Depois de Cavaco Silva ter sido «duro como nunca para Governo» (1), (2) e (3), o chefe do Executivo defendeu que “o que o país não precisa é da política do recado, do remoque, do pessimismo, do bota-abaixismo, da crítica fácil”(4), mas não disse aquilo de que o Pais precisa.
O Presidente da República tinha deixado um forte alerta ao Governo, empresários e gestores, dizendo que “seria um erro muito grave, verdadeiramente intolerável” que, “na ânsia de obter estatísticas económicas mais favoráveis e ocultar a realidade, se optasse por estratégias de combate à crise que ajudassem a perpetuar os desequilíbrios sociais já existentes”. E lamentou que tenha faltado vontade política “para questionar o caminho que estava a ser seguido e que há muito suscitava reservas”.
Em reacção às palavras de Sócrates, O PCP (5), pela voz do seu Secretário-Geral acusou o primeiro-ministro, José Sócrates, de “fugir às suas próprias realidades e aos erros que cometeu” ao afirmar que o país não precisa “da política do bota-abaixismo” e acrescentou “em relação a essa visão do ‘bota-abaixismo’, eu creio que é fundamental termos conhecimento da realidade objectiva que vivemos no nosso país para agir em conformidade”.
Também Paulo Portas (6) afirmou “perante o silêncio de muitos, a nossa visão do sistema financeiro também é outra, eu vejo os socialistas satisfeitos com um supervisor chamado Banco de Portugal que, durante anos não viu, não quis saber, não descobriu, não agiu e não tirou consequências”. “Nós, CDS, temos uma outra posição, queremos um supervisor forte, se necessário incómodo, sobretudo um supervisor competente para evitar que o contribuinte tenha de pagar a factura de erros que não são do contribuinte, que tenha que andar a cobrir as fraudes que alguns cometeram em algumas instituições financeiras”. “O facto de José Sócrates não ser capaz não quer dizer que Portugal não seja capaz. Portugal é capaz, basta que nos unamos em torno dos valores correctos, basta que nos esforcemos em torno de objectivos nacionais, realistas e atingíveis, basta que nos mobilizemos para uma alternativa política que substitua um poder cansado”.
Sobre este tema, também o presidente da Comissão Europeia (7), José Manuel Durão Barroso, referindo-se à origem da crise, considerou que "muita coisa falhou" e que alguns valores não foram respeitados, pelo que é "imperioso" o restabelecimento do primado dos valores, defendendo que sem comportamento de "rigor e responsabilidade ética" irá continuar-se a enfrentar problemas sérios. "Não obstante a necessidade de criar novos mecanismos de regulação financeira, é importante reter que as regras não são suficientes", disse, defendendo que "às instituições e às regras tem de se associar uma ética de responsabilidade", porque, "quanto maior a liberdade, mais exigente deve ser a responsabilidade". "A ética da responsabilidade constitui um imperativo moral das sociedades e das economias livres"..
Por sua vez, a presidente do PSD (8), Manuela Ferreira Leite, disse concordar “inteiramente” com o Presidente da República ao defender o aproveitamento do momento de crise como “um ponto de viragem”. E concordou que seria politicamente perigoso e eticamente reprovável repercutir os custos da situação económica sobre os mais desfavorecidos. Defendeu que «é preciso ter coragem de, em vários domínios». Acentuou que “seria um erro muito grave, verdadeiramente intolerável, que, na ânsia de obter estatísticas económicas mais favoráveis e ocultar a realidade, se optasse por estratégias de combate à crise que ajudassem a perpetuar os desequilíbrios sociais já existentes ou que hipotecassem as possibilidades de desenvolvimento futuro e os direitos das gerações mais jovens”, começar de novo”.
Perante tantas medidas anunciadas, urge perguntar ao Govermño “se essas medidas não passaram de anúncios, nem sequer existiram, ou se existiram, se foram mal aplicadas e tiveram mau resultado”, e “é oportuno saber-se qual o destino das contribuições que o Estado tem estado a anunciar diariamente”; “o Governo não pode deixar de comunicar ao país, provavelmente através da Assembleia [da República], quais as aplicações e os destinos que têm estado a ser dados aos milhões e milhões que todos os dias são anunciados”.
Entretanto, nos EUA, em tom semelhante ao de Paulo Portas (6), procura-se um novo sistema financeira para não regressar aos vícios que conduziram à actual crise financeira mundial e Obama pretende atacar abusos dos bancos (9) "vai muito em breve debruçar-se sobre um conjunto de problemas ligados aos abusos que dizem respeito aos cartões de crédito, onde (os bancos) enganam os clientes para os fazer pagar taxas de juro demasiado elevadas que não estariam a ser aplicadas se eles tivessem sido devidamente informados".
