibido que pessoas e viaturas atravessem as auto-estradas com risco de poderem colidir com os veículos que se deseja poderem transitar com o máximo de segurança e o mínimo de perigo.
Isso teria variações que iriam da total ausência de intrusos à volta de aeroportos, como já está legislado para os drones, de maneira a evitar acidentes com aviões após descolagens e antes de aterragens, e também limitação de altitudes de aviões pequenos e objectos voadores ao longo de rotas convergentes para os aeroportos. Mas não podemos esquecer que os aviões, mesmo voando a grande altitude, não estão livres de ser atingidos por aviões militares, tripulados ou de controlo remoto, ou por mísseis.
E estas últimas considerações podem conduzir a soluções de difícil aplicação pois colocam em dúvida se deverá ser interdita a aeronáutica militar e a eliminação de mísseis, o que viria contrariar interesses de poderosos sem preocupações humanas e unir-se à proibição de armas nucleares, o que não seria aceite pelos membros de lugar cativo no Conselho de Segurança da ONU, com direito de veto e que se consideram senhores com autoridade para caprichos como o de possuírem armas de destruição maciça (que proíbem aos outros) e que tornam cada vez mais sofisticadas. Portanto eles, no seu cargo, não usam normas democráticas, nem sensibilidade para as vidas e a Natureza e se consideram donos do mundo com autoridade para imporem aos outros comportamentos de obediência e tolerância que recusam para os seus Estados, como lhes é permitido pelo direito de veto.
Esta reflexão quase que conduz à decisão de que o espaço aéreo deve ser reservado a actividades não militares e que não representem perigo para pessoas e haveres, portanto, contribuindo para uma Humanidade a viver em harmonia e paz. Seria um passo muito significativo para uma vida de paz com convivência pacífica dedicada à solidariedade, à ciência e ao progresso social e económico. Porém, desagrada aos militares pilotos e técnicos das artes de aeronáutica e traz dificuldades ao combate aéreo a incêndios florestais e ao apoio de saúde a situações de urgência em locais mal servidos por via rodoviária. Mas a maior oposição a esta ideia virá dos grandes interesses de quem procura enriquecer sem pensar nos males que podem resultar para a Humanidade, colocando à sua frente a ambição de poder, de vaidade e de notoriedade.
Mas este caso da perda de um avião e da morte de 737 pessoas inocentes de qualquer culpa relacionada com a tragédia deve dar azo a séria e profunda meditação. ■
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