Decisões coerentes com estratégias
(Publicado no Semanário O DIABO em 31 de Julho de 2018)
As decisões devem ser sempre integradas em estratégias gerais, abrangentes, globais, para não serem marginais e lesivas de prioridades correctas. A coerência deve ser sempre uma preocupação em qualquer decisão e, mesmo que pequena, deve ser bem preparada para não gerar desperdícios de tempo, de energia e de recursos. Há que evitar o desprestígio de anular uma decisão tomada e depois substituída por outra com diferente orientação.
Têm sido criticadas muitas promessas, ornadas de palavras como “garanto”, “asseguro”, mas que depois não são realizadas. Convém não abusar de tais erros. E antes de exteriorizar uma tendência deve-se fazer a listagem das possíveis modalidades de acção, com base na opinião de pessoas sérias, independentes e intimamente ligadas ao assunto.
Há alguns dias, o PM anunciou, num estaleiro do Norte, que nos próximos seis a oito anos irão ser construídos sete novos navios para a Marinha portuguesa, uma promessa que seria agradável para os marinheiros, se viesse a ser concretizada, se os problemas financeiros que o País atravessa não viessem a agravar-se. Será que isto se integra num estudo abrangente do desenvolvimento para Portugal? Será que o grupo que preparou a estratégia em que se insere esta decisão foi formado por pessoas competentes, apartidárias, com experiência que permita confiar na sua noção global dos interesses nacionais?
Ou foi uma promessa fantasiosa para iniciar a propaganda eleitoral das próximas eleições? Tal investimento e a possível estratégia nacional em que se integra, irá preocupar as pessoas dependentes do SNS, ao ponto de se recear a emotividade sentida pelos utentes, pelos médicos e pelos enfermeiros. Também não será muito positiva a reacção de pessoas ligadas ao ensino, para além de professores e de quem estuda as necessidades de reforma do ensino, para formar cidadãos válidos e produtivos na economia das próximas décadas. É que, para estes sectores, a austeridade, o défice e a dívida pública são o argumento usado para justificar as restrições e os apertos do cinto.
Mas os próprios marinheiros devem estar duvidosos de tal presente, até porque foi baptizado o Navio-Patrulha Oceânico Sines, o primeiro de dois em construção nos estaleiros de Viana e que apenas pode dispor de lanchas semi-rígidas temporárias para missões de busca e salvamento e não se prevê o tempo que irá demorar até que ele possa dispor do armamento adequado e do equipamento electrónico indispensável para cumprir as missões verdadeiramente militares para que foi concebido.
Mas além de muitas promessas, eventualmente justificadas por motivos políticos, tem havido muitas decisões tomadas levianamente e que foram engolidas em seco, como por exemplo a que impunha a limpeza de matas à beira das estradas e povoações até dia 1 de Março e que teve de ser alterada para uma data muito posterior. Também o problema da mudança do Infarmed parece ter sido estudado por um grupo de trabalho formado por iniciativa do Governo sem devida apreciação do método e isenção dos seus elementos. Mas estes erros vêm de longe. Quando Sócrates foi pressionado a mudar o aeroporto de Lisboa para a Ota, pediu pareceres confirmativos a amigos, gastando muitas centenas de milhar de euros e, quando o problema veio a público, foi tal a discussão, que em vez da Ota foi decidido mudar para Alcochete. Mas há poderes a que os políticos não conseguem resistir e esse aeroporto passará para Montijo, embora haja outra sugestão mais fácil, já com ligações internacionais e com melhores transportes para Lisboa, em Tires.
António João Soares
24 de Julho de 2018
terça-feira, 31 de julho de 2018
DECISÕES COERENTES COM ESTRATÉGIAS
Publicada por A. João Soares à(s) 06:46 0 comentários
Etiquetas: decisão, estratégia
terça-feira, 24 de julho de 2018
SENSATEZ, LÓGICA E MÉTODO
Sensatez, lógica e método
(Publicado no Semanário O DIABO em 24 de Julho de 2018)
A vida real oferece lições que não devemos desperdiçar: casos como o dos rapazes bloqueados em gruta na Tailândia, o da crise do Sporting e a falhada tentativa de eliminar as touradas mostram que, ao decidir uma acção vistosa, é indispensável utilizar os ensinamentos da vida para a preparação da decisão. É conveniente não deixar de usar sensatez, uma finalidade bem ponderada, uma lógica assente na análise das vantagens e inconvenientes e uma estratégia correcta no percurso desde o ponto de partida até ao objectivo.
Ser lunático, utópico ou sonhador, é aceitável quando se é coerente consigo próprio, com a natureza e com um futuro melhor. Foi com base em sonhos lunáticos que se realizaram grandes passos em frente ao longo da história da ciência, da tecnologia, da arte, etc., mas a concretização prática foi obtida por técnicos pragmáticos bons conhecedores das realidades e das ferramentas de trabalho para darem à ideia um plano e um projecto realista.
