Em qualquer actividade, pública ou privada, é desejável uma previsão, tão precisa quanto a sua especificidade o permita, das circunstâncias mais prováveis com vista ao planeamento da utilização dos meios, à organização e programação de acções devidamente coordenadas e controladas, para atingir os fins previamente estabelecidos.
Mesmo nas actividades sazonais da agricultura, tal previsão e planeamento é indispensável, tendo em conta as condições meteorológicas esperadas e as menos favoráveis que possam ocorrer. O ditado diz que «homem prevenido vale por dois» e, para isso, é indispensável definir oportunamente o objectivo para o qual se deve orientar a preparação.
Não se pode nem deve cair em exageros para qualquer dos lados porque, por definição, os recursos são sempre escassos e têm que ser muito bem geridos.
Mesmo os bombeiros que, por condicionamentos próprios não podem planear a sua actividade, estando totalmente dependentes dos pedidos de socorro que receberem, têm necessidade de prever uma ordem de grandeza aproximada das tarefas a efectuar, a fim de estarem equipados para o desempenho dos serviços públicos que provavelmente lhes forem solicitados.
Porém, infelizmente, em várias áreas do Governo não se vê sinais de preocupação, na tomada de decisões, com os efeitos estratégicos das mesmas. Usa-se a estrita táctica do bombeiro que apenas raciocina em função de cada caso concreto. Agora aparece a notícia de o MAI ir ter o orçamento reforçado, não por haver uma estratégia para aumentar a segurança da população de forma sustentável, mas para satisfação das «promessas feitas às forças policiais». As associações profissionais pretendem ter «em conta os compromissos que têm vindo a ser assumidos pelo ministro relativamente às negociações de estatutos profissionais, progressão da carreira e objectivos operacionais» e consideram que «se não houver um reforço de 38 a 45 milhões de euros só para as condições definidas no estatuto, então fica tudo como no passado.»
Porém, não se fala na necessidade de formação e equipamento das forças de segurança para fazerem frente a novas formas de crimes violentos que já existem e outras que poderão surgir. Não se desenvolve uma visão de futuro, com as medidas mais adequadas. E as reivindicações pressionam para as decisões pontuais, sem perspectivas de «amanhã». Para que são esses milhões em termos de eficiência na garantia de segurança para a população? O que se pensa fazer com eles? Que necessidades bem definidas os justificam? Que novas tácticas? Demasiadas interrogações!
As decisões desenquadradas de uma visão de longo prazo, de um programa sustentável, dão muitas vezes lugar a recuos como temos visto em muitos ministérios, como na Saúde, Obras Públicas, Educação, etc. Os responsáveis terão a clara noção dos inconvenientes de vária ordem de uma hesitação, uma alteração da rota, uma paragem e um novo arranque? Quantos recursos vão por água abaixo devido a falta de utilização do método: estudo e analise; elaboração da lista de soluções possíveis e comparação destas, à procura da melhor; escolha desta ou decisão; organização dos meios e recursos; programação da acção; coordenação e controlo.
O respeito pelo dinheiro público e a alta responsabilidade de governar em benefício geral da população tornam indispensável a adopção de princípios de gestão correctos e experimentados por organizações mais experientes, nacionais ou estrangeiras.
O Papo-Seco (Crónica) - 4417 carateres
Há 25 minutos
6 comentários:
Caro amigo,
Que bom seria, se houvesse planeamento político exclusivamente racional! Só neste país de palhaçada eleitoralista é que se "planeia" para os votos...
Um abraço
Política de recursos humanos é coisa que não existe mesmo na função pública, só no papel mesmo! Hoje, com as directivas de poupança vigentes, as chefias exigem cada vez mais, com menos gente (mais velha) e sem se preocuparem com nada mais do que agradar a quem os nomeou, em busca dos prémios que nunca chegarão aos seus subordinados, porque esses são apenas carne para canhão.
Abraço do Zé
Jorge Borges,
Certamente, nem para os votos planeiam racionalmente, pois estão a ter resultado porque o povo anda adormecido e deixa-se lavar por caciques e oradores enfatuados mas de discurso sem bases realistas que abusam do seu estado de letargia, de coma induzido.
O mal desta partidocracia dominada por gente carente de valores de vária espécie, é o egoísmo de cada um se sobrepor aos verdadeiros interesses nacionais. Estes interesses não podem ser defendidos sem um planeamento racional, sem uma gestão, a todos os títulos, honesta.
O futuro não pode trazer melhores dias com tais processos de saque ao Estado.
Um abraço
João
Zé Povinho,
A política de recursos humanos está com a doença que descreve. E os recursos humanos são aquilo de mais precioso que existe, porque são o ponto de partida para todos os outros factores da gestão. Sem pessoas bem formadas e motivadas nenhuma empresa funciona com produtividade e eficiência.
Mas quanto aos outros recursos também não se vê uma gestão racional, com vistas largas para olhar o futuro dos interesses nacionais e considerar o desenvolvimento das condições de vida da generalidade da população como o objectivo principal de qualquer decisão devidamente integrada numa estratégia, sem hesitações nem paragens e avanços.
Abraço
João
Caro João,
Em gestão aprende-se a analisar, planear, executar e implementar.
Parece-me a mim que em Portugal saltamos o passo "planear". Analisamos muito, tudo e mais alguma coisa, em estudos e mais estudos. Executamos à pressa e em cima do joelho com medidas correctivas tipo "tapa buracos" e implementamos, mas mal porque não planeámos.
Planear significa elaborar um projecto com base na análise de dados actuais e anteriores, para que a execução e implementação tenha sucesso no futuro. E isto é que é importante: no futuro! E em Portugal não se pensa no futuro (vejam-se como exemplo as medidas de combate ao défice, que geraram resultados a curto prazo, mas hipotecaram o futuro da economia).
Abraço.
AP, Abordou os pontos fundamentais, A abundância de estudos é fictícia, porque não se trata de estudos para detectar qual a melhor solução para o problema a equacionar. A solução é ditada por um capricho do Dono da pasta que depois, para dourar a pílula, encomenda uns estudos para arranjar umas justificações com aspecto intelectual em defesa dessa «solução», e para dar dinheiro a uns «técnicos» amigos da Nomenklatura. Duvida? Repare nas centenas ou milhares de estudos de gente muito «competente» que defendia o aeroporto na Ota e os que depois o defenderam em Alcochete. Como podemos acreditar em tão imponentes intelectuais que vivem à sombra do orçamento?
Repare também nas sucessivas derrapagens nas obras públicas: Centro cultural de Belém, túnel ferroviário do Rossio, túnel do Metro no Terreiro do Paço, Casa da Música, Metro do Porto, etc., etc.
Quem foi o incompetente que planeou mal? Quem, foram os beneficiários, alem dos construtores?
Também não há inspectores competentes e honestos para controlarem a implementação das obras e impedirem a exploração do erário pelos construtores.
Como bem diz, em Portugal, não se pensa em futuro, em termos de estratégia e desta forma os escassos recursos esvaem-se sem deixar obra feita, sem criar bem estar para a população.
AbraçoJoão
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