Atenção aos potenciais inimigos
(Public em O DIABO nº 2239 de 29-11-2019, pág 16. Por António João Soares)
Nunca se deve deixar de avaliar os inconvenientes de uma escolha que sirva de base a uma decisão importante. Isto é válido a todos os níveis e, principalmente, a nível de pequenas ou grandes potências, em que não se devem negligenciar as capacidades de decisão, de planeamento e de acção de potenciais inimigos. Sobre esta regra, a Arábia Saudita está a dar uma boa lição na forma como gere e apoia a acção do Estado Islâmico, na sua expansão geográfica.
A Europa, com os seus valores éticos de generosidade e humanidade, abriu as portas a refugiados das guerras na Síria, no Iraque, na Líbia, etc. mas não tardou muito a sentir graves inconvenientes, ao sofrer os efeitos de falsos refugiados que lhe vinham minar as tradições e a cultura sem proporcionais benefícios para a economia e o bem estar local. A insegurança sentida em diversos Estados gerou preocupações nos mais caridosos, que passaram a compreender os cuidados dos mais hesitantes para evitar receber migrantes indiscriminados. Os analistas mais independentes chegaram a previsões de que, dentro de algumas décadas, a Europa atingiria o ponto de nem sequer ser uma pálida ideia do seu passado histórico, da sua economia, e da sua harmonia social. Assim se começou a olhar com mais realismo para aquilo que passou a ser considerado uma invasão, bem planeada, sem violência exagerada para, com uma reduzida resistência, atingir o domínio total. Isso deu aso a precauções. Mesmo fora da Europa, o Presidente Trump mostra interesse em preferir imigrantes com capacidade e competência para contribuir para melhorar a economia americana, tornando-a mais competitiva e, ao mesmo tempo, servindo de prémio a trabalhadores válidos que não conseguiam emprego compatível nas suas origens. Dessa forma, evita os imigrantes fantasiosos que apenas iam criar problemas vários, inclusive de segurança, que pode atingir grau demasiado preocupante, organizando movimentos violentos.
Perante este despertar das autoridades ocidentais para a avaliação do poder do seu inimigo, da sua estratégia cuidadosa para evitar ser detectado na gravidade dos seus planos e acções, a Arábia Saudita também passou a olhar com mais realismo para a dificuldade previsível inerente a uma, mesmo muito disfarçada e progressiva, invasão do Ocidente. E, assim, há sinais muito claros de uma mudança de estratégia, passando a iniciar a expansão territorial do Islão e a redução das outras religiões, pela África e pela Ásia, onde os governantes são mais fáceis de dominar e têm menos capacidade de reacção. Segundo esta nova estratégia a Europa ficará para uma fase mais adiada e será organizada segundo os factores de força então mais decisivos.
A apoiar esta previsão estratégica, surgiram as seguintes notícias:
No Sri Lanka, no Domingo de Páscoa houve explosões em três igrejas e três hotéis de luxo que provocaram a morte a 156 pessoas, entre os quais 35 estrangeiros, entre eles um português, sendo expectável que o número de vítimas mortais venha a subir, dado o elevado número de feridos.
Na Síria, onde havia uma relativa tranquilidade desde a aplicação do cessar-fogo de Setembro, passados oito meses a violência recrudesceu e os confrontos entre os rebeldes e as forças governamentais, que eclodiram a 30 de Abril, causaram em duas semanas 180.000 deslocados.
Pouco tempo depois, no Burkina Faso, mais de 20 homens armados entraram numa igreja católica, interromperam a missa e mataram um padre e cinco outras pessoas a tiro antes de pegarem fogo à igreja, a lojas e a um café próximos. Este foi o terceiro ataque a igrejas católicas no país em cinco semanas.
Agora Macron actualizou o seu ponto de vista sobre a cooperação, a defesa e a necessidade de reforçar os vínculos entre países.
