sexta-feira, 25 de setembro de 2020

COLABORADORES. AMIGOS OU COMPETENTES?

  (Public em O DIABO nº 2282 de 25-09-2020, pág 16. Por António João Soares)

 O detentor de funções que exigem responsabilidade e competência e dispõe de poder para escolher colaboradores deve usar de sensatez para decidir entre candidatos a quem deve favores e outros que são competentes e eficazes. Têm surgido casos a que a comunicação social, apesar da submissão ao politicamente correcto, tem dado atenção.

Uma senhora governante não deu a devida atenção aos doentes de um lar de idosos infectado por um surto de covid-19, não avaliando o funcionamento para detectar as causas e adoptar medidas correctivas e preventivas a fim de parar a tragédia. Ao ser interrogada em entrevista, confirmou que não se dera ao trabalho de ler um relatório da Ordem dos Médicos. O PR Marcelo, nas suas andanças pelas praias, em resposta a pergunta de jornalista, afirmou que no referido caso não se tratou de ignorar apenas um relatório, mas sim quatro da mesma entidade que ele leu e indicou data e número de páginas de cada um. Disse que “é preciso ler todos”.

A incapacidade para a função e a falta de respeito pelos cidadãos mostra que há governantes inadaptados à função que aceitaram desempenhar. Esta má selecção de colaboradores, nota-se em vários casos de situações de crise, como por exemplo na prevenção e combate a incêndios florestais e na prevenção de secas. Estas situações e as medidas preventivas já foram aqui citadas várias vezes, sugerindo a compartimentação das florestas com aceiros e, quanto a secas, o aproveitamento da água do mar, com estações de dessalinização, escolhendo a latitude mais adequada para a primeira, de forma a apoiar a agricultura mais carente.

Há dias, o Ministro da Administração Interna lamentou a morte de um bombeiro que ocorreu quando combatia extenso fogo. Mas não aproveitou a oportunidade para reconhecer que desde a última época de fogos não accionou as medidas mais apropriadas para evitar mais incêndios ou, no mínimo, reduzir as dimensões dos que viessem a ocorrer. Na falta de tais cuidados com o interesse nacional e com as vidas e haveres da população rural, a tragédia dos incêndios continuará enquanto se mantiver a passividade dos altos responsáveis pelo País.

Quanto estarão a pagar, discretamente, os que tiram grandes lucros com o aproveitamento das madeiras queimadas e com a utilização dos meios usados nos combates aos incêndios? Ouve-se à boca pequena que se trata de grande negociata em que os incendiários são pagos pelo seu trabalho.

Para evitar incêndios de brutal dimensão, há que atravessar a floresta por uma quadrícula de aceiros, caminhos através da floresta com largura igual à altura das árvores mais desenvolvidas, a fim de que uma que tombe não ateie o fogo ao outro lado, e mantidos limpos para que os resíduos e as ervas secas não permitam a continuidade do fogo. O asseiro tem também a vantagem de permitir o acesso fácil a viaturas dos bombeiros e a supervisão dos cuidados de que eles precisam. A criação destes dispositivos afecta pequenas propriedades, pelo que para ser montada deve haver prévio acordo com todos seus donos, o que implica a actuação das autarquias. Tenho visto imagens de encostas, na Galiza, onde estão instalados com grande rigor geométrico.

Um acidente ou outra situação desagradável fragiliza a autoridade que os cidadãos devem reconhecer ao responsável estatal, que deixa de merecer o respeito que lhe devia ser dado; e fica-lhe bem rescindir do cargo. Foi o que sucedeu após o acidente em Beirute.

