Transcrição de artigo:
OCDE pede aos governos para atacarem a desigualdade
Público. 05.12.2011 - 17:07 Por Paulo Miguel Madeira
Resultados contrariam doutrina dominante.
Os governos dos países da OCDE devem combater o crescente fosso entre ricos e pobres, que atingiu níveis históricos, disse a organização num relatório divulgado hoje. Portugal continua a ter uma das sociedades com maior desigualdade neste grupo.
“O rendimento médio dos 10% mais ricos” dos 34 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que agrupa as economias de mercado mais desenvolvidas, “é agora [em 2008] cerca de nove vezes o dos 10% mais pobres”, tendo atingido o seu “nível mais elevado em mais de 30 anos”, lê-se num comunicado de imprensa.
“O contrato social está a começar a deslaçar em muitos países. Este estudo desfaz as assunções de que os benefícios do crescimento económico se transmitem automaticamente aos mais desfavorecidos e que maior desigualdade favorece uma maior mobilidade social”, disse o secretário-geral da OCDE, o mexicano Angel Gurria, no lançamento em Paris deste relatório, intitulado “Divided We Stand: Why Inequality Keeps Rising”.
O relatório compara a desigualdade em 1985 com a desigualdade em 2008, e conclui que ela aumentou “mesmo em países tradicionalmente igualitários, como a Alemanha, a Dinamarca e a Suécia”, onde a diferença entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres passou de 5 para 1 na década de 1980 para 6 para 1 no final da década passada.
“Sem uma estratégia abrangente para um crescimento inclusivo, a desigualdade vai continuar a aumentar”, disse ainda Gurria, para quem “o crescimento das desigualdades não tem nada de inevitável”. A qualificação da força de trabalho “é de longe o instrumento mais poderoso para contraria o aumento da desigualdade”.
As maiores desigualdades, considerando esta medida, registam-se no Chile e no México, onde os 10% mais ricos tinham rendimentos superiores a 25 vezes os dos 10% mais pobres, seguidos da Turquia e dos EUA, onde a diferença era superior a 14 para 1, e de Israel, Grã-Bretanha e Portugal, com 13,4, 11,7 e 10,3.
Portugal entre os mais desiguais
A desigualdade em Portugal mantém-se assim entre as mais elevadas deste grupo, na sexta posição quando considerada a diferença entre os rendimentos dos 20% mais ricos e os dos 20% mais pobres, que é de 6,1 vezes – face a 5,4 vezes para o conjunto dos seus 34 membros.
Portugal é no entanto uma das poucas excepções a um crescimento dos rendimentos mais elevados maior do que o crescimento dos rendimentos mais baixos.
Os rendimentos dos 10% mais ricos cresceram a uma média anual de 1,1% entre meados da década de 1980 e finais da década passada, enquanto no caso dos 10% mais pobres cresceu 3,6%. Para o total da população, o crescimento médio anual foi de 2%.
No conjunto da OCDE, o crescimento do rendimento dos 10% mais ricos foi de 1,9% ao ano, face a 1,3% para os 10% mais pobres. O relatório nota que a desigualdade, medida pelo coeficiente de Gini, diminuiu na Turquia e na Grécia, manteve-se na França, Bélgica e Hungria e aumentou nos restantes países para que há dados para este período.
Imagem de arquivo
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Fosso entre ricos e pobres na mira da OCDE
Publicada por A. João Soares à(s) 07:02
Etiquetas: humanidade, igualdade, justiça social, solidariedade
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3 comentários:
Ver o artigo de João Paulo Guerra, no Económico:
Desigualdade
Económico. 07/12/11 00:05. João Paulo Guerra
A OCDE, ao divulgar por estes dias o mapa do fosso entre ricos e pobres, desafiou os governos do mundo a apoiarem a educação e a saúde, para atenuar as desigualdades.
Está bem de ver que Portugal, que já ostenta o título de campeão da Europa na disciplina de desigualdades, se vai abalançar ao título mundial.
Entre os países observados pela OCDE, Portugal é o mais desigual da Europa. A política mede-se pelos resultados e este é um título que devia envergonhar a classe política. Não é como ser mais ou menos pobre, mais ou menos desenvolvido ou em vias de desenvolvimento, como se dizia. Ser desigual é o resultado de uma política injusta, tirânica e eventualmente delinquente, que favorece uns e penaliza outros, com a particularidade de os favorecidos serem sempre um grupo restrito e privado, cujo favorecimento afronta a penalização da população em geral.
Em Portugal, nos tempos do cavaquismo, a ideia era a de criar uma forte classe média que se opusesse, como um tampão, ao proletariado vindo da ditadura e da revolução. Mas hoje a classe média está em vias de extinção, absorvida pelo empobrecimento decretado pelo Governo sob os auspícios de Belém e da ‘Troika'. Os pobres são hoje e serão no futuro imediato muitos mais e muito mais pobres, enquanto os ricos são um clube cada dia mais privado de financeiros e gestores da finança. Não são, sequer, como dizia recentemente Paul Krugman, Prémio Nobel da Economia em 2008, "empresários heróicos criadores de empregos", mas sim os "sortudos", acionistas, executivos e advogados da alta finança.
Ao anunciar recentemente aos portugueses o empobrecimento como receita para "a crise", era isto mesmo que o primeiro-ministro prometia: ainda maior desigualdade.
joaopaulo.guerra@economico.pt
Se a UE castigasse a desigualdade o Passos estava tramado.
Cumps
Caro Guardião,
Não tenha dúvidas. A forma como está a obter dinheiro para pagar a dívida é escandaloso no aspecto de injustiça social e de desigualdade. As medidas já em acção e as prometidas são o toque de finados para muitas famílias, enquanto os mais ricos continuam a assobiar, porque não são beliscados.
Estão a afastar mais os dois extractos sociais já muito distantes entre si. Não se compreende quais os objectivos estratégicos deste governo. Não deviam ignorar que os ricos precisam de trabalhadores e de quem os sirva em casa e nos restaurantes. Acabarão por também morrer à míngua, embora um pouco mais tarde.
Em conclusão, estão a destruir a sociedade, a humanidade.
Abraço
João
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