Infelizmente, o mundo tem sofrido as consequências de aventuras fúteis e precipitadas por entusiasmos de pessoas, com poder, que se consideraram competentes e detentoras de toda a verdade e saber e cometeram erros graves cuja recuperação teve que ser demorada e com muitos danos para a Humanidade. O caso da gruta na Tailândia pode ter resultado de curiosidade, mais ou menos científica, ou colectiva ou apenas do treinador que induziu os seus discípulos a uma situação irreflectida e com riscos incompatíveis com as suas capacidades de solucionar. Felizmente para eles, tudo acabou bem, mas deixaram a lição de que aventuras deste género devem ser tomadas apenas por grupos de dois ou três, tendo atrás um apoio para socorro imediato no caso de dificuldade inesperada.
O caso do Sporting Club de Portugal foi grave e inconveniente, lesando a sua história relevante, não apenas na imagem, mas também nos próximos resultados. Estiveram em foco a falta de sensatez, de ponderação, de lógica, sem método nem finalidade racional e coerente, que alguns jornalistas apelidaram de loucura. Os conflitos geradores de hostilidades entre pessoas que devem usar convergência de esforços, são de evitar a todo o custo, para não estragar o espírito de equipa. O consenso deve ser a ferramenta a usar com lealdade e espírito construtivo para conseguir o maior êxito do trabalho conjunto. O respeito pelos outros e a vontade de obter vitórias devem ser desenvolvidos em permanência no espírito de todos os elementos de um clube.
Quanto à tentativa de acabar com o espectáculo das touradas, foi mais um exemplo da mentalidade de políticos que se consideram donos de todo o bom senso e querem impor ao povo as suas idiotices, custe a quem custar. A vida não pode ser gerida por caprichos. Tive animais domésticos e gosto de todos os animais, como se deduz do texto publicado recentemente, “Os ‘ditos irracionais’ e nós”, mas discordo que se faça a antropomorfização dos animais. Cada macaco em seu galho. Se se pretende chegar ao ponto de proibir as pessoas de se alimentarem de carne para não sacrificar a vida de animais, como se vai condenar o leão que come a zebra, ou outros animais carnívoros que seguem as forças da natureza para se alimentar? E qual é o bom senso de um político que quer proibir a tourada, divertimento do touro que nela mostra a sua valentia e combatividade, mas ignora o sacrifício de muitos desportistas que arriscam a vida para vencer uma prova? E que preocupação sente pelas pessoas que vivem com grandes dificuldades de subsistência? Devem ser escolhidos objectivos de VALOR, com SENSATEZ, e procurar concretizá-los com LÓGICA e MÉTODO. ■
António João Soares
17 de Julho de 2018
Publicada por A. João Soares à(s) 07:04 0 comentários
terça-feira, 17 de julho de 2018
O DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO TERÁ CRESCIDO?
O desenvolvimento económico terá crescido?
(Publicado no Semanário O DIABO em 17 de Julho de 2018)
Tem havido palavras, em tom intencionalmente solene, a afirmar que o crescimento do desenvolvimento económico tem aumentado. Mas elas são, pouco depois, contrariadas por notícias de factos reais.
Na saúde, as dificuldades são conhecidas de muitos cidadãos que sentem no corpo a demora de consultas marcadas para datas muito distantes, por vezes tornadas desnecessárias por falecimento do doente. O mesmo se passa quanto a intervenções cirúrgicas e exames médicos. Esta deficiente capacidade de resposta está ligada a notícias de que “nos hospitais faltam coisas simples como compressas e fios de sutura”. Por carência de camas e do respectivo pessoal de enfermagem tem havido situações caóticas em serviços de urgência, por os médicos não terem onde internar os doentes.
Muito significativo o caso de os chefes de equipa de medicina interna e cirurgia geral do Centro Hospitalar de Lisboa Central terem apresentado a demissão por considerarem inaceitáveis os níveis de segurança das condições da urgência do hospital de São José. E, segundo o bastonário da Ordem dos Médicos, esta situação pode acontecer noutros hospitais por as pessoas estarem a trabalhar no limite. É estranho que os mais altos responsáveis não queiram ver as realidades que afectam os portugueses.
É certo que o dinheiro é pouco e não dá para tudo. Nesse caso, é preciso ter o bom senso e sensibilidade para definir prioridades e colocar acima de tudo os interesses essenciais das pessoas. Mas, apesar de carências financeiras, “Portugal disponibiliza financiamento de 202 milhões de euros para Moçambique”, “Portugal vai cumprir exigências de Trump nos gastos com Defesa”. Mas quando as necessidades das pessoas estão em situação crítica, não deve haver prazer em saber os “EUA satisfeitos com o compromisso de Portugal na área da Defesa”.
