Um dia, em viagem pelo interior, um companheiro lamentava que os donos de um solar em ruínas fossem tão desleixados que não trataram da manutenção do palacete rural e não evitaram que entrasse em ruína. A conversa decorreu e chegou-se à conclusão que quem herdou a propriedade teria, certamente, muito prazer e vaidade em possuir o solar nas melhores condições, mas os seus rendimentos talvez fossem pouco mais que suficientes para manter a família e pagar os estudos dos filhos, pelo que a herança do solar constituiu um problema para ele. Mas, não tendo possibilidade de o rentabilizar, inclusive alugando a um hoteleiro que o quisesse utilizar para turismo rural, teve que optar por desprezá-lo.
Realmente, o mundo está em permanente evolução ou mudança e não podemos teimar em manter os hábitos e as rotinas que herdámos. Há que raciocinar serenamente na busca de melhoramentos que nos sejam mais vantajosos em conformidade com os factores das novas situações reais.
Estas reflexões vieram à tona a propósito da resposta de um amigo a uma mensagem que repassei, acerca do pesado orçamento do palácio de Belém (163 vezes superior ao do tempo do General Eanes, descontando a inflação) e da quantidade de pessoal que ali pesa na folha de pagamentos, cerca de 500. Escreveu esse amigo «mas o actual PR apenas herdou o sistema que vinha de trás - e é óbvio que não tem capacidade para o modificar. Por isso, pouca responsabilidade lhe pode ser assacada».
Gostava que me explicassem como é que o PR, sendo a entidade superior do país, o Supremo Magistrado da Nação, não tem poder para reduzir a obesidade da Presidência. Quem é que o impede de estruturar a Presidência, de forma económica, eficaz e adequada às necessidades, sem tantas centenas de colaboradores, que, infelizmente para ele e para o País, não o têm impedido de cometer gafes e limitar-se muitas vezes a dizer banalidades.
Custa-me aceitar que os políticos tenham criado condicionalismos legais que impeçam o PR de estruturar da forma mais conveniente, em termos custo/eficácia, os serviços da Presidência e o obriguem a dar seguimento à herança, com os vícios e erros, que encontrou na burocracia e compadrio de uma instituição demasiado pesada, opada, obesa, em relação ao «pouco» que produz para bem dos cidadãos, com excepção para os que constam na folha de pagamentos.
Não é lógico nem moral que o Supremo Magistrado da Nação seja escravizado pela máquina cara e obsoleta, engordada, impunemente, ao longo do tempo por sucessivos interesses inconfessados, que encontrou, sem poder alterá-la.
Há, realmente, heranças indesejadas.
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domingo, 11 de março de 2012
Heranças indesejadas
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2 comentários:
O detentor hatual do palácio ou se quiser o seu gerente se não é capaz de governar a sua própria casa, (com um salário tão pequeno)nunca iria ser capaz de orientar um país, aliás foi esse senhor prf. que lapidou a maior parte da massa que chegou da Europa...
O povo voltou a cair na sua cantilena agora aturem-no.
Caro Campista Selvagem,
A democracia ou o regime que assim é denominado, pelo menos o nosso, não se presta a que os eleitores escolham o que há de melhor no País. A escolha que é colocada aos eleitores é entre os voluntários ambiciosos do poder que se candidatam apoiados por um grupo de amigos que, por serem seus amigos, não dão garantias de dedicação ao País, ao interesse nacional, da maioria dos portugueses. Depois de se candidatarem a propaganda faz o resto. O eleitor procura escolher o menos mau, mas não possui dados seguros para fazer uma boa escolha e acaba por se deixar aliciar por promessas do Marketing eleitoral ou pela tradição de dar o voto a uma determinada área política.
E para as legislativas é pior porque só lhe é apresentado o cabeça de lista e dentro desta fica escondida uma fauna, por vezes da pior espécie, como ultimamente temos vindo a saber pelos jornais (suspeitos de assassinato, de corrupção, de enriquecimento ilícito, de tráfico de influências, de roubo de gravadores a jornalistas, etc, etc.)
Abraço
João
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