Infelizmente, esta senhora não está só. Há pouco tempo, houve um descarrilamento de comboio matando dois trabalhadores da linha e causando ferimentos e muito incómodo em passageiros. Falta de cuidados dos trabalhadores, mal mentalizados e mal chefiados. Mas o governante não se referiu às causas e aos danos e disse aos portugueses que os nossos comboios são dos mais seguros do mundo e estamos confiantes com eles. ■

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quinta-feira, 17 de setembro de 2020

SOCIEDADE SEDADA, ADORMECIDA

Sociedade sedada, adormecida

(Public em O DIABO nº 2281 de 18-09-2020, pág 16. Por António João Soares)

Portugal está a passar por uma grave crise de opinião que nos preocupa por termos, a breve prazo, eleições como as presidenciais, que são de grande responsabilidade e podem não ter significado convincente quanto ao número de votos: com as abstenções, pode acontecer que o candidato vencedor tenha apenas uma pequena percentagem do número total de eleitores. Nesse caso, o resultado será desencorajador e desprestigiante.

Mas o motivo que leva à abstenção nem é o mais grave do ponto de vista voluntarioso e mentalmente saudável da população. O mais preocupante é o estado de espírito dos portugueses que vivem, sonolentos, sedados, alheios aos problemas que nos preocupam colectivamente e a cada um.

Os órgãos da comunicação social, que no século passado contribuíam para a educação e a formação social e profissional das pessoas, hoje limitam-se a manter os ouvintes e leitores afastados de tudo o que realmente contribui para a cultura, o desenvolvimento económico e social, etc.

Actualmente, quando procuramos notícias sobre a vida do país com interesse para a competitividade com os parceiros europeus e do mundo, deparamos com negociatas do futebol ou outras ninharias; agora, mesmo isso é ultrapassado com o espaço dedicado a números da pandemia, sem análises e descrições que contribuam para percebermos melhor a gestão da crise, evitarmos erros ocorridos e, por outro lado, organizarmos a vida a fim de sobreviver com saúde e energia para melhorar o ambiente e a convivência a bem da economia e da vida social, por forma a fazer crescer o país e melhorar a vida colectiva.

Para criarmos uma economia mais moderna e competitiva, com mais e melhores empregos e mais volumosas exportações, de onde viriam melhores salários e mais comodidades na vida, é necessário que não haja escórias desinteressadas de tudo o que realmente tem valor. Ninguém deve fechar os olhos à realidade e ficar à espera de que sejam os outros a criar um país mais próspero e depois ir distribuir os resultados por ele.

Na política parece haver interesse de pessoas mal formadas e sem ética social em instaurar e defender o “politicamente correcto” e estimular a comunicação social a apoiar esse tipo de anestesia mental que mantém as pessoas alheias a tudo o que mais deve interessar.

Duas notícias despertaram a minha curiosidade, de forma positiva, até parecendo combinadas.

 Uma refere-se à retoma de actividade do Clube dos Pensadores, em luta contra a sedação agravada pela actual pandemia. É reconhecido que o debate de ideias e opiniões é necessário para aliviar as pessoas da sonolência em que se deixaram embalar. É imperioso que se instiguem a formar opinião sobre o que se passa à sua volta e que pode condicionar o seu futuro. E os debates servem para moldar as opiniões, ouvindo outros que pensam de outra forma. Numa democracia, o contraditório e a liberdade de discordar fazem parte do seu nobre léxico, e ouvindo opiniões diferentes enriquece-se a compreensão. Os debates são enriquecedores e os conhecimentos evitam ser lesados por atitudes de propaganda, de meias verdades e de falsas promessas. Os governantes e outros políticos devem trabalhar nos seus gabinetes analisando os assuntos e preparando as decisões depois de ouvirem os seus conselheiros. Quando falam em público devem dizer coisas fidedignas e com peso político. A propaganda nada os beneficia perante cidadãos serenos, sensatos e sabedores.

