Mão-de-obra imigrante mais necessária em 2008
Manuel Esteves
A necessidade de mão-de-obra estrangeira vai aumentar no próximo ano, segundo estimativas do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) inscritas num documento entregue aos parceiros sociais, a que o DN teve acesso. Mas porque razão é preciso recorrer a trabalhadores imigrantes quando há em Portugal cerca de 440 mil pessoas que não conseguem encontrar emprego? Porque os portugueses não estão disponíveis para desempenhar determinadas tarefas ou porque não reúnem os requisitos exigidos pelas empresas.
E mesmo com a entrada de imigrantes no País, todos os anos subsistem postos de trabalho que ninguém quer ocupar. Em 2006, por exemplo, o IEFP viu-se obrigado a anular 3101 ofertas de emprego por desajustamento dos candidatos ou porque estes simplesmente não existiam. Este número aumentou em 2007 para 3577 e, em 2008, será ainda mais elevado: o IEFP calcula que ficarão por satisfazer 3806 ofertas de emprego, o número mais elevado desde 2004 e 6,4% acima do registado este ano. (...)
NOTA: Se a imigração nem sempre é uma bênção, existem países dotados de acentuado grau de desenvolvimento que devem aquilo que são aos imigrantes a quem abriram as portas. Incluem-se na lista os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália, o Brasil e a Argentina, nos seus tempos áureos. Os imigrantes com capacidades profissionais úteis às estratégias de desenvolvimento do país de acolhimento, devidamente enquadrados em organizações económicas eficientes, constituíram factores insubstituíveis de crescimento. Ainda, há pouco tempo os EUA se declararam interessados em receber mais de duas centenas de engenheiros informáticos da Índia. A estratégia consistiu sempre em receber profissionais úteis e não pessoas indiscriminadas e sem especialização profissional; a selecção de candidatos a imigrantes foi criteriosa com vista aos interesses nacionais.
Portugal foi, durante séculos, fornecedor de mão-de-obra, país de emigrantes que, graças às organizações e ao enquadramento no destino, granjearam fama de trabalhadores eficientes e exemplares. Partiram com vontade de trabalhar e obter riqueza, o que na grande maioria dos casos conseguiram.
Nos anos mais recentes, Portugal tornou-se país de acolhimento para imigrantes de várias origens que em grande parte vêem preencher necessidades de mão-de-obra principalmente nas obras públicas e na construção civil. As nossas necessidades de imigrantes devem-se em grande parte a não existir vontade dos jovens em trabalhar em actividades «não condizentes com a formação escolar adquirida»(!) e também à inexistência e escolas técnicas que formem jovens para satisfazer as ofertas de emprego nas actividades necessárias da economia. Há muita gente que prefere viver à sombra os subsídios do que sujeitar-se aos horários e às tarefas do trabalho.
Mas a nossa deficiente organização e enquadramento dos imigrantes não permite que do seu trabalho tenha resultado um surto de desenvolvimento semelhante ao verificado nos países atrás referidos. E o aspecto mais negativo assenta na falta de estratégia para a imigração de que tem resultado a prostituição, com tráfego de mulheres utilizadas nas «casas de alterne» e, não menos grave, a quantidade de mendigos, incluindo mulheres e crianças que infestam as cidades. Nalguns casos, a mendicidade surge de tal forma organizada que mais parece uma actividade «industrial» para transferência de fundos. E, sendo Portugal um dos países mais pobres da Europa, não pode nem deve ignorar os seus muitos pobres (muitos sem coragem para mendigar – a pobreza envergonhada) e orientar a sua generosidade para pessoas desconhecidas cuja vida e necessidades são verdadeiras incógnitas.
E, para mais, sendo Portugal visitado por grande quantidade de turistas, não deve apresentar a estes os espectáculos pouco edificantes, com actores estrangeiros, que se vêm na baixa lisboeta e nos transportes públicos. O conceito internacional de Portugal sai bastante degradado devido às imagens que os turistas levam na retina e nas máquinas fotográficas e de vídeo, o que não é nada favorável a um país que deposita grande esperança no turismo como fonte de divisas.
Como é dito em «emigração e migração», os tempos que vivemos são de mudanças várias; o mundo sempre mudou, dependendo do ponto de vista, nem sempre para melhor, com mudanças céleres ou lentas, de acordo com circunstâncias várias. O actual, mundo, muda à velocidade, de um clique, em função do preço do Brent ou da seca inexorável que se abate sobre várias regiões do planeta.
A nossa experiência de migração é uma das gestas mais bem sucedidas da nossa história, e arrisco a dizer que, mais do que as descobertas, é a nossa migração que nos engrandece, porque aquelas acabaram há muito, e os Portugueses continuam a partir à procura de melhor vida. O segredo do sucesso dos nossos emigrantes, assenta sobretudo, no trabalho, no respeito pela terra que os acolhe e pelas próprias raízes.
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