É preciso prevenir o risco de recessão prolongada e do aumento do endividamento, pelo que são urgentes medidas racionais, sensatas e bem aplicadas.
E para fazer face aos riscos de recessão, já a troika, quando geria a nossa economia, propôs medidas que o Governo de então recusou mas que não devem ser esquecidas: redução das mordomias dos ex-Presidentes da República; redução do número de deputados da AR para 80, profissionalizando-os como noutros países; reforma das mordomias na AR, como almoços opíparos à custa do erário; acabar com centenas de Institutos Públicos e Fundações Públicas sem reconhecida utilidade; acabar com as empresas municipais que apenas servem para dilatar a folha de pagamentos; verificar as empresas de estacionamento e os seus aparelhos; redução drástica das Câmaras Municipais, Assembleias Municipais e Juntas de Freguesia; acabar com o financiamento aos partidos, que devem viver das quotas dos associados; acabar com a distribuição de carros a presidentes, assessores, etc, das Câmaras, Juntas, etc.; acabar com os motoristas particulares 20 h/dia; acabar com a renovação sistemática de frotas de carros do Estado; colocar chapas de identificação em todos os carros do Estado; acabar com o vaivém semanal dos deputados dos Açores e Madeira; controlar a assiduidade do pessoal da função pública; acabar com as administrações numerosíssimas de hospitais públicos; acabar com os milhares de pareceres jurídicos; acabar com as várias reformas por pessoa; combater corrupção e desvios de dinheiro; acabar com os salários milionários da RTP; acabar com os lugares de amigos e de partidos na RTP; acabar com as PPP; criminalizar, imediatamente, o enriquecimento ilícito; controlar rigorosamente a actividade bancária; pôr os bancos a pagar impostos, etc.
António João Soares
10 de Julho de 2018
Publicada por A. João Soares à(s) 07:52 0 comentários
Etiquetas: desenvolvimento económico, qualidade de vida
terça-feira, 10 de julho de 2018
OS «DITOS IRRACIONAIS» E NÓS
Os «ditos irracionais» e nós
(Publicado no semanário O DIABO em 10-07-2018)
Numa conversa em que me referi ao egocentrismo de seres humanos da antiguidade que classificaram de racionais os seus semelhantes e de irracionais os outros seres vivos, alguém se referiu à conveniência de eliminar os quadrúpedes com cornos, por haver casos de graves agressões deles a humanos.
Quanto ao uso do raciocínio e da razão, há provas abundantes de que os «ditos irracionais» são mais racionais do que muitos humanos, no seu relacionamento familiar, de bando e com outros de espécie diferente.
Dos muitos vídeos que tenho visto, vou salientar dois que mostram o relacionamento de touros com homens. Um deles mostra uma arena com dezenas de pessoas alinhadas como se fosse formatura militar com intervalos entre si de dois ou três metros. Estavam imóveis quando do curro foi libertado um toiro que correu em direcção ao centro da arena, abrandou a marcha e avançou pelo meio das pessoas sem um gesto de agressão. Andou serenamente em várias direcções até que vim um indivíduo na borda da arena a agitar algo parecido com uma bandarilha e desatou a correr nessa direcção. O indivíduo parou a bandarilha e escondeu-a atrás das costas, o que fez parar o touro. Depois um outro jovem, noutro local, movimentou-se ostensivamente provocando igual reacção. O touro mostrou que teve a noção de que as pessoas paradas não constituíam ameaça mas que era preciso defender-se de quem aparentava querer agredi-lo.
Outro vídeo mostrava a brutal violência dos touros numa largada em Espanha perante rapazes que os queriam enfrentar e tinham de fugir para não serem maltratados. Perante um touro em pleno desespero contra a rapaziada, um homem de média idade apareceu na rua, calmamente, parou e viu o touro passar ao lado sem lhe fazer qualquer mal, depois falou serenamente ao animal e este aproximou-se e permitiu que o homem lhe fizesse uma festa no cachaço.
Cenas como estas aparecem no mato africano entre pessoas e animais. Mas há outras imagens de amizade entre animais da mesma espécie e até entre animais de espécies diferentes, como cães e gatos. A forma como as mães cuidam das crias e estas as seguem em cada passo que dão, faz pensar no desleixo de muitas mulheres que abandonam e os filhos ou os maltratam até à morte. Depois de os verem crescidos afastam-nos para buscarem alimento e procurarem os seus pares. É admirável o procedimento de grupos organizados, disciplinados em deslocamentos ordenados com vigilância para ninguém se transviar, fazendo lembrar militares do SMO nos exercícios da recruta. Merece atenção a forma como procuram solução para problemas, principalmente quando o ambiente foi alterado e eles não sentem dificuldade em contornar os obstáculos e encontrar a estratégia para atingir o seu objectivo. É admirável como se servem da sua audição e do olfacto para se dirigirem onde lhes interessa, etc.