A outra notícia refere-se ao Fórum Euro-África, cujo organizador disse à Lusa que o grande objectivo do encontro é reaproximar dois continentes que estiveram de costas voltadas nos últimos 50 anos. Houve 3.500 inscritos para assistir, o que demonstrou que a junção da plataforma Europa e África era algo que se impunha, e mais de 70% dos inscritos eram provenientes de África. ■


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sexta-feira, 11 de setembro de 2020

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Alterações climáticas
(Public em O DIABO nº2280 de 11-09-2020 pág 4 Por António João Soares)

Há quem acredite que vale a pena lutar contra as alterações climáticas. Mas estas, praticamente, não dependem da acção do homem, pois resultam fundamentalmente do núcleo, em fusão, do planeta. A crosta sólida onde habitamos é uma ténue camada que envolve esse núcleo em ebulição e que produz alterações como montanhas e vales, vulcões, agitações como o sismo de Lisboa em 1-11-1755 e outros. A temperatura do globo depende muito do calor oriundo do seu centro.

Um dia, em actividade profissional, visitei a montanha existente entre o vale do rio Tejo e o do Trancão, perto de Bucelas e Alverca. A dada altura, comecei a ver grande quantidade de cascas de mariscos e um companheiro disse que devia ter havido ali grande piquenique, mas a quantidade era tão extensa ao longo da linha de cume que se concluiu facilmente que aquela área já tinha estado debaixo de água, como explicaria um geógrafo ou geólogo.

A Natureza tem particularidades que merecem ser meditadas. Um engenheiro reformado que era professor de Geografia na UITI, na Rua das Flores, em Lisboa, na sua aula para idosos afirmava frequentemente que o globo terrestre é uma bola ardente semelhante a uma cafeteira com leite a ferver tendo este a boiar à superfície uma ténue camada de nata. E dizia que a superfície da Terra é semelhante a essa nata quer na pouca espessura quer na reacção ao líquido fervente que envolve. Com efeito, a Terra não é um volume sólido mas uma enorme quantidade de matéria líquida, em fusão, com elevada temperatura, envolto por uma película pouco espessa, em relação à grande dimensão do globo.

Há várias hipóteses dos estudiosos do universo sobre as previsões da evolução dos corpos celestes até à sua extinção daqui a milhões de séculos. Tudo se acaba, mas esses fenómenos da Natureza não dão lugar a intervenção de minúsculos habitantes dum planeta dessa imensidão de astros. Isso não deixa espaço para “lutadores contra as alterações climáticas” poderem obter algum êxito.

A única coisa que o homem pode influenciar é a qualidade do ar que respira, normalmente em áreas limitadas, procurando evitar ao máximo a poluição e respeitando a Natureza ambiental e os seres vivos, quer vegetais quer animais, e protegendo os recursos minerais como sustentáculos da vida, mas isso terá pouco efeito nas alterações climáticas propriamente ditas.

O clima, por outro lado, também está sujeito aos movimentos cósmicos do espaço em que a Terra se encontra e se move. A órbita terrestre em torno do Sol também tem evoluções que o homem não pode controlar. Se mais não fosse, o eixo de rotação do globo terrestre não forma um ângulo recto com a direcção do Sol, fazendo o ângulo da eclíptica, do qual depende a existência das quatro estações anuais. Esse ângulo está a ser alterado, pelo que as estações vão deixando de ser rigidamente iguais em relação ao passado. Isso costuma ser notícia da alteração da inclinação do eixo da Terra. E o Sol também está em evolução, perdendo energia.

A estes factores juntam-se outros do âmbito astral, com ventos cósmicos que condicionam o clima da superfície terrestre. Segundo me informou um amigo estudioso da Natureza e de tudo o que nos cerca, “um dia de erupção vulcânica produz tanto CO2 como todos os veículos motorizados (incluindo aviões e navios) num ano. Além do CO2, que é fonte de vida para vegetais e não só, os vulcões atiram para a atmosfera milhares de toneladas de gases sulfurosos, estes extremamente venenosos”.

