Brexit: as causas de um imbróglio
Transcrição de artigo publicado no semanário O DIABO nº 2205 de 05-04-2019, pág 8, por Lino Oliveira
O Brexit tornou-se um imbróglio difícil de resolver salvando a face de todas as partes envolvidas. A incerteza e as suas consequências são a grande preocupação do momento. Talvez depois se possa olhar para as CAUSAS. E a causa próxima terá sido a decisão eleitoralista precipitada de prometer a realização do referendo (democracia directa exige muito mais “manipulação”). Tratou-se de um caso óbvio de não seguir as ‘boas práticas da tomada de decisão’ de que o Sr. Coronel A. J. Soares aqui tanto procura lembrar, matéria que pelos vistos se ensina na ‘tropa’ e não nas universidades de Verão dos partidos políticos.
O resultado do referendo não era assim tão imprevisível se considerarmos que a Inglaterra é uma potência marítima (como nós), que sempre olhou para o Continente com desconfiança e vice-versa, que não gosta de ver os seus assuntos tratados por terceiros e que teve dificuldade em entrar para este ‘clube Europeu’ (como nós). O resultado teria sido mais expressivo, estou convicto, se a ilha não tivesse vindo a ser invadida progressivamente por não ilhéus (imigrantes e não só). E o Reino Unido não é assim tão unido se olharmos para a Escócia e a Irlanda do Norte. A sua participação terá sido significativa (mais de 70%), mas a exigência de uma maioria simples para decisão desta importância, parece curta. Não o será se considerarmos que o referendo era apenas consultivo e não vinculativo, o que terá surpreendido muitos comentadores e votantes. Afinal, trata-se de uma democracia parlamentar pura e o poder está no parlamento. Mas numa sociedade evoluída como esta não será fácil contrariar o voto popular.
O Reino Unido aderiu ao mercado único de uma Europa de Nações Soberanas do Tratado de Roma e não à deriva federalista, montada nas costas das populações, como resultado de posteriores tratados, uma vez falhada a imposição de uma Constituição Europeia. Foi ficando a cada Tratado graças a concessões especiais negadas a outros países. Esta é a verdadeira causa do Brexit e dos populismos que têm proliferado. Não querer ver isto e em consequência ‹corrigir o tiro›, se é que ainda é possível, pode trazer graves consequências à Europa. ■
LINO OLIVEIRA
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