Larry Summers (10), o principal assessor económico do presidente norte-americano, Barack Obama está consciente de que a economia norte-americana enfrenta ainda riscos importantes, mesmo se ultimamente se têm registado sinais mais positivos. Segundo ele "a evolução da economia está diferente, como já tinha afirmado, mas também é verdade que devemos ser prudentes porque o caminho da recuperação ainda é longo, persistem riscos importantes e devemos estar prontos para fazer face a imprevistos". Será que os americanos são acusados por Sócrates de «bota-abaixismo»?
Parece estarem a tomar corpo as ideias de que o sistema financeiro tem de ter uma reforma estrutural profunda para não se regressar aos vícios do passado. Recuperar da crise não pode significar o regresso à podridão que a gerou. Por isso seria bom que Sócrates tomasse em devida conta os «recados» que lhe chegarem de todos os portugueses, principalmente de economistas independentes, não «aparelhistas», independentes da corte do regime. Neste campo, as opiniões do Professor Cavaco Silva ao podem deixar de ser tidas em consideração, tais como as de Silva Lopes, de Manuel Jacinto Nunes, de Medina Carreira, entre muitos outros.
Textos consultados:
(1) Cavaco duro como nunca para Governo e empresários
(2) Cavaco Silva critica apoios que 'deixam tudo na mesma'
(3) Discurso do Presidente da República na Sessão de Abertura do 4º Congresso da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE)
(4) Sócrates respondeu a Cavaco que “o país não precisa da política do recado”
(5) PCP acusa Sócrates de “fugir aos erros que cometeu” ao falar de “bota-abaixismo”
(6) Paulo Portas defende supervisor forte para fiscalizar sistema financeiro
(7) Durão Barroso pede comportamentos de rigor e "responsabilidade ética"
(8)Manuela Ferreira Leite concorda “inteiramente” com Cavaco sobre a crise
(9) Obama pretende atacar abusos dos bancos nos cartões de crédito
(10) EUA enfrentam ainda "riscos importantes", avisa assessor económico da Casa Branca
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Portugal precisa de quê, afinal???
Publicada por A. João Soares à(s) 09:59
Etiquetas: crise, interesse nacional, recuperação
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4 comentários:
Quando Cavaco está a ser duto com o governo, está a renunciar ao seu passado. Afinal de contas Sócrates é o Cavaco II!
Com esta gente continuaremos sempre na mesma!
Um abraço dum Portugal que apenas precisa de libertar-se do cavaco-sócrates
Caro Pata Negra,
Não tem havido diferenças substanciais entre os vários governos e todos têm contribuído para o afundar da sociedade.
Seria bom que os partidos chegassem a acordo na elaboração e aprovação de um CÓDIGO DE BEM GOVERNAR, que conteria regras a seguir pelos governos e daria à oposição elementos de avaliação e crítica, para correcção e sugestão de melhores soluções. Portugal precisa da colaboração de todos para encontrar a melhor rota e corrigir desvios de percurso.
O povo não tem bases culturais para se organizar, nem nos partidos, nem nas autarquias, nas paróquias, nas cooperativas nos clubes. Predominam os egoísmos, com invejas e mal-querer.
E entretanto com sucessivos erros de má gestão esgotam-se os recursos do País e do Planeta e a Natureza vai perdendo as capacidades de regeneração. Advirá a aridez e o deserto e, depois, o extermínio de todas as espécies, incluindo a humana.
Um abraço
João
Caro João,
Tenho-te visto defender o chamado "CÓDIGO DE BEM GOVERNAR", código esse que deveria ser aceite por todos os Partidos existentes formando-se como que uma Coligação Nacional de vontades que poderiam, assim, consolidar politicas de ordem económica, educacional, judicial, da saúde, etc., dando-lhes continuidade até que se saísse deste pantano em que nos encontramos e que mais não passa de "uma feira de vaidades" vazia de conteudo e só aproveitada para enriquecimento de alguns e afundamento do País! Apareçam ESTADISTAS à altura para que dêem passos sérios nesse sentido!
Caro Luís,
A minha ideia inicial chamou a isso um código de conduta para os políticos e foi aqui expresso pela primeira vez no post de 31 de Agosto de 2008 Reforma do regime é necessária e urgente.
Recentemente, li que em Espanha os principais jornais sugeriram um CÓDIGO DE BEM GOVERNAR, e adoptei-o termo, porque nestas coisas deve haver união! É a união de princípios e valores nacionais que falta aos nossos políticos. Muitos investimentos são gorados porque o governo seguinte não lhes dá continuidade, pelo facto de os partidos não terem sido chamados para a sua preparação, decisão e implementação. Essa convergência de esforços para o bom governo do País, seria uma atitude patriótica que não impediria que os partidos continuassem a debater-se quanto aos pormenores ideológicos. Mas nada disso deve prejudicar os interesses nacionais.
Não está certo que os partidos usem o País como os futebolistas usam a relva dos estádios, que pisam sem dó nem piedade.
Infelizmente os políticos colocam acima de tudo os seus interesses pessoais, depois os do partido na medida em que isso lhes interessar, e por fim dedicam o restante das suas energias - 1 ou 2%- ao País.
Assim, Portugal afunda-se continuamente.
Um abraço
João
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