A união faz a força. ■
quinta-feira, 28 de novembro de 2019
ATENÇÃO AOS POTENCIAIS INIMIGOS
Publicada por A. João Soares à(s) 21:32 0 comentários
Etiquetas: potenciais inimigos
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
HÁ HORAS FELIZES
Há horas felizes
Public em O DIABO nº 2238 de 22-11-2019, pág 16, por António João Soares)
Na minha modéstia, simplicidade e cortesia, tenho-me repetido por diversas formas a sugerir que tanto a oposição como os responsáveis pela governação deverão procurar seguir estratégias que, de maneira adequada, permitam os melhores resultados para o engrandecimento da Nação, a melhor qualidade de vida dos cidadãos e poupança para os contribuintes que, assim, podem investir mais na melhoria da economia. Isto pode ser confirmado em vários artigos que publiquei no semanário O DIABO. Por isso me sinto premiado com as alocuções de Rui Rio e de André Ventura que, sem agressividades nem palavras ofensivas, de forma muito educada, fizeram apreciações construtivas e interrogações que podem e devem servir para o Governo pensar seriamente nos assuntos abordados e, usando de transparência democrática, explicar aos portugueses o que realmente vão fazer em tais temas, a forma pormenorizada e compreensiva como pretendem materializar assuntos que são referidos no programa de Governo de forma muito genérica que tanto podem permitir soluções num sentido como no seu oposto. Depois de ouvir estas sugestões, o Governo deve sentir-se feliz por receber tais achegas de forma clara e com aspecto positivo, construtivo.
Isto pode ser um primeiro passo para o diálogo entre governantes, oposição e cidadãos de forma a serem evitadas decisões impulsivas e menos ponderadas, segundo o conceito de que “a fantasia deve ser moderada pela sensatez” e de acordo com o segundo Éme da “estratégia dos três M”, o da “multilateralidade”, dado que muitas cabeças pensam mais e melhor do que uma só. O pensamento individual e a decisão precipitada sem recurso a outros pareceres, raramente analisa todos os factores essenciais com a profundidade indispensável. A solução de um problema deve ser precedida do estudo cuidadoso das suas causas e dos condicionamentos que o envolvem.
O total esclarecimento é imprescindível porque os cidadãos são os obreiros do engrandecimento do País e, para isso, é fundamental que colaborem activamente com o máximo de competência, entusiasmo e perfeição para que os resultados tenham a melhor qualidade. Se os dois deputados atrás referidos não foram exaustivos nos seus comentários, certamente, estarão dispostos a fornecer mais achegas, quer dentro da AR quer em contactos pessoais. Isso não os prejudica e, se for bem explicado na Comunicação Social, granjeia-lhes a gratidão dos cidadãos, pelo interesse demonstrado para o engrandecimento de Portugal.
Um livro muito interessante do Nobel Hermann Hesse sobre a vida de Siddhartha, um filósofo crente hindu, refere várias vezes que as palavras valem pouco em comparação com os actos. As pessoas devem guiar-se nas suas apreciações pelo valor destes e não pelas palavras que podem ser de tal forma superficiais ou intencionais que não passam de fantasias superficiais e ilusórias que não se traduzirão em actos merecedores de crédito. Muitas promessas, são despidas de verdade respeitável. E, infelizmente, uma grande quantidade delas não passam de vacuidades ilusórias que desacreditam os seus autores. Oxalá o PM não volte a cair em falhas como a de prometer a mudança do INFARMED para o Porto ou a de lançar a primeira pedra para a construção da unidade pediátrica do Hospital de S. João, no Porto sem que, passado mais de um mês, haja sinal de início de obras.
A população deve ser mentalizada para os deveres, acima dos direitos, e pelo respeito pelas pessoas, encarando melhor o apoio aos idosos e a educação dos jovens, eliminando a violência nas escolas contra os professores e, em casa, contra pais e avós. Quem tem responsabilidade para tomar decisões e agir não deve cair na tentação de se virar para dentro do seu ego e dar prioridade à vaidade e à ambição e ao despudorado amor ao dinheiro, uma droga tanto mais perigosa quanto está livre de produzir overdose. As decisões devem ser precedidas de estudo e consulta. ■
Publicada por A. João Soares à(s) 18:21 0 comentários
sábado, 16 de novembro de 2019
ESPERANÇA E PROMESSAS NÃO SUSTENTAM
Esperança e promessas não sustentam
(Publicao em O DIABO nº 2237 de 15-11-2019, pág. 16)
Tenho escrito sobre a esperança num amanhã melhor e um amigo já me disse que sou um sonhador, lunático, filósofo, etc. Porém, a minha intenção não é iludir mas, apenas, mostrar que o futuro só será melhor se cada um agir em conformidade com objectivos socialmente positivos e construtivos. Não podemos nem devemos viver de esperanças, nem de promessas nem de ilusões, embora o optimismo controlado nos amenize a vida.
