Respeito, harmonia e colaboração
(Public em O DIABO nº 2272 de 17-07-2020, pág 16, por António João Soares)
A pandemia, com o confinamento, o desconfinamento e a evolução, merece reflexão sobre a complexidade do actual ser humano e a análise das suas diferenças dos ditos “irracionais” quanto à sua racionalidade. Há dias vi texto com aspecto de anedota que transcrevia uma conversa entre um pai e filho que pertencia a um grupo de extremistas que pretendiam destruir tudo. O pai, depois de algumas explicações, disse que tinha deixado o trabalho, destruído a fábrica e ia vender a casa e ir para sem abrigo. A reacção do filho, de trinta anos, foi de condenação, porque depois não tinha onde viver, nem o carro nem as suas mordomias; e de que iria viver? Os inconvenientes de não trabalhar e viver à larga à custa de outros, como se fosse jotinha!
O ser humano foi habituado a ter que ganhar o sustento de cada dia e a poupar para o amanhã e para fazer face a dificuldades imprevistas. E havia homens que conseguiram deixar nome e fortuna à custa do seu esforço permanente obtendo experiência, progressivamente enriquecida, com o seu dia-a-dia. A base era a família, por vezes carente, mas moralmente bem formada e educadora; o ensino, mais recentemente, com o bom efeito da moral e ética que era difundida nas escolas, na Mocidade Portuguesa, no escutismo e, principalmente, com os bons exemplos das pessoas de bom comportamento. O prémio disto era a fácil obtenção do desejado emprego, o bom trabalho e o êxito na vida.
Agora, a rapaziada quer noitadas e farras e viu-se o agravamento da pandemia após o desconfinamento e o esquecimento de cuidados de higiene, de distanciamentos sociais e de outras medidas preventivas. Não há sentido de responsabilidades nem a consciência de que a vantagem de não adoecer não é apenas da própria saúde mas também da saúde de familiares, amigos e pessoas com quem se contacta. Tive conhecimento de um nonagenário que escreveu uma carta ao director do seu lar por lhe serem exigidas regras cautelares, impedindo as saídas para visitar amigos e familiares e condicionando a recepção de visitas. Argumentava que isso era um ataque aos seus direitos, liberdades e garantias, constantes da Constituição. Apesar da sua sabedoria, esquecia-se de que, se fosse infectado, o mal não seria apenas dele mas ele seria um foco lesivo da saúde dos seus companheiros. Tal como os animais selvagens que se deslocam em manadas ou as aves que fazem as suas deslocações sazonais com disciplina e com espírito de ajuda para os que tenham de desistir por questão de saúde e que ficam acompanhados até falecer.
Como terminaram os apoios institucionais atrás referidos, há que suprir a sua falta por uma forma de instruir toda a população para obter espírito de responsabilidade perante a sociedade, respeitando toda a Natureza que nos cerca, desde os vegetais, os animais até às pessoas, por forma a todos vivermos com segurança, harmonia, em boas condições. Não podemos pensar apenas na nossa própria vida, porque só poderemos vencer a luta pela vida, juntos, com cada um a fazer o máximo que puder, para se atingir um objectivo comum, seguindo um rumo ou comportamento adequado, em colaboração e com harmonia.
Essa conjugação de esforços não é fácil, no estado em que se encontra a nossa sociedade, pelo que há que dinamizar grandes esforços para tal. Só com boa formação ética e pensando nos outros se evitam os incêndios que estão a alastrar pelo país, se evitam os atentados à segurança, os contágios do Covid-19, as violências, os roubos, etc.
As precauções evitariam acidentes rodoviários e outros, evitariam a corrupção, as fugas de capital para os paraísos fiscais, o excesso de despesas públicas para benefício de impreparados e incompetentes, etc. O respeito pelas pessoas constitui um valor social importante e insubstituível. ■
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