É remunerado o tempo que se utiliza para observar o formigueiro ou as abelhas na busca do pólen, ou o bando de patos em deslocação, de forma ordenada e com disciplina, ou o alinhamento de aves migratórias em voos bem alinhados no regresso à sua nova região, ou o regresso aos locais onde viveram no ano anterior.
Portanto, não me considero errado ao dizer que temos muito a aprender com aqueles que os nossos antepassados denominaram de «irracionais» e que são mais racionais do que muitos humanos, principalmente nos tempos actuais em que as normas éticas estão esquecidas e as pessoas não respeitam as outras e se concentram exageradamente nos smartfones.
António João Soares
3 de Julho de 2018
Publicada por A. João Soares à(s) 07:12 0 comentários
Etiquetas: irracionais, racionais
terça-feira, 3 de julho de 2018
REFUGIADOS. APOIAR SEM FUGA OU DEPOIS DELA
Refugiados. Apoiar sem fuga ou depois dela?
(Publicado no semanário O DIABO em 03-07-2018)
O problema de refugiados, migrantes ou imigrantes está a dar origem a opiniões diversas e a discussão dentro da União Europeia e não só. Além do problema humanitário, há receios ligados à segurança e há a preocupação sensata de investigar as situações por forma a encontrar soluções na origem que evitem a incomodidade das deslocações de famílias para ambientes estranhos muito diferentes dos da sua naturalidade.
Quanto a problemas de segurança, nesta época de terrorismo e violência, há quem recorde que o Império Romano caiu sob a insubordinação dos Godos cuja entrada no Império se deveu à boa vontade de um Imperador que, para suprir a pouca quantidade de jovens para o exército, facilitou a entrada dos refugiados Godos que tinham sido vencidos em luta com os Hunos, tendo-lhes fornecido barcaças para atravessarem o rio durante vários dias.
Actualmente, devido ao facto de os refugiados, em vez de procurarem adaptar-se à cultura e aos costumes do país que escolheram, quererem impor ao país acolhedor os seus hábitos de origem, gerando conflitos sociais, alguns de brutal violência como tem acontecido na Grã-Bretanha e em França, têm resultado situações de prevenção, como na China, na Austrália, na Áustria, na Itália, nos Estados Unidos, etc.
Perante este complexo problema social, as atitudes de caridade começam a ser ponderadas no sentido de ser mais favorável, para todos, adoptar soluções de melhoria da qualidade de vida nos países de origem, evitando aos migrantes o sacrifício da mudança e a sua exploração pelos traficantes que lhes vendem viagens por alto preço e grave risco de vida, como se tem verificado no Mediterrâneo.
Para a hipótese da solução nos países de origem será conveniente a actuação da ONU, na sua missão de manter a paz mundial e contribuir para a melhor qualidade de vida das populações. Segundo opiniões de pensadores responsáveis, esta solução seria mais justa, humana, prática e cómoda para as pessoas, que não teriam de sofrer as dificuldades da viagem nem da inserção numa sociedade com cultura, idioma e usos diferentes. Por outro lado, os países de destino, em vez da despesa dos apoios diversos a darem aos imigrantes, utilizariam as verbas directamente nos países de origem com a superintendência de adequado organismo da ONU. Tal solução seria útil para os necessitados de mudança, para o ambiente geral do seu país e para a humanidade em geral. Só seriam prejudicados os traficantes que incitam os mais indefesos a migrar, lhes cobram somas avultadas que compensam largamente os barcos velhos e inseguros que se perdem nos naufrágios, sem o mínimo respeito pelas vítimas de tais acidentes que lhes provocam.
Essa ajuda financeira, aplicada adequadamente para a redução da pobreza, para diminuir a desigualdade social que mina o potencial de crescimento e gera conflitos internos, altamente nocivos. e para o aumento de emprego através do desenvolvimento económico assente em quatro vectores: apoio à agricultura, que é o caminho mais rápido para a industrialização, apoio no desenvolvimento de clusters industriais e zonas económicas especiais, apoio no desenvolvimento de políticas industriais e apoio no financiamento das infraestruturas, como estradas, portos e logística. Isto seria baseado numa bem elaborada doutrinação conducente à eliminação da violência através de aperfeiçoar o bom entendimento, e na informação e análise do que tem funcionado bem e o que não funcionou, a fim de não repetir erros, com vista a investir correctamente na melhoria da qualidade de vida.
António João Soares
26 de Junho de 2018
Publicada por A. João Soares à(s) 07:26 0 comentários
Etiquetas: imigrantes, migrantes, refugiados