A esperança que esbocei no artigo anterior não é um dado adquirido, mas apenas um conjunto de indícios que podem vir a tornar-se realidade se houver pessoas com posição de decisão que tenham o bom senso de agir nesse sentido. Os grandes prémios da lotaria não nos caem no regaço se nada fizermos para isso.
Mas há decisões que parecem anedotas, como a formação do actual Governo que tem quase uma dezena de secretários de Estado de administração interna, descentralização e da administração local, conservação da natureza, das florestas e do ordenamento do território, planeamento, infra-estruturas, mobilidade, desenvolvimento regional, valorização do interior, agricultura e do desenvolvimento rural.
Será uma complicada tarefa para os cidadãos e autarquias fazer a separação das diversas áreas de “responsabilidade”, gerando uma complexa burocracia e problemas de comunicação com devoluções de assuntos que deveriam ter sido enviados para outro destinatário. Há quem se interrogue se, com esta generosidade, à custa do contribuinte, o PS conseguiu dar cargo no Governo a todos os seus amigos. Mas há quem responda que o PM fez um bom aproveitamento desta oportunidade para combater o desemprego dos amigos que não têm a mínima capacidade para viver de trabalho honesto. E essa luta contra o desemprego vai, certamente, abranger dezenas de ‘boys’ para lugares de assessores, etc. E há quem preveja que, tal como outros jovens semelhantes, vão passar o tempo agarrados aos seus telemóveis em gabinetes luxuosos sem perigo de serem atropelados na rua.
E também surge quem se interrogue: qual será a reacção da UE? Para que serve a UE que não vê este desaforo irracional de saque aos bolsos dos contribuintes?
Mas quando pensei no tema deste trabalho pretendia que não fosse dado significado exagerado aos sinais de esperança da Humanidade, porque há muitas situações concretas e a esperança e as promessas não sustentam a vida, embora todos devamos fazer o máximo para haver melhor harmonia colectiva. Infelizmente, a racionalidade nem sempre coloca o ser humano acima dos ditos irracionais cujas vidas nos dão lições muito válidas.
Sinais preocupantes e pouco animadores chegam das crises políticas, na Venezuela, na Guiné-Bissau, na Argentina e até aqui perto, na Espanha. No Reino Unido, a falta de entendimento do Brexit fruto do referendo de 5 de Janeiro de 2016 promete agora ser solucionado até 31 de Janeiro próximo, passados mais de quatro anos. Para haver esperança real e confiante no futuro harmonioso da Humanidade, é indispensável um respeito religioso pelos valores éticos e pela moral social de forma mais do que nunca. Mas, infelizmente, actualmente a humanidade está mais degradada do que em qualquer época histórica. Hoje não se respeita nada nem ninguém, a não ser o vil metal, essa droga diabólica que é tão ilimitada que nem provoca overdose. O seu efeito exterioriza-se na vaidade, na inveja, na arrogância, na corrupção, no roubo, na prepotência, enfim, em tudo o que há de pior no relacionamento entre as pessoas.
A esperança apenas ajuda a suportar as agruras da vida, embora mereçam consideração aqueles que à sombra dele procurem que os seres humanos mereçam mais o adjectivo de racionais, como superioridade aos ditos “irracionais”. ■
Publicada por A. João Soares à(s) 18:00 0 comentários
sexta-feira, 8 de novembro de 2019
ESPERAMOS UM MUNDO MAIS RACIONAL
Esperamos um Mundo mais racional
Publicado em DIABO nº 2236 de 08-11-2019. Pág 16
Actualmente, ouve-se falar muito contra a história e os feitos heróicos que nos davam orgulho do passado e nos ajudavam a suportar as incertezas ou maus auspícios sobre o amanhã e o pessimismo, desde as alterações climáticas à crise económica ou à guerra, que começam a afectar a saúde mental. E é dado muito relevo à violência a vários níveis, quer doméstico quer internacional, sem se apontarem sinais motivadores de esperança salutar.
