Embora a palavra desertor seja conhecida na prática por muitos políticos das últimas décadas e o ministro da Defesa que deve saber o que realmente ela significa, ousou empregá-la fora do significado conhecido nas actividades que tutela.
Porém, como a língua portuguesa costuma ser usada de forma muito flexível, com liberdades que muitas vezes dificultam a interpretação daquilo que se ouve e lê, será de pensar que o Sr. Ministro talvez tivesse querido usar uma nova expressão para o conceito expresso por um antigo Ministro das Obras Públicas «quem se meter com PS leva» ou para um mais recente da sua autoria «é preciso malhar neles». Agora diz que quem não concordar com as novas medidas de reforço á austeridade é «desertor». Mas é curioso raciocinar que, como muitos desertores acabaram por ser ministros, este termo na boca de S. Exª poderá representar uma promessa de «tacho».
E as medidas agora anunciadas mostram bem uma incondicional defesa dos «tachos» imorais, escandalosos, «pornográficos», pois para não lhes tocar, em vez de se combater o défice, pela redução das despesas, é decidido ir pelo aumento dos impostos e restrições de direitos adquiridos em vários sectores de âmbito social.
Em consequência, o Sr. Ministro classifica de desertor quem apontar o dedo a despesas cuja utilidade será apenas dar salário (e elevado) a «boys» com incapacidade de sobreviver com o seu próprio mérito na actividade civil. Colocar aqui a lista dos casos mais falados que, pela sua inutilidade prática para Portugal, deveriam ser eliminados ou reestruturados, seria indigesto e, por isso, sugiro a abertura deste link.
Já que se fala em «desertor», poderá também falar-se de traição, pois traição aos portugueses tomar decisões de tal gravidade e que afectam milhões de cidadãos «baseadas no instinto ou em mero voluntarismo» ou em capricho onírico, sem as estudar com a profundidade que merecem e sem terem sido encaradas as diversas alternativas para escolher a melhor delas.
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