Há muito tempo que não refiro aqui uma conversa com o amigo António, mas não posso deixar passar esta sobre as impressões que me relatou acerca do Sábado mais recente.
A mulher exaltou-se por coisa de menor importância, como vem sendo costume no seu crescente mau feitio, e disse-lhe para ir almoçar sozinho onde quisesse. Saiu um pouco hesitante quanto à tasca onde iria mitigar a sua parca necessidade de alimento. Acabou por passar à porta de uma tasca já sua conhecida para ver o cartaz dependurado ao lado da porta e, por coincidência, o tasqueiro estava à porta, cumprimentou-o muito afável, de mão estendida e o António ficou sem qualquer hipótese de continuar a sondagem para escolha do local de almoço. Entrou.
Loja vazia deu lugar a confidência e o Amigo António ficou a saber que o alentejano já não ia ao médico havia meia dúzia de anos mas foi há dias levado de urgência à clínica, teve de fazer diversas análises e foi-lhe recomendado comer 4 ou 5 vezes por dia, e pouco de cada vez. A mola que o fez alterar os hábitos resultou de nesse dia se ter esquecido de tomar o pequeno-almoço e nada ter comido até ao almoço, altura em que abusou da quantidade para satisfazer a fome que sentia. Acabou por desmaiar e, como não estava ninguém foi acordado pela mulher que ao chegar o encontrou no chão por detrás do balcão. Não sabe quanto tempo esteve assim, mas as dores posteriores disseram-lhe que bateu com a cabeça e com a anca. Há azares que servem de alerta e de lição e este tornou a vítima num homem cauteloso com a alimentação e com o controlo regular do estado de saúde.
Mas o António, além deste contacto, teve a seguir o dos vizinhos que vieram sentar-se na mesa mais próxima que também comeram bacalhau cozido com batata e grelos. Eram estrangeiros, com um idioma desconhecido do António Começou a haver um relacionamento amistoso, quando antes de bebericarem o seu vinho tinto, levantavam o copo um para o outro e faziam um gesto de «saúde» para o vizinho.
Eram russos, relativamente jovens e o mais novo sabia português, servia de intérprete ao outro que tratava com deferência. A dada altura conversavam sobre os grelos, o mais novo explicava qualquer coisa que fez o outro rir com gosto e, depois, disse ao António que esteve a explicar ao amigo que em Portugal grelo tem ainda outro significado.
O António puxou do seu saber e disse-lhe que grelo está relacionado com a procriação, a reprodução, como se pode ver no grelo da batata, no dos alhos, no das cebokas, etc. Do «etc» já eles tinham estado a falar e voltaram a rir.
Enfim, o sábado estava a decorrer bem quanto a contactos pessoais, e não ficou por aí.
Na volta que a seguir deu pela parte central da Vila, antes de regressar a casa, passou pelo largo (jardim) com a tradicional feira semanal de antiguidades, artesanato e outras coisas e parou junto de um vendedor de mel que perante um casal com duas meninas estava a explicar à mais crescida as virtualidades do mel e do pólen e os pormenores da apicultura, para o que utilizava uma pequena colmeia, com todos os seus componentes. O António grudou-se a aprender coisas novas e, depois de os clientes partirem, disse ao Sr Eurico que não estava ali para comprar, mas gostou de o ouvir, na sua explicação didáctica. O apicultor disse que para ele é um prazer transmitir o que sabe e difundir conhecimentos sobre os produtos naturais bons para a saúde. Quanto à notícia de que as abelhas estão a desparecer referiu a ignorância de grande parte dos agricultores e a consequente falta de cuidado no uso e abuso de pesticidas, insecticidas, fertilizantes, rações industriais, etc.
Segundo ele, a ganância e a pressa de colher o produto vendável, levam a exageros nocivos quer na produção de vegetais, quer na criação de porcos, aves e outros animais. Sublinhava que , noutros tempos, a agricultura era naturalmente biológica, mas hoje, por mais esforço que se faça para regressar a semelhante pureza ecológica, pouco se consegue, até porque se consome muito mais carne do que em tempos antigos em que nas aldeias mais afastadas dos grandes centros urbanos, só as famílias mais remediadas matavam um porco por ano, pelo Natal, cuja carne era consumida pelo ano adiante, sendo conservada na salgadeira.
Esta conversa condimentada com pormenores familiares do sr Eurico, sobre condições de trabalho na terra da sua naturalidade, Bendita, no Concelho de Caldas da Rainha e na actual residência numa quinta próxima da Serra de Sintra.
O António sentia grande prazer em descrever com pormenor estas enriquecedoras experiências de Sábado, foi com muito gosto que o estive a ouvir e a estimular a conversa com perguntas de curioso e, por isso, não quis perder esta oportunidade de aqui trazer estes factos como um oásis no deserto da vida moderna em que se vive distante dos casos reais que acabam por ser desconhecidos da maior parte dos nossos jovens. Certamente que o António vai ficar agradado por eu aqui colocar este referência à sua conversa, o que já não acontecia desde há mais de um ano.
Imagem do Google
terça-feira, 3 de abril de 2012
O Amigo António contacta pessoas interessantes
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2 comentários:
EXCELENTE MEU CARO.
Tal como um destes dias refere o desaparecimento da abelhas, e como refere é um problema, no entanto esta semana surge um bem grande pelos lados do Nordeste Transmontano.
"roubaram cerca de mil colmeias"
Os apicultores estão desesperados, um conhecido meu com muita tristeza disme que le levaram cerca de quarenta, isto sim é um problema, ele o Sr Sousa vai levar uns quatro anos a repor o seu apiário, e quando se desdobram enxames não há produção de mel, ou seja é o roubar de um sonho, tal como o pão do dia a dia.
Caro Campista,
Esta sua desagradável notícia, confirma, de certo modo, a quilo que tem sido escrito acerca da diminuição da quantidade de abelhas, pois estando a tornar-se mais raras são mais preciosas e mais alvo dos ladrões. Mas um tal roubo mostra organização e disponibilidade de transporte. Não é um roubo praticado por um qualquer larápio de chocolate em supermercado.
O lesado deve ter sentido um golpe muito duro com prejuízos durante largos meses.
Abraço
João
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