Mas, felizmente, há sinais de optimismo e de esperança, embora pareçam não ser do gosto dos jornalistas, que começam a brilhar como luz ao fundo do túnel e merecem ser sublinhados pelo muito que representam para quem se preocupa com o futuro da humanidade, não só pelo seu significado local mas, principalmente, por deverem servir de exemplo e incentivo para os detentores do Poder a nível das Nações e das Instituições Internacionais.
Há variados casos que merecem ser bem apreciados pelo que representam de exemplo a seguir por todos os governantes e por todas as pessoas. Notícia de 18 de Outubro diz que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou “fortemente” o ataque a uma mesquita no Afeganistão, que provocou 62 mortos e 36 feridos. E, provavelmente, este nosso compatriota não se deve ter ficado pelas palavras e, de forma mais ou menos directa, deve ter accionado a ONU a fim de acabar com este tipo de ataques selvagens e cobardes que tiram a vida a muitas pessoas inocentes.
E tal provável acção de Guterres pode estar na origem do facto noticiado no dia 23 de que movimento talibã participa na China, nos dias 28 e 29, numa nova ronda de diálogo inter-afegão para a paz. Oxalá este diálogo tenha êxito e ponha fim à guerra que, há 28 anos, tem dizimado a população do Afeganistão, sem benefício para ninguém a não ser para os fabricantes de armas e munições.
Outro caso, este com nítida acção da ONU, passa-se na Guiné-Bissau em que são notadas dificuldades entre várias forças políticas, quando se aproximam as eleições presidenciais, e onde foi criada uma Comissão da Configuração da Paz da ONU para a Guiné-Bissau, sendo presidente o embaixador brasileiro Mauro Vieira. Este, em consonância com o multilateralismo defendido pela «estratégia dos três M», nos dias em que se deslocou a Bissau, reuniu-se com as autoridades nacionais, órgãos responsáveis pela organização das eleições, partidos políticos, sociedade civil e parceiros internacionais. Nos seus contactos, durante a estada de dois dias, disse a todos que todas as dificuldades que possam surgir no caminho devem ser superadas pelo consenso, pela negociação, pelo diálogo.
Também, em sintonia com a repulsa da violência e da guerra e pela defesa do diálogo e da negociação, o Fundo Monetário Internacional (FMI) fez um apelo ao crescimento global e à renúncia aos conflitos comerciais que põem em causa esse crescimento. Os membros do FMI, durante a assembleia geral de Outono, encerrada, há poucos dias, em Washington, debateram como aumentar a “pressão do grupo” sobre os países em confronto comercial, de modo a que melhorem e respeitem as regras globais do comércio, disse a directora-geral da instituição na conferência de imprensa de encerramento dos trabalhos. Nestes, um dos principais temas de discussão na assembleia foi o da tensão comercial entre os EUA Unidos e a China.
Também a Rússia advertiu que a situação de tensão no nordeste da Síria, onde se acordou uma trégua na operação militar turca contra as milícias curdas, pode prejudicar o processo de negociação política. A isto a Turquia afirmou que “não tem necessidade” de retomar a sua ofensiva contra as forças curdas no norte da Síria.
Estes exemplos aqui referidos mostram- -nos razões de esperança de que o Mundo irá entrar na racionalidade e pretender atingir os fins prognosticados pelo comentador político Kishore Mahbubaini na sua «estratégia dos três M». ■
Publicada por A. João Soares à(s) 07:26 0 comentários
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terça-feira, 5 de novembro de 2019
IMAGENS DO CAS RUNA
Imagens do Centro de Apoio Social de Runa (CAS RUNA) para poder matar futuras saudades de dois anos de «residente» nesta casa e para, com elas, demonstrar a minha gratidão e agradáveis recordações da amizade, carinho e respeito sempre evidente nos outros residentes e nas pessoas da Direcção e dos serviços de apoio, sempre delicadas e disponíveis para ajudar a resolver qualquer dificuldade. Levo-os devidamente instalados na sala mais primorosa do meu coração e desejo voltar a vê-las a qualquer momento. Esta Amizade merece um carinho muito especial.