A única coisa que o homem pode influenciar é a qualidade do ar que respira, normalmente em áreas limitadas. Devemos procurar evitar ao máximo a poluição e respeitarmos a natureza, mas isso terá pouco efeito nas alterações climáticas propriamente ditas. Contentemo-nos por lutar pela defesa do ambiente. ■

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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

PELA PAZ E HARMONIA GLOBAL

(Public em O DIABO nº2279 de 04-09-2020, pág 16. Por António João Soares)

 Tenho repetido que o bom entendimento e a harmonia entre Estados, tal como entre pessoas, deve ser um ideal permanente. E, sendo a Humanidade constituída por todos nós, cada um deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para conseguirmos tal objectivo. Tem havido muitas pessoas de boa vontade, civismo, ética e perfeitos sentimentos que tem alimentado a esperança de que, após esta crise pandémica que obrigou ao recolhimento e à reflexão, as sociedades passem a abolir a violência e a usar de mais respeito pelos outros para se viver em convergência de sentimentos e diálogo por forma a evitar conflitos que degenerem em violência.

É certo que cada um tem a sua opinião e devemos respeitar a dos outros, mas sem impormos a nossa. E na vida colectiva as decisões que dependam de vários interessados devem ser precedidas de diálogo, pacífico e bem argumentado, por forma a ser obtido real acordo entre os intervenientes.

Esse esforço terá que ser muito persistente, para que os maus hábitos actuais vão sendo eliminados. Felizmente, vão surgindo casos louváveis, na vida internacional que estão a dar exemplos desta mudança. Um desses exemplos é o caso de a França, a Alemanha e o Reino Unido terem anunciado que não apoiam no Conselho de Segurança o restabelecimento das sanções internacionais contra o Irão, exigido pelos Estados Unidos que não gostaram de tal atitude que contraria o alinhamento da grande potência americana contra os aiatolas. Esta atitude daquele que se considera “dono do mundo” é o extremo oposto do objectivo atrás sugerido. Ela está conforme com o culto pelo poder através das armas e das Forças Armadas que estão distribuídas por grande parte dos países cuja posição geográfica querem controlar, bem como a sua posse de produtos naturais de valor estratégico, como o petróleo e outros minerais.

 Sendo as armas instrumentos de morte, a ONU deve sugerir aos Estados mais armados que comecem a pôr de lado a violência e deve iniciar a criação de equipas de diplomatas bem treinadas na mediação, para ajudar as partes de conflitos a encontrar solução pacífica, sem perda de vidas nem danos patrimoniais. Essas equipas não devem impor soluções, mas sim ajudar as partes a chegarem a entendimento, com equilíbrio de cedências de parte a parte, sempre de forma cordata. É preferível uma paz menos vantajosa a uma guerra demolidora e geradora de ódios e vingança. É pena que o conflito Irão/EUA se mantenha aceso com tendência de agravamento entre dois contendores demasiado teimosos e persistentes no mau uso das armas.

Outro caso elogioso é o apoio da Alemanha, que enviou o seu MNE à Líbia, numa visita não anunciada a fim de aconselhar a necessidade de pôr fim ao conflito que vem desde a morte de M. Kadhafi em 2011 e que, desde Abril de 2019, é uma luta entre duas facções apoiadas por milícias armadas por países estrangeiros, que devasta aquele país do Norte de África. Na sequência, foi conseguido o acordo de cessar-fogo imediato, o fim de todas as acções militares no território líbio e a concordância das partes em «trabalhar para alcançar acordos sobre a retoma integral das acções de produção e exportação de petróleo», para chegarem a uma solução pacífica. O sucesso das conversações foi aplaudido pela UE e por diversas entidades internacionais.

Também foi exemplar a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), em relação aos recentes acontecimentos no Mali onde a situação é considerada grave internamente e para a região. Esta Comunidade organizou uma cimeira para continuar as conversações para assegurar o regresso imediato à ordem e, segundo o Presidente, “esta situação é um desafio e mostra o caminho que falta percorrer para o estabelecimento de instituições democráticas fortes no nosso espaço”. ■


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