Publicada por A. João Soares à(s) 17:08 0 comentários
Etiquetas: CAS RUNA
sábado, 2 de novembro de 2019
DISCURSO DE KISHORE MAHBUBANI
Com a ONU activa, o Ocidente e todo o mundo podem ter um futuro pacífico e progressivo
Esta transcrição do discurso de Kishore Mahbubani foi publicado inicialmente no blog «Sempre Jovens», mas a quantidade de visitantes teve um tal aumento que decidi trazê-lo para aqui para agrado dos muitos visitantes que aqui costumem vir.
Discurso por Kishore Mahbubani
Há uns 200 anos, Napoleão avisou: «Deixem a China dormir porque, quando ela acordar, vai abalar o mundo».
Apesar deste aviso antigo, o Ocidente decidiu adormecer, precisamente na altura em que a China e a Índia e o resto da Ásia, acordaram. Porque é que isto aconteceu?
Venho aqui falar deste grande mistério. O que é que eu quero dizer, quando digo que o Ocidente decidiu adormecer?
Refiro-me ao fracasso do Ocidente em reagir, de forma inteligente e cuidadosa, a um novo ambiente mundial que, obviamente, tem sido criado com o regresso da Ásia.
Enquanto amigo do Ocidente, sinto-me angustiado com isto, por isso o meu objectivo hoje é tentar ajudar o Ocidente.
Mas, primeiro, tenho de começar a história, falando de como o Ocidente acordou o resto do mundo.
Desde o ano um ao ano 1820, as duas maiores economias do mundo foram sempre as da China e da Índia. Só nos últimos 200 anos é que a Europa avançou, seguida pela América do Norte. Os últimos 200 anos da história mundial foram, pois, uma grande aberração histórica. Todas as aberrações chegam a um fim natural e é isso que estamos a ver.
Se observarmos o gráfico dois, vemos com que rapidez e pujança a China e a Índia estão a regressar.
O grande problema é: Quem acordou a China e a Índia? A única resposta honesta a esta pergunta é que foi a civilização ocidental que fez isso.
Todos sabemos que o Ocidente foi o primeiro a modernizar-se com êxito, a transformar-se, a usar inicialmente o seu poder para colonizar e dominar o mundo.
Mas, com o tempo, partilhou os dons da sabedoria ocidental com o resto do mundo. Vou acrescentar que, pessoalmente, beneficiei com a partilha da sabedoria do Ocidente. Quando nasci, em Singapura, que, na altura, em 1948, era uma pobre colónia britânica, tal como três quartos da humanidade, nessa época.
Vivi em extrema pobreza. No primeiro dia em que fui para a escola, aos seis anos, fui colocado num programa especial de alimentação porque, tecnicamente, fui considerado malnutrido. Como veem, agora estou muito bem nutrido.
Mas a melhor coisa que me deram foi o ensino ocidental. Como, pessoalmente, fiz este percurso da pobreza do terceiro mundo para uma existência confortável da classe média, posso falar com grande convicção sobre o impacto da sabedoria Ocidental e a partilha da sabedoria do Ocidente com o mundo. Um dom em especial que o Ocidente partilhou foi o ato de raciocinar.
O raciocínio não foi inventado pelo Ocidente. é inerente a todas as culturas e a todas as civilizações. Amartya Sen descreveu como o raciocínio está profundamente embebido na civilização indiana. Mas também não há dúvida de que foi o Ocidente que desenvolveu a arte do raciocínio a um nível muito mais elevado.
Através da Revolução Científica, do Iluminismo, da Revolução Industrial, o Ocidente elevou-o grandemente e, de modo igualmente importante, usou-o, aplicou-o para resolver muitos importantes problemas práticos.
Depois, o Ocidente partilhou esta arte do raciocínio com o resto do mundo. Posso dizer-vos que isso levou àquilo a que chamamos as revoluções silenciosas.
Enquanto asiático, posso descrever como essas revoluções silenciosas transformaram a Ásia.
A primeira revolução foi a económica. A principal razão por que tantas economias asiáticas, incluindo as sociedades comunistas da China e do Vietname, têm funcionado tão espectacularmente bem no desenvolvimento económico, é porque finalmente perceberam, absorveram e implementaram as economias de mercado livre — um presente do Ocidente.
Adam Smith tinha razão. Se deixarmos os mercados decidirem, a produtividade aumenta.
O segundo presente foi psicológico. Também aqui posso falar por experiência pessoal. Quando eu era jovem, a minha mãe e a geração dela acreditavam que a vida era determinada pelo destino. Não podíamos fazer nada quanto a isso. A minha geração e a geração dos asiáticos depois de mim, acreditam que podemos ser responsáveis e podemos melhorar a nossa vida.
Isto pode explicar, por exemplo, o pico de empreendedorismo que vemos actualmente por toda a Ásia. Se viajarmos hoje pela Ásia, também veremos os resultados da terceira revolução, a revolução da boa governação. Como resultado da boa governação, se viajarem pela Ásia, verão melhores cuidados de saúde, melhor ensino, melhores infraestruturas, melhores políticas públicas. É um mundo diferente.
Ora bem, depois de transformar o mundo através da partilha da sabedoria ocidental com o resto do mundo, a resposta lógica e racional do Ocidente devia ter sido dizer: "Temos de nos ajustar e adaptar a este novo mundo".
Em vez disso, o Ocidente optou por dormir. Porque é que isso aconteceu? Eu creio que aconteceu porque o Ocidente ficou distraído com dois importantes acontecimentos:
O primeiro acontecimento foi o fim da Guerra Fria. Sim, o fim da Guerra Fria foi uma grande vitória. O Ocidente derrotou a poderosa União Soviética, sem disparar um tiro. Espantoso!
Mas, quando temos uma grande vitória como esta, também leva à arrogância e à sobranceria. Esta sobranceria foi bem captada num conhecido ensaio de Francis Fukuyama, chamado "O Fim da História". Fukuyama tentava transmitir uma mensagem muito sofisticada mas tudo o que o Ocidente captou desse ensaio foi que nós, as democracias liberais tínhamos triunfado. Não tínhamos de mudar, não tínhamos de nos adaptar, o resto do mundo é que tinha de mudar e de se adaptar.
Infelizmente, tal como um ópio perigoso, este ensaio fez muitos estragos no cérebro do Ocidente, porque pô-lo a dormir exactamente na altura em que a China e a Índia estavam a acordar. e o Ocidente não se ajustou nem se adaptou.
O segundo acontecimento importante foi o 11 de Setembro que ocorreu em 2001. Como sabemos, o 11/set causou um grande choque e dor. Pessoalmente, vivi esse choque e dor porque estava em Manhattan quando o 11/set ocorreu. O 11/set também gerou muita raiva, e, nesta raiva, os EUA decidiram invadir o Afeganistão e, posteriormente, o Iraque.
Infelizmente, em parte, como resultado desta raiva, o Ocidente não reparou noutro acontecimento significativo que ocorreu também em 2001. A China juntou-se a Organizações Comerciais Mundiais.
Quando injectamos, subitamente, 900 milhões de novos trabalhadores no sistema capitalista mundial, isso leva naturalmente ao que o economista Joseph Schumpeter chamou "destruição criativa". Os trabalhadores ocidentais perderam os seus postos de trabalho, viram as suas receitas a estagnar. Nitidamente as pessoas tinham de pensar em novas políticas competitivas, os trabalhadores precisavam de novas formações, precisavam de novas competências. Nada disso foi feito.
Em parte, como resultado disso, os EUA tornaram-se na única grande sociedade desenvolvida em que o rendimento médio dos 50% de baixou— sim, 50% —o rendimento médio baixou, num período de 30 anos, entre 1980 e 2010, Em parte, como resultado disso, chegámos, em 2016, à eleição de Donald Trump que explorou a raiva das classes trabalhadoras, que são predominantemente brancas.
Isso também contribuiu para o aumento do populismo na Europa. Não podemos deixar de pensar como esse populismo podia ter sido evitado se o Ocidente não tivesse andado distraído com o fim da Guerra Fria e do 11/set.
Mas a grande questão que hoje enfrentamos é esta: Será tarde demais? O Ocidente perdeu tudo? A minha resposta é que não é tarde demais. É possível que o Ocidente recupere e volte em força.
Usando a arte de raciocínio do Ocidente, eu recomendo que o Ocidente adopte uma nova estratégia de "três M": minimalista, multilateral e maquiavélica.
Porquê minimalista? Apesar de ter acabado o domínio do Ocidente, o Ocidente continua a intervir e a interferir nos assuntos de muitas outras sociedades. Isso é insensato. Está a gerar raiva e ressentimento, especialmente nas sociedades islâmicas. Também está a esgotar os recursos e o espírito das sociedades ocidentais. Eu sei que o mundo islâmico está a ter dificuldade em se modernizar. Vai ter de encontrar o seu caminho, mas é mais provável fazer isso se o deixarem fazer sozinho. Eu posso dizer, com alguma convicção porque sou duma região, do sudeste asiático, que tem quase tantos muçulmanos como o mundo árabe, são 266 milhões de muçulmanos. O sudeste asiático é um dos continentes mais diversificados do planeta, porque também temos 146 milhões de cristãos, 149 milhões de budistas — budistas Mahayana e budistas Hinayana —e também temos milhões de taoístas, de confucionistas e de hindus e até comunistas. Outrora conhecido por "os Balcãs da Ásia", o sudeste asiático devia estar a sofrer hoje um choque de civilizações. Em vez disso, vemos que o sudeste asiático é um dos cantos do planeta mais pacíficos e mais prósperos com a segunda organização regional,multilateral de maior êxito, a ASEAN. Nitidamente, o minimalismo pode funcionar.
O Ocidente devia tentar. Mas reconheço que o minimalismo, só por si, não pode resolver todos os problemas. Há problemas difíceis que têm de ser tratados: a Al-Qaeda, o ISIS. Mantêm-se ameaças perigosas. Têm de ser encontrados, têm de ser destruídos. A questão é: Será sensato que o Ocidente que representa 12% da população mundial, — sim, só 12% — combata essas ameaças sozinho? Ou deve lutar com os restantes 88% da população mundial? A resposta lógica e racional é que devemos trabalhar com os restantes 88%. Onde é que vamos se quisermos arranjar o apoio da humanidade? Só há um local: as Nações Unidas. Eu já fui embaixador nas Nações Unidas, duas vezes. Talvez por isso, possa estar um pouco influenciado, mas posso dizer-vos que trabalhar com a ONU pode levar ao êxito. Porque é que foi um êxito a primeira guerra iraquiana, travada pelo presidente George H. W. Bush? Enquanto que a segunda guerra iraquiana, travada pelo filho dele, o presidente George W. Bush, foi um fracasso? Uma razão principal é que o Bush pai foi às Nações Unidas para obter o apoio da comunidade global, antes de travar a guerra no Iraque.
Assim, o multilateralismo funciona. Há outra razão por que temos de trabalhar com a ONU. O mundo está a encolher. Estamos a tornar-nos numa aldeia global pequena e interdependente. Todas as aldeias precisam de conselhos de aldeia. O único conselho mundial que temos, como disse Kofi Annan, o falecido Secretário-Geral da ONU, é a ONU. Enquanto analista geopolítico, sei muito bem que, muitas vezes, considera-se uma ingenuidade trabalhar com a ONU.
Agora, vou injectar o meu ponto maquiavélico. Maquiavel é uma figura muito denegrida no Ocidente, mas o filósofo liberal Isaiah Berlin recordou-nos que o objectivo de Maquiavel era promover a virtude, não o mal. Então qual é o ponto de Maquiavel? É este: qual será a melhor forma para o Ocidente restringir as novas potências emergentes? A resposta é: A melhor resposta para as restringir é através de regras multilaterais e normas multilaterais, instituições multilaterais e processos multilaterais.
Agora, vou terminar com uma importante mensagem final. Como amigo de longa data do Ocidente, tenho plena consciência de como as sociedades ocidentais se tornaram pessimistas. Muita gente no Ocidente não acredita que tem um grande futuro à sua frente, nem que os seus filhos terão uma vida melhor. Portanto, por favor, não receiem o futuro ou o resto do mundo. Posso dizer com alguma convicção o porque, enquanto hindu sindi, sinto uma ligação cultural direta com culturas diversas da sociedade e com sociedades desde o Teerão a Tóquio.
Mais de metade da humanidade vive neste espaço. Portanto, com esta ligação cultural directa, posso dizer com grande convicção que, se o Ocidente optar por adoptar uma estratégia mais sábia de ser minimalista, multilateral e maquiavélica, o resto do mundo ficará contente por trabalhar com o Ocidente. Portanto, um grande futuro perfila-se para a humanidade. Vamos adoptá-la em conjunto.
Obrigado
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